Diversidade nos media: PÚBLICO recebeu 32 candidaturas, duas estagiárias seleccionadas

Júlia M. Tavares, licenciada pela Universidade Católica Portuguesa (centro de Braga), e Vanessa Lopes, licenciada pela Universidade Autónoma de Lisboa, vão estagiar durante seis meses no PÚBLICO com o apoio financeiro da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.

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Foram 32 as candidaturas ao concurso para o estágio profissional promovido pelo PÚBLICO, com o apoio financeiro da Rede Aga Khan. A iniciativa dirigia-se a jornalistas em início de carreira ou finalistas do curso de Comunicação Social pertencentes a comunidades étnico-raciais menos representadas nas equipas de jornalistas em Portugal.

Depois da análise das candidaturas recebidas por email, e de uma ronda de sete entrevistas presenciais, o júri escolheu Júlia M. Tavares, afrodescendente, licenciada em Novembro de 2021 pela Universidade Católica Portuguesa (centro de Braga), em Ciências da Comunicação; e Vanessa Lopes, de origem cigana, licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa, em Julho de 2021​. As duas jovens irão estagiar no PÚBLICO durante seis meses, com uma remuneração financiada pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN)​ e a supervisão da equipa de jornalistas da casa.​

O concurso foi lançado a 31 de Março e as candidaturas fecharam a 21 de Abril. O programa foi criado por se reconhecer a falta de diversidade social na representação do jornalismo em Portugal, e também na redacção do PÚBLICO, que assume entre os seus valores a promoção de todos os segmentos que representam a sociedade portuguesa contemporânea.

O júri foi composto por três elementos do PÚBLICO — a directora adjunta Andreia Sanches, a editora da Sociedade Rita Ferreira e a jornalista Joana Gorjão Henriques —, pela jornalista Carla Fernandes, fundadora do Podcast Afrolis, e pelo dirigente da associação Letras Nómadas Bruno Gonçalves.

As candidatas escolhidas foram as mais votadas entre os cinco elementos, que destacaram as suas capacidades técnicas, profissionalismo e vontade de aprender.

“O jornalismo é um meio fundamental para a partilha de várias perspectivas e vozes, que deve reflectir com exactidão os dilemas da sociedade contemporânea e representar a população sobre a qual redige”, disse Júlia M. Tavares, 25 anos, depois de saber que tinha sido uma das escolhidas. “É crucial garantirmos a inclusão de jornalistas pertencentes a minorias étnicas, religiosas e de género nos media portugueses para que possam investigar e reportar de forma factual sobre problemas que afectam as diferentes comunidades. Identificar e reconhecer que as redacções portuguesas apresentam falta de diversidade é uma medida necessária no combate à discriminação”, acrescentou.

Vanessa Lopes, 27 anos, afirmou estar “feliz” com a oportunidade. “É uma bênção e um privilégio estar rodeada de tão grandes profissionais. Acredito que uma iniciativa como esta, direccionada para as minorias, vai abrir portas, para mim como profissional, mas também para futuros profissionais da área. Acredito no poder que tem a representatividade das minorias em todas as esferas da sociedade. Quando tornamos normal aquilo que deveria ser normalizado, tudo se torna natural e orgânico. Sem dúvida que será um tempo incrível. Espero que um dia este tema já não precise ser notícia. Farei o meu melhor para ser uma mais-valia, e acima de tudo, desfrutar da viagem.”

É um facto que ainda falta diversidade nas redacções, “incluindo na do PÚBLICO”, afirmou a directora-adjunta Andreia Sanches. “Uma visão mais plural da sociedade é essencial para a qualidade do jornalismo. Este programa de estágios é um contributo para promover uma cultura de diversidade. E é uma oportunidade para jovens que fazem parte de comunidades étnico-raciais menos representadas nas equipas de jornalistas – e que têm uma enorme vontade de abraçar esta profissão – de mergulhar no trabalho que fazemos todos os dias para levar informação aos nossos leitores, de aprender com os jornalistas que todos os dias fazem este jornal, de serem orientados pelos nossos editores. Recebemos mais de 30 candidaturas, o que é fantástico, entrevistámos alguns candidatos com potencial e estamos muito satisfeitos com o resultado.”

Destacando que a AKDN se associou a esta iniciativa do PÚBLICO por se rever nos valores que a sustentam, nomeadamente aqueles que estão relacionados com o fomento da diversidade, da integração e do combate à discriminação, Nazim Ahmad, representante diplomático do Imamat Ismaili em Portugal, afirmou: “Esperamos que este programa de formação possa ser um contributo positivo para a promoção desses princípios num sector tão relevante para as sociedades contemporâneas como o da comunicação social”.

Já para a jornalista e membro do júri Carla Fernandes “a proposta de um estágio tendo como público-alvo pessoas de minorias étnicas menos representadas nas redacções portuguesas é, em si, uma iniciativa inovadora e com potencial de transformação social”. E acrescenta: “Foi um processo bastante produtivo por ter revelado potenciais profissionais do jornalismo com interesses e trajectos diversos. A quantidade e qualidade das candidaturas mostraram que existem possibilidades várias de tornar as redacções mais representativas no que diz respeito às comunidades que constituem a sociedade portuguesa. Foi uma honra fazer parte do júri.”

“É um passo importante para alterar neste país o paradigma da pouca representatividade de profissionais pertencentes a minorias étnicas nas redacções dos órgãos de comunicação social”, defendeu o fundador da Letras Nómadas, Bruno Gomes. “Os dois estágios para profissionais pertencentes a minorias étnicas que o jornal PÚBLICO e a Rede Aga-Khan promovem são um acto de coragem e uma oportunidade para colocar na ordem do dia a necessidade de haver mais representatividade de minorias étnicas nas várias esferas da sociedade diversa e multicultural que é este país. Aos candidatos, só encontro estas palavras: que classe! Como dizia um dos candidatos, estas vagas não são ‘esmolas’, não são mesmo, porque o potencial dos candidatos/as é enorme! Foi um orgulho ser júri.”

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