“Não fui feliz.” Bispo José Ornelas faz mea culpa

Presidente da Conferência Episcopal assume que não conseguiu “passar aquilo que levava para dizer” na conferência de imprensa de reação ao relatório sobre os abusos sexuais de menores na Igreja.

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O bispo José Ornelas preside à Conferência Episcopal Portuguesa Adriano Miranda

É um mea culpa sem grandes rodeios. O bispo José Ornelas, que preside à Conferência Episcopal Portuguesa, assume que a conferência de imprensa da semana passada, em que os bispos portugueses analisaram o relatório final da comissão independente que investigou os casos de abuso sexual de menores no seio da Igreja Católica nacional, “não correu bem”.

Numa antecipação de uma entrevista ao semanário Expresso que é publicada esta quinta-feira – a conversa, na íntegra, será editada no dia seguinte –, Ornelas afirma que o dia da conferência de imprensa “não foi fácil, não foi adequado”. “E eu também não fui feliz”, acrescenta.

“Não correu bem e eu assumo. Assumo que não consegui passar aquilo que eu levava para dizer”, diz também o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa na mesma entrevista.

José Ornelas não é o único responsável católico a fazer um acto de contrição pela forma como a Igreja comunicou publicamente no rescaldo do relatório da comissão independente. Em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, publicada esta quinta-feira, o bispo de Évora, Francisco Senra Coelho, usa uma expressão semelhante à do presidente da Conferência Episcopal: “É evidente que não correu bem”.

Diz ainda o bispo de Évora: “O termómetro mais fiel é o público a quem se dirige uma conferência de imprensa. Da parte dos bispos, havia o desejo absoluto e todo o interesse que a mensagem fosse recebida com empatia, com sentido de resposta, como uma forma de a sociedade compreender a nossa preocupação real. Mas, assim não foi. A mensagem não passou ou pela maneira de comunicar ou pela própria formulação de conteúdos.”

Na conferência de imprensa de sexta-feira, foi anunciada a criação de uma comissão para dar continuidade ao trabalho da equipa liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht (que estimou em perto de cinco mil as crianças abusadas dentro da Igreja desde 1950 até à actualidade) e que a Igreja vai erguer um memorial às vítimas.

No entanto, a hierarquia da Igreja não anunciou nenhuma das medidas que eram exigidas por vários sectores católicos: nem afastamento imediato dos padres abusadores e dos bispos que os tenham encoberto nem predisposição para indemnizar financeiramente as vítimas. A conferência de imprensa ia a pouco mais de meio e já o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa estava a ser chamado a reagir à desilusão de quem viu na reacção da Igreja aos abusos sexuais “uma mão cheia de nada”.

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