Covid-19. Ocupação em cuidados intensivos atinge 72% do limiar crítico definido pelas autoridades

O relatório de monitorização das linhas vermelhas da covid-19, divulgado esta sexta-feira pelo INSA e pela DGS, revela que Portugal tem 174 camas de cuidados intensivos ocupadas, valor que se aproxima do liminar crítico. Na última semana, a maior parte dos casos foi registada nas faixas etárias entre os 20 e os 40 anos.

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Hospital de São João, Porto Manuel Roberto

Há vários sinais de alerta no relatório semanal de monitorização das linhas vermelhas da pandemia de covid-19, divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Ricardo Jorge (INSA) e pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Primeiro, continua a registar-se um elevado número de casos diários de covid-19, factor que já está a ter influência no número de internamentos por causa da doença e, mais grave, no número de portugueses que necessitam de tratamento em unidades de cuidados intensivos. Além disso, o número de testes à covid-19 feitos nos últimos sete dias diminuiu ligeiramente e a proporção de resultados positivos aumentou.

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Manuel Roberto

Portugal está agora mais perto de atingir o limiar de 245 camas ocupadas, patamar que foi definido como “crítico” pelas autoridades de saúde no que toca aos internamentos em cuidados intensivos. Em Março, este valor, que faz parte das “linhas vermelhas”, foi traçado para servir, a cada momento, para afinar as medidas às diferentes fases da epidemia. A partir de uma série de indicadores quantitativos, Portugal percebe se deve apertar ou aliviar as medidas.

No espaço de uma semana, o país passou a ter uma ocupação de 72%, um aumento de 28% em relação à semana anterior. Segundo o relatório, estavam, a 14 de Julho, 174 doentes internados nestas unidades — a grande parte eram pessoas entre os 40 aos 59 anos (82 pessoas internadas desta faixa etária).

“No último mês, este indicador tem vindo a assumir uma tendência crescente”, dizem a DGS e o INSA, que referem que a ocupação máxima recomendada por região será divulgada na próxima semana. 

Segundo o INSA e a DGS, o número de novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias foi de 372 casos, o que revela “uma tendência crescente a nível nacional” e em todos os grupos etários. É nos grupos etários dos 20 aos 29 anos (875 casos por 100 mil habitantes) e dos 30 aos 39 anos (581 casos) que se regista a maior incidência cumulativa, mas foi na faixa etária acima dos 80 anos que se observou a maior variação face à semana passada.

“O grupo etário dos indivíduos com mais de 80 anos apresentou uma incidência de 83 casos por 100 mil habitantes, que reflecte um risco de infecção inferior ao risco para a população em geral, mas que ainda assim apresenta um crescimento de 51% em relação ao observado na semana anterior”, lê-se do documento.

R(t) desacelera, mais ainda cresce

O índice de transmissibilidade, ou R(t), está acima de 1 a nível nacional (1,12) e em todas as regiões, algo que, segundo o relatório, “indica uma tendência crescente" da pandemia. “Esta tendência crescente é mais acentuada nas regiões Norte e Algarve, que apresentam um R(t) de 1,24 e 1,15, respectivamente”.

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Evolução do índice de transmissibilidade INSA

No entanto, é referido que, em comparação com os valores da semana passada, o valor do R(t) desceu em todas as regiões, indicando um desacelerar da transmissibilidade da infecção, embora ainda com tendência crescente. Na região do Norte desceu de 1,34 para 1,24, na região Centro de 1,23 para 1,13, na região de Lisboa e Vale do Tejo de 1,12 para 1,07, na região do Alentejo de 1,26 para 1,13 e na região Algarve de 1,21 para 1,15. A nível nacional, há 60 dias que o R(t) apresenta valores acima de 1.

Além disso, o limiar de 240 casos por 100 mil habitantes já foi ultrapassado a nível nacional e nas regiões Norte, Lisboa e Vale do Tejo e Algarve. Se a taxa de crescimento actual se mantiver, as restantes regiões devem atingir esse limiar em menos de 15 dias, avisam as autoridades.

Menos testes e mais resultados positivos

O número de testes para despistar a covid-19 feito no período analisado (8 a 14 de Junho) diminuiu ligeiramente e, dentro das amostras colhidas, há mais resultados positivos a serem detectados. No total, foram realizados cerca de 432 mil testes em sete dias, valor abaixo dos 435 mil feitos na semana anterior.

A proporção de testes positivos foi de 4,9%, valor superior ao limiar de positividade definido pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC) de 4%. Além disso, este número representa um aumento em relação aos 4,5% da semana anterior. A proporção de casos confirmados notificados com atraso foi de 4,6%, um aumento ligeiro em relação ao valor da semana passada mas, ainda assim, abaixo do limiar de 10%.

Segundo o INSA e a DGS, nos últimos sete dias, 86% dos casos notificados foram isolados em menos de 24 horas após a notificação e 63% de todos os casos notificados foram rastreados e isolados em menos de um dia. "No continente, estiveram envolvidos no processo de rastreamento, em média, 433 profissionais a tempo inteiro e por dia”.

Variante Delta é dominante em todas as regiões

A variante Delta (B.1.617.2) é a variante mais prevalente em Portugal, com uma frequência de 88,6% na semana em análise. A presença desta variante tem aumentado em todas as regiões durante as últimas semanas, variando entre os 62,5% (nos Açores) e os 100% (no Algarve e Lisboa e Vale do Tejo).

O relatório avança ainda que não foi identificado qualquer caso de infecção com a variante Delta plus, o que indica que “a sua circulação em Portugal é muito limitada”. Até à data, detectaram-se 56 casos desta variante em Portugal.

“É de esperar a ocorrência de mutações nos vírus ao longo do tempo, em resultado do processo da sua replicação, sobretudo em vírus RNA. A probabilidade de ocorrência destas mutações aumenta com a circulação do vírus na comunidade e com o número de indivíduos parcialmente imunizados, promovendo o aparecimento de variantes”, dizem INSA e DGS.

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