A festa de anos do Livre teve a eleição de Rui Tavares como brinde

Já a noite ia longa quando o partido confirmou o regresso ao Parlamento. Rui Tavares diz que veio “para ficar” e quer pôr a esquerda a trabalhar em conjunto: “Iremos ver se António Costa é fiel ao que disse de que não deixaria de negociar com maioria absoluta.”

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O Livre festejou na Casa do Alentejo ANDRÉ KOSTERS/LUSA

A sala em que o Livre fez a sua noite eleitoral na Casa do Alentejo, em Lisboa, tinha aquele ar chique dos velhos clubes nocturnos, com lustres a pender do tecto, esculturas de mulheres nuas e mostrengos, pinturas campestres nas paredes. A envolvência não podia contrastar mais com a mensagem progressista que o partido diz trazer para a vida política.

Mas cedo se percebeu o sentido da escolha: o restaurante era mesmo ali ao lado, os pratos do dia eram ensopado de borrego e sopa de cação; a taberna era uns degraus abaixo e as bifanas rapidamente esgotaram. Durante várias horas, foi nestes dois espaços que os apoiantes do Livre se concentraram, deixando vazia e silenciosa a sala lustrosa, habitada quase só por jornalistas e meia dúzia de pessoas que se debruçavam sobre os telemóveis para seguir os resultados.

Depois de há seis anos ter festejado precocemente a entrada no Parlamento, que então não se veio a verificar, o partido comportava-se como gato escaldado que de água fria tem medo. As projecções às 20h foram recebidas com um silêncio quase absoluto e Jorge Pinto, cabeça-de-lista pelo Porto, limitou-se a dizer que era precisa “muita cautela”.

E foi só. Até que já perto da meia-noite, quando a maioria absoluta do PS parecia cada vez mais próxima, chegou a confirmação: à segunda tentativa, Rui Tavares conseguiu a eleição para a Assembleia da República. Já então bastante cheia, a sala irrompeu em gritos de alegria, abraços e muitos brindes com as cervejas chegadas em grande número nos minutos antecedentes. A tensão que antes era palpável esfumou-se num repente e André Ventura, que começava nesse momento o seu discurso televisivo, ficou a falar para o boneco.

O novo deputado chegaria daí a minutos, embalado por gritos de “Liberdade! Liberdade!”. “Daqui a quatro minutos vamos comemorar o oitavo aniversário do Livre com o regresso à Assembleia da República para ficar”, foram as primeiras palavras de Rui Tavares. Repetiria a ideia: “O partido da esquerda verde europeia regressa ao Parlamento para ficar.”

Para Tavares, o resultado mostra que as notícias sobre a morte do partido foram manifestamente exageradas. “Ainda há um mês nos davam por acabados e estamos na Assembleia da República. Queriam-nos excluir desta história”, disse, referindo-se à polémica sobre a exclusão inicial dos debates televisivos.

Num longo discurso, que terminou já depois de António Costa ter começado a falar, o novo deputado elencou algumas prioridades do mandato – melhoria térmica de habitações e transportes públicos, entre outros – e lamentou a queda eleitoral de PCP, BE e Os Verdes. “É preciso que a esquerda aprenda com os erros do passado e saiba trabalhar em conjunto”, apelou.

“O Livre fará mais do que concentrar-se no PS, esse tem sido um grande erro da esquerda. O que vamos fazer é pedir reuniões. Iremos ver se António Costa é fiel de que não deixaria de negociar com maioria absoluta. Se há uma maioria absoluta do PS, há uma maioria ainda maior à esquerda”, afirmou.

Com mais de 68 mil votos, um aumento de 13 mil face a 2019, o Livre volta a estar representado no Parlamento, mas falha o objectivo declarado de eleger mais deputados. Rui Tavares desvalorizou, considerando que o aumento da votação foi “uma vitória”, e mostrou-se convicto de que o partido crescerá em futuras eleições.

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