Rui Pinto: “O crime, mesmo com boas intenções, não compensa. Não voltaria a fazer o que fiz”

Autor do Football Leaks fala esta segunda-feira em tribunal, dois anos após o início do julgamento.

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Rui Pinto está a falar nesta segunda-feira em tribunal Rui Gaudêncio

O pirata informático Rui Pinto mostrou, esta segunda-feira, arrependimento por ter acedido ilegalmente aos ficheiros de várias empresas e entidades, apesar de enaltecer a importância que as investigações como o Football Leaks e o Luanda Leaks tiveram para a investigação de crimes. E revelou que está a ajudar os serviços secretos ucranianos, juntamente com alguns amigos.

“Foram cometidos erros de julgamento meus. Até pela declaração de várias testemunhas, é inequívoco que as revelações trouxeram vantagem para a sociedade. Este processo permitiu-me aprender uma lição muito importante: o crime, mesmo com boas intenções, não compensa. Sabendo o que sei hoje, não voltaria a fazer o que fiz”, declarou esta segunda-feira no seu julgamento no Campus da Justiça, em Lisboa. “Este agora é o meu caminho, fazer tudo dentro da lei”, resumiu Rui Pinto, acrescentando que toda a informação que tem passado aos serviços secretos da Ucrânia foi recolhida em fontes abertas, e não através de pirataria informática.

Também contou como o Football Leaks começou após um encontro com um grupo de amigos em Praga, rejeitando ter sido o autor dos primeiros ataques informáticos que permitiram recolher informações sobre clubes e outras entidades do mundo do futebol. Questionado pelos juízes, recusou adiantar mais detalhes sobre os alegados colaboradores.

“Quem fez esses acessos iniciais – ainda antes de pensar na ideia de criar a página Football Leaks – não fui eu. Mas a informação foi partilhada comigo. Naquela altura havia práticas duvidosas de fundos de investimento”, explicou Rui Pinto, respondendo às perguntas do colectivo de juízes. O hacker esteve preso em Budapeste entre Janeiro e Março de 2019, primeiro em prisão domiciliária e depois duas semanas na cadeia, em preventiva, enquanto os seus advogados tentavam evitar a extradição para Portugal — o que acabaram por não conseguir.

Em Março desse ano, quando soube que iria ser extraditado contra a sua vontade, garantiu não estar arrependido. “Faria tudo outra vez. Fiz o que tinha a fazer”, declarou aos jornalistas. Apesar de se assumir como portista, negou estar ao serviço deste clube.

Nesta segunda-feira em tribunal, o pirata informático destacou a atenção dada pelas autoridades francesas às suas revelações. Rui Pinto está actualmente num programa de protecção de testemunhas e em colaboração com a Polícia Judiciária. “As autoridades francesas têm mostrado um grande desejo sistemático de contar comigo e a minha ajuda. Ainda há pouco tempo esteve cá um procurador e quatro inspectores”.

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