Golos de Richarlison e lesão de Neymar levam política do Brasil ao Mundial

Apoiantes da selecção brasileira vêem disputa entre Bolsonaro e Lula na partida de estreia no Qatar.

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Neymar saiu de campo com o tornozelo magoado Ronald Wittek/EPA

O atacante Richarlison, responsável pelos dois golos do Brasil na vitória contra a Sérvia, tornou-se o principal assunto dos apoiantes brasileiros após o jogo de estreia desta quinta-feira, no Mundial do Qatar. Não só por um dos seus golos, já candidato a um dos mais belos do torneio, mas também pela sua actuação política em contraponto com a de Neymar, companheiro na ala ofensiva da selecção.

Enquanto Richarlison se notabilizou por apoiar a luta contra o racismo, as causas ambientais e a vacinação contra a covid-19, Neymar, que saiu de campo com um tornozelo magoado, participou numa live de apoio a Jair Bolsonaro. O ainda presidente brasileiro, derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de Outubro, é criticado por ser conivente com a violência policial e o desmatamento e por posturas negacionistas durante a pandemia.

O site Globo Esporte lembrou que, na Copa América, em 2021, Richarlison leiloou as chuteiras que usou no relvado em prol de pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) contra a covid-19. Também apelou a que a população se vacinasse contra a doença, que causou mais de 650 mil mortes no Brasil.

Em Maio de 2020, o jogador do Tottenham manifestou-se contra o racismo numa publicação no Instagram, lamentando as mortes de George Floyd, nos Estados Unidos, e de João Pedro, de 14 anos, no Rio de Janeiro, em operações policiais violentas.

No campo político oposto, embora lado a lado na selecção brasileira, está Neymar. A principal estrela da equipa foi duramente marcada pelos jogadores sérvios e saiu de campo sem um golo e contundido. A situação, ainda que preocupante para os apoiantes da selecção brasileira, serviu para o site satírico Sensacionalista relembrar uma das reacções de Bolsonaro durante a pandemia. Questionado sobre o número crescente de mortes por covid-19, o presidente respondeu: “E daí, eu não sou coveiro.” A conduta de Bolsonaro, que envolveu campanhas contra o isolamento social e atraso para a compra de vacinas, chegou a ser alvo de uma comissão de inquérito no Congresso brasileiro.

A reacção em relação às estrelas da equipa nacional é mais um sintoma da polarização política do Brasil. Como as camisolas amarelas e as bandeiras do país se tornaram símbolos das manifestações de apoio a Jair Bolsonaro, muitas pessoas sentem-se constrangidas ao usá-las.

Enquanto ainda há pessoas trajadas com as cores nacionais em frente aos quartéis brasileiros, a pedir intervenção militar, muitos recorrem ao segundo uniforme, azul, para não serem confundidas com bolsonaristas. Também há bandeiras em que o dístico “Ordem e Progresso” foi trocado por “É pra Copa”, para esclarecer a quem se dirige a torcida. Há ainda camisolas amarelas com o número 13, em referência a Lula, e com uma estrela vermelha, símbolo do Partido dos Trabalhadores.

Desde a derrota eleitoral, Bolsonaro fez poucas aparições públicas. Numa delas, pediu o desbloqueio das estradas, mas manteve apoio às manifestações que questionam o resultado das urnas. Lula, que visitou Portugal, fez uma publicação em que diz que a tradicional camisola representa os 215 milhões de brasileiros.

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