Hervé Renard, a “raposa” francesa que ajoelhou a Argentina e África celebrizou

O treinador francês conquistou duas Taças das Nações Africanas, com a Zâmbia e Costa do Marfim, e já fez história com a Arábia Saudita.

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Hervé Renard, seleccionador da Arábia Saudita Reuters/HANNAH MCKAY

O principal responsável pela enorme surpresa deste início do Mundial 2022, chama-se Hervé Renard. Foi ele o treinador que montou a estratégia com que a Arábia Saudita venceu a favorita Argentina, num encontro que entra para a história dos Mundiais. Mas se olharmos ao seu nome (raposa em francês) ou ao seu currículo, poucos se podem surpreender.

Hervé Renard nasceu em Aix-les-Bains há 54 anos, a mesma idade de Didier Deschamps, o único outro treinador francês neste Mundial e ao lado de quem jogou na selecção de juvenis de França, em 1984. Só que, ao contrário do responsável da equipa principal francesa, Renard não vingou como futebolista profissional; disputou somente um encontro na primeira divisão, pelo AS Cannes, antes de decidir ir tirar o curso de treinador.

Apesar da falta de contacto com treinadores em grandes equipas, dois marcaram-no, quando ainda jogava nas camadas jovens do Cannes: Guy Lacombe e Jean Fernandez. Este último aconselhou-o a tomar notas de várias coisas e Renard encheu o seu caderno de frases de jogadores e, sobretudo, de treinadores.

Se a vocação para dirigir uma equipa de futebol apareceu cedo, nem por isso foi fácil o percurso de Renard, que admite ser a perseverança a sua principal qualidade.

“Ter uma abertura de espírito é muito mais importante. É preciso saber sempre que há outros lugares, outras formas de viver, de pensar, de educar… enriqueci humanamente”, garantiu ao jornal L’Équipe.

A primeira presença num “banco” foi em 1999, no SC Draguignan, clube do campeonato amador onde terminou a carreira de jogador, e manteve-se até que Claude Le Roy, que viria a ser o seu mentor, o chamou para adjunto na equipa chinesa do Beijing Renhe. Após uma passagem pelo Vietname, voltou a reunir-se com Le Roy no Cambridge United (Inglaterra), onde acabou por assumir o cargo principal. Regressou a França, para dirigir o AS Cherbourg durante duas épocas, antes de Le Roy o chamar para co-treinar o Gana, que terminou a CAN de 2008 no terceiro lugar.

Surgiu então a Zâmbia que, a conselho de Le Roy, o convida para treinador, mas uma vitória em sete jogos, afastaram-no. Passou por Angola e Argélia (USM Alger), antes de voltar à Zâmbia, selecção que levou ao triunfo na CAN de 2012. A camisa branca fora das calças passou então a ser uma imagem de marca.

Na época de 2013/14, regressou a França para dirigir o Sochaux, antes de regressar ao continente africano, para, em 2015, repetir o feito na CAN, à frente da Costa do Marfim, sendo o primeiro treinador a conquistar a prova com selecções diferentes.

Após nova passagem pelo campeonato francês, mal-sucedida no comando do Lille, Renard ocupou-se, em 2016, da selecção de Marrocos, que dirigiu no Mundial 2018. No ano seguinte, chegou à Arábia Saudita com um contrato de dois anos, mas, em Maio, depois de qualificar a selecção para o Mundial no Qatar, Renard prolongou a sua ligação até 2027.

O percurso de Renard e Deschamps até coincidirem no Mundial 2022 foi diferente, mas os dois poderão defrontar-se nos oitavos-de-final. “Assino já”, ironizou Renard, um adepto da corrida, “para esvaziar a mente”.

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