Proporção de casos notificados com atraso duplicou e 60% dos contactos não são rastreados em 24 horas

Variante Ómicron já representa 92,5% dos novos casos, segundo o último relatório das “linhas vermelhas”. Número de camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos, o indicador mais preocupante, correspondia a 62% do valor crítico na quarta-feira .

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DGS e Insa revelaram novo relatório esta sexta-feira Nuno Ferreira Santos

A proporção de casos de infecção por SARS-CoV-2 notificados com atraso em Portugal quase duplicou no espaço de uma semana, mais de 10% dos testes já são positivos, e a maior parte dos contactos de risco não foram rastreados e isolados em 24 horas, apesar de o número de rastreadores ter aumentado. São três dos indicadores do último relatório de monitorização das “linhas vermelhas” elaborado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) que indicam que está a ser cada vez mais complicado controlar a evolução da epidemia de covid-19 no país.

Entre 30 de Dezembro e 5 de Janeiro, “a proporção de casos confirmados notificados com atraso foi de 12,8% (na semana passada foi de 6,8%)”, acima do limiar definido, e “40% de todos os casos notificados tiveram todos os seus contactos rastreados e isolados em 24 horas”, lê-se no relatório divulgado esta sexta-feira. Neste período, estiveram envolvidos no processo de rastreamento, em média, 767 profissionais a tempo inteiro, “mais 129 do que na semana anterior”, mas, mesmo assim, não foi possível isolar cerca de um terço dos casos notificados em menos de 24 horas (na semana anterior isso tinha acontecido em menos de um quinto dos casos). A positividade dos testes também está já bem acima do limiar definido nas linhas vermelhas, que é 4%.

Ómicron representa 92,5% dos casos

Esta quinta-feira, a variante Ómicron representava já 92,5% dos novos casos de infecção (estimativa) e a incidência cumulativa a 14 dias estava a crescer nos grupos etários mais idosos, a partir dos 50 anos, mas com maior expressão nas pessoas a partir dos 70 e dos 80 anos, os grupos de maior risco de doença grave e morte. A proporção de testes positivos também voltou a aumentar e é agora de 10,6%, bem acima do limiar de 4% definido nas “linhas vermelhas”.

A capacidade de rastreamento de contactos de casos e de rapidez da notificação laboratorial revela sinais de pressão. A pressão nos serviços de saúde e o impacto na mortalidade são elevados, com tendência crescente nas hospitalizações. Dado o rápido aumento de casos, mesmo tendo em consideração a menor gravidade da variante Ómicron, é provável um aumento de pressão sobre o todo o sistema de saúde e na mortalidade, recomendando-se a manutenção de todas as medidas de protecção individual e a intensificação da vacinação de reforço”, sublinham os especialistas da DGS e do Insa.

Dose de reforço evita mortes acima dos 80 anos

Devido à grande transmissibilidade da Ómicron, o número de novos casos acumulados a 14 dias disparou em todas as faixas etárias e era já de 2777 casos por 100 mil habitantes, “indicando uma intensidade muito elevada e com tendência fortemente crescente a nível nacional”. Era mais elevada na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) - 3519 por 100 mil habitantes, quase o dobro da semana anterior - e no Norte (2676).

Ainda assim, o índice de transmissibilidade - R(t) - apresentou neste período uma tendência decrescente em Lisboa e Vale do Tejo e no Norte – passou de 1,4 para 1,37 e de 1,42 para 1,26, respectivamente –, apesar de ter continuado a subir nas outras três regiões do continente e permanecer acima de 1 em todo o país. O índice de transmissibilidade corresponde ao número de pessoas que são contagiadas por alguém com a infecção activa.

Nos internamentos hospitalares, a tendência é “crescente”, mas o número de camas ocupadas em unidades de cuidados intensivos (UCI), o indicador mais preocupante, correspondia a 62% do valor considerado crítico (255) nesta quarta-feira.

Já a mortalidade por covid-19 (20,4 óbitos em 14 por milhão de habitantes) continua acima do limiar definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês), apesar de ter diminuído 3% em comparação com a semana anterior.

Os especialistas da DGS e do Insa voltam a enfatizar que, em Outubro, “as pessoas com esquema vacinal completo tiveram um risco de internamento duas a seis vezes menor do que as não vacinadas” e que, em Novembro, o risco de morte dos vacinados foi “três a cinco vezes” inferior ao dos não vacinados. Na população a partir dos 80 anos, a dose de reforço “reduziu o risco de morte por covid-19 quase para metade em relação a quem tem o esquema vacinal primário completo”.

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