Listas de espera do SNS: remediar ou avançar para a cura?

Em Espanha, é já aplicado um sistema informático de orientação dos clínicos, mas com foco na uniformização de cuidados em consultas hospitalares de especialidade. A implementação de um sistema destes em Portugal seria mais um passo para reforçar a confiança no SNS.

As listas de espera para consultas, exames e procedimentos são uma ferida do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que a covid-19 apenas veio agravar. Por um lado, os serviços não conseguiram dar resposta ao acréscimo de solicitações, por outro, assistimos ao receio da população em aceder às instituições de saúde no decurso das fases mais agudas da pandemia.

É imperativo que o SNS responda a este grave problema. Não há dúvida de que a capacidade de resposta de todos os intervenientes no sistema de saúde - público, privado e setor social – é essencial. Mas contratualizar todo o seguimento dos doentes está longe de curar o SNS.

No curto prazo, enquanto se robustece a capacidade de resposta do SNS, a externalização de exames ou de procedimentos deve ser considerada como uma forma de complementar a prestação pública. Caminho diferente deverá ser trilhado quanto ao acesso e consultas de seguimento, que devem permanecer no âmbito do SNS: sem uma resposta de fundo e dependente de terceiros, o SNS corre sérios riscos, quer pelo afastamento dos doentes quer pela potencial saída de profissionais.

É por esta razão que urge apostar, desde já, numa solução para as listas de espera, aproveitando ensinamentos recentes e apostando na eficiência, na qualidade e na tecnologia. Comecemos por colocar o foco nos problemas dos doentes, que pretendem, e devem, ser seguidos e tratados atempadamente.

O SNS possui recursos humanos de excelência, mas em número insuficiente para responder a todas as exigências que se prevê que aumentem nos próximos anos com o envelhecimento da população. Como se inverte esta situação?

Garantindo o acompanhamento adequado dos doentes e fazendo-o através da inovação tecnológica, em particular aproveitando as vantagens dos sistemas informáticos baseados na inteligência artificial, que orientam o médico com base nas normas das melhores práticas clínicas, definindo prioridades em termos de exames complementares de diagnóstico necessários, planos de seguimento e tratamento.

Olhemos para o exemplo de um paciente com uma situação cardíaca que carece de orientação adequada. Dirige-se ao seu médico de família, mas há necessidade de avaliação, seguimento e orientação da especialidade de cardiologia. Ora, existem sistemas informáticos, que, de acordo com o diagnóstico ou com os sintomas, orientam o clínico de Medicina Geral e Familiar, garantindo uma resposta atempada ao paciente, com ganhos de tempo na realização dos exames necessários, enquanto não é observado por um especialista que fará os ajustes necessários.

Basta ver o que se está a ser feito aqui ao lado. Em Espanha, é já aplicado um sistema informático de orientação dos clínicos, mas com foco na uniformização de cuidados em consultas hospitalares de especialidade. Foi testado e validado com sucesso em várias dezenas de hospitais, permitindo melhorar entre 44 e 50% o seguimento dos doentes.

A adaptação, a validação e a implementação de um sistema destes aos cuidados de saúde primários e hospitalares em Portugal seria uma resposta às listas de espera para consultas de especialidade. Mas seria também mais um passo pela confiança num SNS muito articulado, robusto e gerador de menos desperdício.

O SNS não precisa de pensos rápidos. Precisa de ambição, inovação, tecnologia e realismo. Uma cura que está ao nosso alcance.

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