Montenegro diz que a Madeira não é os Açores e aponta à maioria absoluta nas eleições regionais

Líder do PSD acredita que a situação política açoriana não vai contaminar outros actos eleitorais.

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Luis Montenegro evitou qualquer "contaminação" da crise açoriana sobre as regionais da Madeira LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Caniçal, Machico. Do edifício do Centro Internacional de Negócios da Madeira, abre-se uma panorâmica sobre o mar, um imenso manto azul aconchegado pelo sol que reluz na ilha. Cá fora, o presidente do Governo da Madeira e restante comitiva aguardam o líder nacional do PSD.

“Vamos aqui mostrar o nosso sucesso”, diz Miguel Albuquerque quando Luís Montenegro chega ao local, convidando-a a entrar no edifício. O sucesso que Albuquerque aludia era, sobretudo, económico, mas bem podia ser político: o PSD governa a região há 47 anos e Albuquerque, a cumprir o segundo mandato, é o favorito a vencer as eleições regionais deste ano, que se deverão realizar em Setembro ou Outubro.

Na outra região autónoma, contudo, o sol é (quase) sempre de pouca dura. Nos Açores o clima é de imprevisibilidade, seja por vicissitudes meteorológicas, quer pelo contexto político. Sobretudo nos dias que correm: Luís Montenegro foi à Madeira participar nas jornadas interparlamentares do partido, que reúnem deputados regionais e eurodeputados, numa altura em que o Governo dos Açores, liderado pelo PSD, está envolvido numa crise política após a Iniciativa Liberal (IL) ter rompido o acordo de incidência parlamentar. O executivo açoriano de Bolieiro integra ainda o CDS-PP e o PPM e só tem maioria no parlamento com o suporte de Chega, IL e deputado independente, eleito pelo Chega, que também quebrou o acordo com o governo.

“Se há coisa que eu não vou fazer na Madeira é falar da situação política dos Açores”, afirmou Montenegro à comunicação social, logo na primeira ocasião. Após a insistência dos jornalistas, o líder ‘laranja’ rejeitou que a turbulência política açoriana contamine as eleições regionais da Madeira.

“A situação da Madeira é contaminada pela capacidade reformista e transformadora do governo regional. Como esta é evidente, e ainda por cima faz comparação com uma perfeita ineficiência e inconsistência da oposição, só posso estar optimista”, afirmou, corroborado por Miguel Albuquerque, que ao seu lado acenava com a cabeça em sinal de concordância.

Quando em 2020 o PSD-Açores federou a direita, chamando a IL e o Chega para o arco da governação para terminar com 24 anos de poder socialista na região, o arquipélago foi tido como um laboratório político. Numa altura em que o laboratório dá sinais de instabilidade, Montenegro rejeita efeitos no ciclo eleitoral que se avizinha, que começa com as regionais da Madeira, seguindo-se em 2024 as eleições para o Parlamento Europeu e as regionais dos Açores, a seguir as autárquicas em 2025. Trata-se do caminho decisivo até às legislativas de 2026.

“As ilações a tirar são que o PSD-Madeira continuará a oferecer ao PSD nacional bons resultados e sobretudo boas políticas”, prosseguiu Montenegro, quando questionado sobre as ilações a retirar da situação política açoriana para o país.

Nos Açores, para já, os partidos estão na expectativa. Estando os deputados únicos impedidos de apresentar moções de censura, a bola está do lado do PS e do BE, até porque o Representante da República já revelou, via fonte oficial à Lusa, que vai deixar o parlamento “prosseguir os seus trabalhos”. Os socialistas açorianos têm esta noite uma reunião do secretariado regional (que não foi divulgada oficialmente) para avaliar a situação, mas o governo açoriano já encara o Orçamento da região para 2024, que há-de ser discutido em Novembro, como o momento decisivo.

Até lá, existe a possibilidade de o executivo açoriano arrastar-se num clima de instabilidade. A prudência com que Montenegro mediu as palavras e a determinação em não comentar a situação política dos Açores revelam o cuidado com que o PSD está a lidar com a situação.

Pelo contrário, o líder nacional puxou pela Madeira, o eterno bastião ‘laranja’, vincando a “confiança muito grande” em Miguel Albuquerque e fixando objectivos para o próximo sufrágio regional. “Não conto com outra coisa que não seja um apoio massivo dos eleitores madeirenses ao trabalho que tem sido conduzido por ele e pelo PSD e, por via disso, a conquista de uma maioria absoluta no parlamento regional” – actualmente o PSD só tem a maioria na Assembleia da Madeira com o apoio do CDS-PP.

Sobre se a IL e Chega são parceiros confiáveis para o partido, Montenegro voltou a não fugir do tom: “O PSD é o partido mais confiável que há de longe no país e na região autónoma da Madeira. Quem é confiável somos nós”. E nada de Açores. Pelo meio, Montenegro ainda comentou outras questões nacionais, manifestando apoio à decisão da ASAE em aumentar a fiscalização da especulação e não revelando se espera um respaldo ou uma reprimenda do Presidente da República (PR) na entrevista ao PÚBLICO/RTP – “o destinatário da minha acção são os portugueses, não é o PR”.

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