Unidades de AVC estão mal distribuídas e têm falta de profissionais, aponta estudo

Como exemplos dos constrangimentos, alguns na sequência de restruturações devido à pandemia de covid-19, o estudo da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral aponta que três em 35 unidades reconhecem não ter equipa própria de enfermeiros.

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O Acidente Vascular Cerebral é a principal causa de morte e incapacidade em Portugal Nuno Ferreira Santos

Portugal tem “uma distribuição claramente desigual” de Unidades de AVC (UAVC) e a maioria das unidades “apresenta constrangimentos importantes na infra-estrutura e capital humano”, indica um estudo da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC), divulgado neste domingo.

O estudo Caracterização das Unidades de AVC em Portugal 2021 destinou-se a compreender o funcionamento da Via Verde de AVC (VVAVC) e das UAVC. Em resumo, explicou a SPAVC em comunicado, o estudo “demonstrou que as redes de referenciação existentes para terapêutica aguda de revascularização não seguem um plano nacional concertado e devidamente organizado” para que haja “uma rede geograficamente equitativa”.

Há, diz-se no estudo de 135 páginas, “uma distribuição claramente desigual das UAVC pelo território português”, sendo mais evidente na região sul.

Como exemplos dos constrangimentos, alguns na sequência de restruturações devido à pandemia de covid-19, o estudo aponta que três em 35 UAVC reconhecem não ter equipa própria de enfermeiros, e cinco em 35 não ter fisioterapeutas dedicados.

Unidades sem espaço próprio

Também três em 35 dizem não ter terapeutas da fala na equipa de UAVC. Foram ao todo identificadas 35 UAVC e mais nove hospitais, no continente e ilhas, o que indica a criação de mais sete UAVC desde 2017.

“Persistem três em 35 UAVC sem espaço próprio geograficamente delimitado. Somente seis em oito vagas de UAVC (75%) têm capacidade para detecção automática de eventos disrítmicos -- sendo que 17 em 35 UAVC não têm Central de Monitorização com esta capacidade e 16 em 35 UAVC não dispõem de Compressores Pneumáticos dos membros inferiores. Em boa verdade, uma em 35 UAVC não tem sequer capacidade para monitorização contínua de ECG (electrocardiograma)”, diz-se no estudo.

O reforço de médicos, enfermeiros, terapeutas e assistentes operacionais foi uma das principais e mais preocupantes necessidades listadas como comuns às diferentes UAVC analisadas, segundo o documento, que fala também da necessidade de estabilização das equipas e dedicação exclusiva à UAVC, ou do reforço de vagas e de equipamentos.

Citados no comunicado, Miguel Rodrigues e José Mário Roriz, que coordenaram o trabalho, afirmam que “o aparecimento das UAVC e a implementação da VVAVC tiveram um papel determinante na diminuição da mortalidade por AVC na última década e na melhoria dos cuidados no AVC agudo em Portugal”.

Mas alertam que “o funcionamento da VVAVC e a estrutura e organização das UAVC é díspar a nível nacional”, com os vários hospitais a adoptarem modelos de funcionamento e recursos humanos variados.

Também, dizem ainda, as UAVC “nunca foram formalmente reconhecidas nem integradas numa rede nacional”, colocando limitações à sua organização e funcionamento.

Os responsáveis pelo estudo recomendam, nomeadamente, que seja criada uma Rede Nacional de Unidades de AVC, que cada hospital defina uma política para o AVC agudo, e que se dotem os hospitais de recursos financeiros e de capital humano específicos.

Os autores do estudo, feito em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Medicina Física e Reabilitação, notam que o mesmo foi editado após o último recenseamento da população portuguesa, o Censos 2021, que mostra um envelhecimento da população residente, com cerca de 24% dos cidadãos em 2021 a terem 65 ou mais anos (em 2011 eram 19%).

“Sendo a idade um dos mais fortes factores de risco para o AVC, este aumento de população nesta faixa etária traduzir-se-á num aumento da incidência global do AVC”, alertam, acrescentando que houve uma evolução positiva na disponibilidade de hospitais para o AVC agudo.

O Acidente Vascular Cerebral é a principal causa de morte e incapacidade em Portugal, estimando-se que uma em cada seis pessoas vai sofrer um AVC ao longo da vida.

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