Ai Weiwei será director do PÚBLICO no seu 33.º aniversário

A duplicidade da Vida e Morte foi o mote escolhido pelo artista chinês para a edição do PÚBLICO de 5 de Março.

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Uma equipa do PÚBLICO tem vindo a discutir com Ai Weiwei, nas últimas semanas, os temas da edição impressa e digital do dia de aniversário do jornal Rui Gaudêncio

O artista e activista chinês Ai Weiwei vai ser o director do PÚBLICO no dia do 33.º aniversário do jornal, que se celebra a 5 de Março. Uma equipa do PÚBLICO tem vindo a discutir com Ai Weiwei, nas últimas semanas, os temas da edição impressa e digital desse dia, que terão como mote a duplicidade da Vida e Morte.

Esta edição especial parte de dez perguntas de Ai Weiwei, que resultaram dessas conversas de preparação — o que são os direitos humanos? Qual é a importância de protestar? Podemos sobreviver às guerras? Pode a arte sobreviver à decoração? O desafio da redacção do PÚBLICO é dar-lhes respostas nos seus diferentes suportes de leitura.

A intervenção do artista chinês nas páginas online e impressas do PÚBLICO irá ainda mais longe. Ai Weiwei, na sua função de director por um dia, vai assinar o editorial desse dia, escolher as fotografias desses dez grandes trabalhos e, entre outras intervenções, entrevistar-se a si próprio.

Questões como a liberdade de expressão ou os direitos humanos são questões fulcrais na obra do artista chinês, que conheceu várias facetas da repressão do regime de Pequim — Weiwei esteve detido durante 81 dias sob vigilância 24 horas por dia. Todo o seu trabalho tem um cunho político. Toda a sua vida reflecte a política.

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“A liberdade de expressão implica que o mundo não esteja definido. Só faz sentido quando se permite que as pessoas possam ver o mundo à sua maneira”, escreveu o artista no livro Weiwei-ismos, na versão portuguesa publicada pela Everything is New, paralelamente à exposição Rapture, que esteve patente em 2021 na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

Ai Weiwei reflecte sobre os grandes problemas da contemporaneidade, da crise dos migrantes ao drama dos rohingyas. “A vida é arte, a arte é vida”, como diz. O artista já teve várias colaborações com a imprensa internacional. Foi, nomeadamente, autor de uma famosa capa da revista Time e assinou vários textos de opinião em publicações como The New York Times. Esta é a sua primeira colaboração com um órgão de comunicação português.

“Sinto-me honrado pelo convite para ser director do jornal”, afirmou ao PÚBLICO. “Aceitei-o por duas razões: primeiro, penso que a livre expressão deveria ser a manifestação dos atributos da vida em todos os momentos e em todos os lugares. É para mim o atributo mais natural como artista. A segunda razão é que a vida é medida em função do tempo, pelo que a publicação de um dia é tão importante como a publicação de um ano, na minha opinião.”

A contagem decrescente para esse domingo de aniversário começa seis dias antes, com a publicação diária de seis grandes entrevistas com figuras de relevo sobre direitos humanos, para nos ajudar a reflectir sobre o momento presente da luta por essa defesa. A 21 de Março, o PÚBLICO organiza uma conferência, no Centro Cultural de Belém, sobre direitos e liberdades, com dois ângulos relacionados com estes temas: Portugal, direitos humanos — da resistência ao futuro e Sem visibilidade não há direitos humanos?

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Além da conferência, os leitores poderão assistir a vários workshops sobre jornalismo e activismo, questões de género, a defesa do planeta, activismo e direitos, linguagem inclusiva e como fazer uma organização não-governamental. A entrada é livre — será apenas necessário efectuar uma inscrição online, que estará disponível em breve.

Protesto e activismo

Ai Weiwei nasceu em Pequim em 1957 e viveu as agruras do exílio do pai, o poeta Ai Qing, no Noroeste da China, no auge da Revolução Cultural de Mao. Regressou à capital chinesa em 1976, inscreveu-se na academia de cinema da capital e integrou vários movimentos culturais na fase política após a morte de Mao. Em 1981 partiu para os Estados Unidos, onde viveu até 1993. Nesse ano, regressou à China por causa do frágil estado de saúde do seu pai. Em 2005, o artista começou a usar a Internet e acentuou a sua faceta de activista político, pronunciando-se sobre questões como direitos humanos e liberdade de expressão

A par do activismo, o reconhecimento da sua arte foi crescendo mundialmente, abrindo-lhe espaços em alguns dos mais relevantes museus internacionais. O seu filme Human Flow, em 2017, sobre a crise dos refugiados, foi mundialmente consagrado. O seu livro de memórias 100 Anos de Alegrias e Tristezas, lançado em Portugal em Dezembro de 2021 pela Penguin, é um testemunho das várias fases que explicam a China de hoje e que é, também, um apelo à necessidade urgente de protecção da liberdade de expressão.

Ai Weiwei vive actualmente em Montemor-o-Novo. Numa entrevista ao PÚBLICO em 2020, alertava para os perigos do expansionismo chinês que cristalizou numa frase de aviso: “Vocês já estão infectados.” A inauguração da sua grande exposição na Cordoaria Nacional, em 2021, foi marcada por uma saudação especial do artista: “Bem-vindos ao meu país, Portugal.”

Notícia alterada às 12h13, com a correcção da data da conferência do aniversário

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