Benfica quer voltar a desafiar a lei da probabilidade

“Encarnados” jogam hoje, sem Rafa, uma cartada decisiva em Liverpool, onde tentam inverter a desvantagem averbada na primeira mão dos quartos-de-final da Champions.

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LUSA/ANTONIO COTRIM

Dois golos de desvantagem, um adversário que está no pódio do ranking da UEFA, uma multidão de adeptos fervorosos e, a juntar a todos estes ventos desfavoráveis, a lesão de Rafa. É a soma destes obstáculos que o Benfica vai enfrentar logo à noite (20h, TVI), em Anfield Road, onde disputa a segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, que é como quem diz, a possibilidade de fazer história na prova.

Até que ponto aquele golo de Luis Díaz, marcado no Estádio da Luz numa altura em que os “encarnados” forçavam o empate, terá decidido a eliminatória, só hoje se irá saber. Certo é que o triunfo por 1-3 que o Liverpool alcançou em Lisboa deixa os “reds”, duas vezes finalistas nas últimas quatro edições da Champions, numa posição privilegiada para atingirem as meias-finais. E se esse passo em frente é praticamente rotina para os britânicos, para o Benfica terá um cariz histórico.

É com esta dimensão emocional que Nélson Veríssimo tem jogado por estes dias. O treinador dos “encarnados” tem a clara noção de que a equipa já superou as expectativas na competição e de que prolongar esta caminhada acrescentará uma camada memorável a uma época que tem sido decepcionante. “Embora numa posição desfavorável, estamos à porta de conseguir chegar a umas meias-finais da Liga dos Campeões, algo que o clube, neste formato da competição, nunca conseguiu. Vamos com essa confiança de que é possível”.

Possível? Sim — até porque, em Amesterdão, o Benfica também contrariou os prognósticos. Provável? Nem por isso — porque o Liverpool está uns patamares acima do Ajax e porque a desvantagem na eliminatória é mais acentuada. Os “encarnados” terão, assim, de voltar a desafiar a lógica para se intrometerem entre os quatro melhores da Europa, numa temporada em que dificilmente conseguirão mais que um modesto terceiro lugar no campeonato.

“Apesar de termos perdido o jogo da primeira mão, e depois da análise que fizemos, vamos ter espaços que podemos explorar, sabendo que temos de ser eficazes na finalização e muito consistentes no processo defensivo. [É preciso] fechar espaço entre linhas, ter atenção à largura e profundidade”, adverte Nélson Veríssimo, destacando as “dinâmicas colectivas trabalhadas há muito tempo” pelo Liverpool e a qualidade individual dos jogadores.

Nesse aspecto, o Benfica terá uma dor de cabeça adicional para gerir. Rafa lesionou-se na véspera da partida e já não integrou os convocados, retirando capacidade às “águias” de atacarem a profundidade e activarem as transições ofensivas e os ataques rápidos, momentos do jogo em que poderão fazer mais mossa ao adversário. “Todos sabemos da importância que o Rafa tem na equipa, é um jogador com características diferenciadas. Temos de lamentar a sua ausência, mas temos soluções no plantel que certamente vão dar uma resposta positiva”.

Nélson Veríssimo guardará as escolhas para a hora do jogo, mas o guião não deverá fugir muito do que se viu no Estádio da Luz: um Liverpool a comandar com bola e a manobrar essencialmente em ataque posicional (teve 65% de posse na primeira mão), um Benfica recolhido em organização defensiva e à espera de uma aberta para as transições, com Everton e Darwin como referências principais na frente.

Esse lado autoritário, de resto, é algo de que Jürgen Klopp não abdica. “Nós queremos ser a equipa contra a qual ninguém quer jogar e espero que possamos ser essa equipa amanhã [hoje] à noite”, projectou o treinador do Liverpool, que enfatizou a importância dos adeptos, antes de pedir total concentração aos jogadores. “Se eles marcam um [golo] — e sentimo-lo contra o Inter Milao —, o jogo muda. [Na primeira mão] estávamos a controlar o jogo até que o Benfica marcou e [o jogo] ficou ligeiramente diferente. Temos de manter-nos atentos”.

Marcar um golo e não sofrer, é precisamente isso que as “águias” vão procurar fazer para abalar os alicerces do adversário. Simples de explicar, tremendamente difícil de pôr em prática para uma equipa sem margem de erro. “Levamos uma desvantagem de dois golos, mas sabemos que, fazendo um golo primeiro, o rumo do jogo pode mudar”.

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