Cabo Verde, o encanto da ilha de Maio

Os leitores Helder Taveira e Luísa Matos rumaram ao Maio, uma pequena ilha do arquipélago de Cabo Verde onde a natureza ainda é pura.

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As praias da ilha de Maio são extensas e muito pouco frequentadas Helder Taveira

Depois de tanto tempo sem viajar para fora da Europa, devido à pandemia, finalmente chegou a hora de regresso a Cabo Verde, onde já me sinto em casa. Desta vez, a ideia seria conhecer a ilha de Maio.

No dia seguinte a termos chegado à Cidade da Praia, em Santiago, que já conhecemos bem, fizemos a viagem mais curta que alguma vez tínhamos feito. Num voo de apenas oito minutos, estávamos a aterrar no pequeno aeródromo da ilha de Maio. Também poderíamos ter ido de barco, numa viagem de cerca de três horas, contudo, tendo em conta que o tempo não era muito e os horários nem sempre os mais compatíveis, optámos pelo avião.

A ilha de Maio, localizada a cerca de 25 km a leste da ilha de Santiago, é uma ilha pequena e com poucos habitantes, cerca de oito mil numa área de 274,5 km2. É uma ilha de grande beleza. Praias de um azul-turquesa a fazer lembrar as melhores praias das Caraíbas. Natureza no estado puro. Ainda não existem as grandes cadeias hoteleiras e seria bom que assim continuasse. Também não existem fábricas que poluem as águas cristalinas, pelo que o único lixo que se encontra nas praias será o plástico, trazido pelas marés. A ilha de Maio foi classificada como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, em Outubro de 2020, e justifica plenamente tal galardão.

Logo pela manhã, ao pequeno-almoço, no pequeno restaurante Nha Terra, comia a cachupa refogada com ovo estrelado (que é, no fundo, cachupa do dia anterior, cozinhada num refogado, fica com sabor agradável, embora mais seca que a típica cachupa). Fomos dar uma volta à ilha numa carrinha conduzida pelo taxista Ni. Foram também duas portuguesas, a Diana e a Raquel, irmãs que também estavam de visita à ilha.

Ainda perto da Vila de Maio, passámos nas salinas que em tempos tiveram grande importância na economia da ilha, mas actualmente a produção é muito reduzida. Pelo caminho, passámos por alguns povoados pequenos, como Calheta, Cascabulho, Pedro Vaz, Alcatraz, Pilão Cão. Vimos fornos de produção de carvão de madeira de acácia (que abunda na ilha) que é vendido para as outras ilhas. Tomámos banho na praia da Ribeira de D. João. Praia excelente, com extenso areal só para nós. No regresso, o Ni deu boleia a um pescador amigo que tinha um grande balde cheio de sargos e bodiões. A cana artesanal e muito comprida não cabia na carrinha, pelo que o pescador teve de a transportar no exterior da carrinha, segurando-a com a mão.

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O pastor Luís Helder Taveira

Parámos numa pequena terra para ver uma queijaria de leite de cabra. Devido à escassez de leite, a fábrica estava fechada, mas a dona ainda nos vendeu um queijo por duzentos escudos (cerca de 1,80 euros) que comemos quando chegámos à vila, acompanhado com cerveja cabo-verdiana Strela Criola que a Diana e Raquel ofereceram.

No dia seguinte, eu e a Luísa fomos com um carro alugado dar uma volta à ilha, desta vez com mais tempo e com a possibilidade de parar onde quiséssemos e sem a preocupação de cumprir horários. Visitámos duas escolas, a da Calheta e a da Figueira da Horta. O sorriso das crianças quando recebem uma bola ou uma caneta é enternecedor.

Demos boleia ao Jailson, que trazia às costas uma mochila. Tinha ido tratar da sua horta, e no final esperava-o uma longa caminhada até casa. Quando parei o carro, reparei que tinha tirado sete ou oito batatas-doces e era vontade dele oferecê-las para agradecer a viagem. Não aceitámos, pois faziam-lhe falta para alimentar a família.

A caminho da Praiona, encontrámos o senhor Luís, pastor, que simpaticamente nos indicou o caminho. No alforge, levava um pequeno cabrito, que seria o almoço de Páscoa.

Esta ilha é dos locais mais importantes para a desova das tartarugas, que ocorre habitualmente no Verão. Infelizmente, chegámos fora de tempo.

Chegámos ao final da tarde e ainda fomos tomar banho à praia da Ponta Preta. Mais uma vez, éramos as únicas pessoas naquele extenso areal.

No Maio importa também fazer uma pequena visita ao Forte de São José, cuja construção remonta ao século XVIII. O forte invoca São José e foi erguido com a função de defesa do porto da vila, dos ataques dos piratas e corsários.

No regresso a Santiago ainda deu para irmos visitar à Cidade Velha e ao Tarrafal. Não me canso de visitar a Cidade Velha, que antigamente tinha o nome de Ribeira Grande.

Passámos na aldeia da Boa Entrada, perto da Assomada, a caminho do Tarrafal, visitámos uma escola onde deixámos algum material escolar. As crianças receberam-nos a cantar e a cantar se despediram de nós. Tinham ainda uma longa caminhada a percorrer até chegarem a casa. O que em muitos países seria um problema, ver crianças de tenra idade a caminhar sozinhas de mochila ao ombro a caminho de casa, aqui é natural.

Nesta pequena aldeia, ainda tivemos a oportunidade de ver em funcionamento um engenho de produção de grogue com cana-de-açúcar e a maior árvore do arquipélago de Cabo Verde, com mais de 500 anos. Conhecida como Poilão da Boa Entrada e cujo nome científico é Ceiba pentandra. A árvore fica situada num vale fértil, onde se cultivam vegetais e papaieiras. Como é diferente comer uma papaia amadurecida na árvore em vez daquelas que compramos nos supermercados e que são colhidas verdes para suportarem a viagem!

É verdade que as pessoas vivem com dificuldades, agravadas pelo solo inóspito e pouco fértil. Não deixam, por isso, de ser prestáveis, sempre prontas a ajudar quem com elas se cruza. Gente humilde, boa e autêntica. Por isso, dou razão à Madonna quando disse: “Em África, vejo sorrisos que não vejo em Nova Iorque”. Eu nunca estive em Nova Iorque, mas acredito na Madonna.

Helder Taveira e Luísa Matos

Artigo actualizado a 2 de Maio: altera a fotografia inicial que, por lapso, era da praia do Tarrafal

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