Como te podes manter quente ao trabalhar em casa (sem ligar o aquecimento)

Se estás a trabalhar a partir de casa é possível que o teu espaço de trabalho esteja cada vez mais frio. Com o aquecimento a sair tão caro, há vários métodos que podes adoptar para te manteres quente.

Foto
Como te manteres quente em teletrabalho Andrea Piacquadio

Se estás a trabalhar a partir de casa a tempo inteiro ou parcial, é muito provável que o teu espaço de trabalho esteja a ficar cada vez mais frio à medida que o Inverno se aproxima. Mas com o gás e a electricidade tão caros, ter o aquecimento ligado o dia todo não é uma opção sustentável. Então, o que podemos fazer para nos mantermos quentes?

Em termos evolucionários, nós somos animais tropicais: quando estamos nus e em repouso, estamos mais confortáveis numa temperatura que ronda os 28°C, com uma temperatura média da superfície da pele de 33°C. Mas para sobreviver e funcionar normalmente, devemos manter uma temperatura corporal interna de 37°C. Este processo (termorregulação) pressupõe que o corpo sinta a temperatura – temos sensores abaixo da superfície da pele, bem como em tecidos mais profundos como o cérebro – e depois adapte a produção, ganho e perda de calor.

Numa sala fria, os receptores de frio da pele são os primeiros a serem estimulados e fazem com que os vasos sanguíneos da pele se contraiam, redireccionando sangue quente para baixo da camada isolante de gordura que temos logo abaixo da pele. Como as mãos e os pés dependem da circulação sanguínea para se manterem quentes e funcionais e têm pouca gordura, arrefecem rapidamente. Assim, numa sala fria, as primeiras partes do nosso corpo a sentir o frio são as extremidades: os dedos das mãos e dos pés.

Se o arrefecimento continuar, os nervos superficiais, músculos e articulações (especialmente dos braços) podem ficar prejudicados, o que significa que a destreza, velocidade de movimento e sensibilidade ao toque são afectadas. Isto pode tornar tarefas como escrever e enviar mensagens mais difíceis, lentas e propensas a erro. A eficiência do trabalho pode ser ainda mais prejudicada pela distracção de sentir frio.

As soluções

A primeira tarefa é fazer o sangue circular até às extremidades para as manter quentes. A melhor maneira de fazer isso é mantendo (ou aumentando) a nossa temperatura corporal.

Não há necessidade de aquecer uma casa ou uma divisão inteira. É mais eficiente aqueceres-te e isso começa com usar a roupa apropriada.

Peças de roupa como camisolas de lã e leggings retêm milhões de bolsas de ar que proporcionam isolamento. Roupa térmica também é uma óptima opção, mas várias camadas de roupa normal também funcionam. Se estiveres sentado, uma manta ou cobertor por cima das pernas e cinta pode ajudar. Acrescenta uma garrafa de água quente por baixo ou usa um cobertor eléctrico se preferires. Lembra-te: aquecer a pessoa e não a casa é muito mais barato.

Como a temperatura das mãos e pés é o que domina a percepção geral do desconforto térmico, focar nestas áreas é o principal. Pensa em meias térmicas, chinelos e luvas sem dedos. Colocar as mãos nas axilas enquanto não estás a escrever também pode ajudar. Se estiveres disposto a gastar dinheiro, luvas e chinelos aquecidos também podem ser uma opção.

Como dizem os alpinistas, “se queres manter as mãos quentes, usa um chapéu.” Os vasos sanguíneos do couro cabeludo não se contraem tanto com o frio, o que significa que o calor pode ser perdido pela cabeça. Assim, vale a pena ter um chapéu na mesa de trabalho. O calor também se pode perder à medida que sobe por baixo da roupa e sai pelo pescoço, portanto usar um cachecol ou uma gola também ajuda.

Também podes querer tentar exercício físico. Cerca de três quartos da energia usada em exercício saem como calor, então apenas subir e descer o degrau de uma escada pode gerar 100 watts de aquecimento e aumenta a temperatura do corpo em alguns minutos. Um curto período de exercício de vez em quando pode fazer uma grande diferença no conforto térmico e também é bom para a saúde em geral.

Outras dicas

  • Manteres-te hidratado é importante para garantir o fluxo sanguíneo para as extremidades. Não precisas de beber muito, mas o suficiente se estiveres com sede. As bebidas quentes são definitivamente reconfortantes e fazem sentir-te “mais quente”, mas, na verdade, não afectam a tua temperatura interna, ou não o fazem por muito tempo.
  • Tens de comer as calorias suficientes para as queimar e produzir calor. A maioria de nós come mais do que o suficiente e não é necessário comer algo a mais, a não ser que estejas doente ou desnutrido por outros motivos
  • Os nossos receptores de frio são muito sensíveis a mudanças de temperatura, então correntes de ar podem-nos fazer sentir frio desproporcionalmente – e também desperdiçar energia e dinheiro. Usa bloqueadores de correntes de ar na porta. Certifica-te que a perda de calor à tua volta e através das janelas é minimizada. Confirma que, por exemplo, o sótão está bem isolado. Além disso, como os pés frios causam desconforto térmico, mantê-los longe do chão e de correntes de ar também ajuda.
  • O stress também pode reduzir o fluxo sanguíneo para a pele, fazendo com que sintas mais frio, então tenta evitar o stress ao trabalhar a partir de casa (se puderes). Ou mata dois coelhos com uma cajadada só: se te sentires stressado, afasta-te da mesa de trabalho e faz alguns minutos de exercício. Podes até pôr o gorro, o cachecol e o casaco e ir dar uma caminhada rápida pelo quarteirão, o que deve ajudar a clarear as ideias e a aquecer.
  • Podes verificar a temperatura dos teus dedos ao tocar com eles nos lábios. Se os teus dedos estiverem quentes quando em contacto com os lábios, eles estão a receber fluxo sanguíneo. Se estiverem frios, é preciso fazer algo para os aquecer.
  • Se estiveres a usar aquecimento, se possível, aquece a sala em que estás ao invés da casa toda. Diminuir o termóstato em 1°C, de 20°C para 19°C, pode economizar até 10% em custos de energia por ano e mais irás poupar se reduzir a temperatura para o nível mínimo recomendado de 18°C.

Exclusivo P3/The Conversation
Mike Tipton é professor de Psicologia Humana Aplicada, Universidade de Portsmouth
Hugh Montgomery é professor de Cuidados Médicos intensivos, UCL

Sugerir correcção
Ler 11 comentários