Algumas polémicas depois, Laurinda Alves dá lugar a Sofia Athayde na Câmara de Lisboa

Laurinda Alves será substituída pela centrista Sofia Athayde, que toma posse a 9 de Novembro. Não são conhecidos para já os pelouros com que ficará.

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A vereadora Laurinda Alves numa reunião do executivo Nuno Ferreira Santos

A vereadora Sofia Athayde, que vai substituir Laurinda Alves no executivo liderado por Carlos Moedas, tomará posse no próximo dia 9 de Novembro, segundo apurou o PÚBLICO junto de fonte do município. Na noite de domingo, a Câmara de Lisboa anunciou a renúncia da vereadora com o pelouro dos Direitos Humanos e Sociais por “razões de saúde e imperativos clínicos”. A sua passagem pela autarquia não foi isenta de alguma crítica.

Laurinda Alves, de 60 anos, foi eleita como independente pela Coligação Novos Tempos (PSD-CDS/PP-MPT-PPM-Aliança), que pôs fim a 14 anos de governação socialista na câmara da capital. Enquanto esteve no executivo de Carlos Moedas, Laurinda Alves tinha a seu cargo os pelouros dos Direitos Humanos e Sociais, Cidadania, Juventude, Saúde, Relação com o Munícipe, na qual tinha pastas difíceis como a gestão do Plano Municipal para as Pessoas em Situação de Sem Abrigo e a organização da Jornada Mundial da Juventude.

Foi ainda a responsável pela montagem do centro de acolhimento temporário para refugiados ucranianos, que funcionou num pavilhão desportivo em Campolide, assim como o lançamento do programa Vsi Tut – Todos Aqui, aprovado pelo executivo, para a integração dos refugiados ucranianos.

Entra agora em cena a centrista Sofia Athayde, de 44 anos, para quem a vida autárquica não é propriamente uma novidade. Além de vereadora em regime de substituição, é autarca na freguesia da Estrela. Foi também vogal na Assembleia de Freguesia da Lapa e secretária da mesa da Assembleia de Freguesia da Estrela.

A nova vereadora dos Direitos Humanos e Sociais está há muito ligada ao CDS-PP. Ocupou também vários cargos de destaque dentro do partido, tendo sido secretária da mesa do conselho nacional do CDS de 2008 a 2019 e vice-presidente da Juventude Popular. Actualmente é vogal da comissão política concelhia de Lisboa do CDS.

De acordo com a sua biografia publicada no site desta junta de freguesia, é psicóloga clínica, com uma especialização em Bioética na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Com esta alteração, o CDS sai reforçado na coligação Novos Tempos, que passa assim a ter três vereadores do PSD, três do CDS e uma independente.

Não se sabe ainda com que pelouros ficará Sofia Athayde, que o PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar.

Esta mudança ocorre numa altura em que a população está a enfrentar uma crescente necessidade de apoio decorrente da escalada da inflação e do aumento generalizado dos preços de bens e serviços e em que, nas ruas, se sente já um aumento dos pedidos de ajuda alimentar.

Do Rock in Rio à marcha

Neste ano de mandato, Laurinda Alves, que termina agora funções, passou por algumas polémicas, que motivaram um coro de críticas entre a oposição e a sociedade civil. Um dos casos teve que ver com as declarações que proferiu numa sessão plenária da Assembleia Municipal de Lisboa, em Junho passado, sobre a decisão de não terem sido oferecidos bilhetes para o festival Rock in Rio a pessoas em situação de sem abrigo, com o argumento de que estariam expostos a consumos de álcool e de drogas. “Ficava complicado, nomeadamente porque há situações de consumos e que poderíamos estar a potenciar”, disse então a vereadora.

E ainda a organização de uma marcha para marcar o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, a 17 de Outubro, e de um email que fez chegar às juntas de freguesia, em que sugeria que estas identificassem as “pessoas de maior vulnerabilidade social” e as informassem da realização de um “piquenique” e numa “caminhada/marcha” pela cidade, inserida na comemoração deste dia. O teor do email foi duramente criticado por quem considerou tratar-se de uma exposição abusiva das pessoas nesta situação de vulnerabilidade. Laurinda Alves considerou tratar-se de um “vergonhoso aproveitamento político sobre um tema que a todos devia unir”.

A vereadora Laurinda Alves teve ainda nas mãos a responsabilidade pelo pelouro da organização da Jornada Mundial da Juventude que, no entanto, passou para o vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia, no Verão, o que foi visto por alguns como um afastamento da autarca. Na altura, ambos os eleitos rejeitaram qualquer mal-estar, com Laurinda Alves a assumir que foi a própria a pedir “insistentemente que a equipa fosse reforçada e transversalizada para outros pelouros”.

Na nota de imprensa em que anuncia a sua renúncia, afirma, citada pela Lusa, ter dado “tudo o que tinha, e muitas vezes o que não tinha”, nas áreas dos direitos humanos, no apoio às pessoas em situação de sem abrigo, aos refugiados e à juventude, deixando ainda uma palavra de apreço ao presidente, Carlos Moedas (PSD), ao vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia (CDS), e a todos os vereadores dos Novos Tempos, que “sempre [a] valorizaram e nunca deixaram de [a] apoiar nos momentos mais difíceis”.

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