Já não basta ouvir ou ver: há que interagir com o legado de Bob Marley

Um sem número de acontecimentos ronda a lenda do reggae por estes dias, entre musicais, filmes ou uma exposição, em Londres, que convida à interacção com a sua vida e obra.

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Dennis Morris

Bob Marley anda nas bocas do mundo. Na altura em que se completam os 45 anos do álbum Exodus (1977), um dos mais relevantes do seu percurso, uma exposição na influente Saatchi Gallery, em Londres, revisita a vida e a obra da lenda da música reggae. A mostra sucede ao musical que, no final do ano passado, se estreou também na capital inglesa e que continuará em cena no West End pelo menos até meados de Setembro – ​Get Up Stand Up!, protagonizado por Arinzé Kene –, e ao espectáculo de cerca de oito horas que na semana passada teve lugar em Kingston, na Jamaica, para assinalar o dia em que o músico completaria 77 anos. Nele participaram muitos dos seus familiares e músicos para quem Marley constitui uma inspiração, como D’Angelo. E há dias ficou também a saber-se que o britânico Kingsley Ben-Adir foi o actor escolhido para protagonizar o filme biográfico que está a ser preparado sobre Marley, com realização de Reinaldo Marcus Gree.

Lenda da música jamaicana, Bob Marley morreu em 1981, aos 36 anos. É um cliché, mas, neste caso, parece mesmo estar mais vivo do que nunca. E de todos estes acontecimentos em torno do seu legado há um que se tem destacado: a exposição Bob Marley One Love Experience, que parece corresponder a um género expositivo em que grandes instituições da arte britânica têm vindo a especializar-se nos últimos anos. Falamos de exposições de grande envergadura, que abordam a vida e a obra de figuras oriundas do universo musical, colocando os seus gestos artísticos em confronto com outras práticas culturais e com a envolvente sociopolítica. E, por norma, segundo uma lógica de imersão e de interactividade, proporcionando não só acesso a memorabilia dos artistas (letras manuscritas, instrumentos, roupa, objectos diversos, fotos, som e muitas outras recordações), mas também recriando ambientes e cenários (estúdios, casas, ou mesmo uma floresta...) ligados ao imaginário popular que os suporta. Há uma tentativa de oferecer as visitantes um olhar a partir de dentro, numa experiência multi-sensorial. E são exposições pensadas para circular globalmente por diversas cidades.

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Foi o que aconteceu, nos últimos anos, com David Bowie, Pink Floyd ou Björk, para mencionar apenas três exemplos. E irá acontecer também com Bob Marley. A exposição que está patente em Londres até 18 de Abril já tem viagem marcada, nos próximos anos, para cidades como Toronto, Vancouver, Los Angeles, Chicago, Nova Iorque, Miami, Amesterdão, Telavive, Seul, Tóquio e Kingston.

A ideia genérica destas exposições é não só mostrar artefactos, mas, acima de tudo, criar uma experiencia para o visitante. Este tem de sentir que está a circular entre o universo particular do músico. No caso de Bob Marley, são destacadas a ressonância das suas mensagens humanitárias, os conflitos políticos que o animaram e aspectos biográficos como a paixão pelo futebol. Em paralelo, e a atribuir sentido a isso tudo, está a reverberação da música. Ou, como disse o curador da exposição, Jonathan Shank, “aqui a esperança é levar o sentimento de Bob e o espírito One Love a muitas mais pessoas": “Ele já é uma figura transgeracional e globalizada, mas, quanto mais o mundo avança, mais se percebe que aquilo que o movia mantém actualidade.”

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