Benfica soube sofrer

“Encarnados” aguentaram mais de uma hora de jogo em inferioridade numérica e seguraram empate diante do PSV, suficiente para garantir a entrada na Champions.

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Lucas Veríssimo foi expulso aos 32', deixando o Benfica em dificuldades DR

Estoicismo, carácter, rigor e doses generosas de Vlachodimos foram factores determinantes para o final feliz alcançado pelo Benfica diante do PSV (0-0), nos Países Baixos, onde as “águias” se mantiveram 100% invictas em 2021-22, voando directamente para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

Portugal contará, assim, com três equipas na Champions, o que não sucedia desde 2018. O Benfica mantém o prestígio intacto e um bónus em forma de bálsamo financeiro, com 37,24 milhões de euros garantidos nos cofres da Luz, valores importantes de um bolo que pode crescer e ajudar a construir uma temporada mais desafogada

Mas para alcançar este final feliz, o Benfica foi obrigado a mostrar um esgar de dor, a sofrer e a unir-se para guardar a vantagem da primeira mão. Tudo por causa da expulsão de Lucas Veríssimo, um imprevisto que alterou toda a lógica da noite. 

Antes, ainda, Jorge Jesus já mostrara que a eliminatória precisava de um Benfica concentrado e realista. O treinador pode não ter surpreendido ao optar por Morato, em detrimento da maior experiência de Vertonghen, mas não deixou de provocar algum burburinho ao prescindir de Pizzi, elegendo Taarabt para uma missão híbrida, embora essencial para condicionar o jogo do PSV, sobretudo na fase inicial: o marroquino e João Mário alternavam no apoio à dupla Rafa e Yaremchuk, enquanto Weigl promovia os equilíbrios junto dos três centrais. Sobravam ainda Grimaldo e Gilberto nos corredores, essencialmente numa missão de cobertura.

O Benfica controlava o ímpeto inicial do PSV, mas sentia extremas dificuldades nos desdobramentos, o que acabou por traduzir-se num arranque sem situações de golo junto de qualquer das balizas, ainda que os anfitriões tenham procurado manter Vlachodimos ocupado, sem grande sucesso, apesar da boa tentativa do lateral esquerdo Philipp Max. Assim, foi já perto da primeira meia hora de jogo que o encontro animou, com Taarabt a insistir e Rafa a protagonizar o lance de maior perigo, vendo a bola ser desviada in extremis por André Ramalho. 

As emoções estavam prestes a explodir, com o PSV a responder de imediato, mais uma vez por Max, às malhas laterais. Mas, a incredulidade estava perto de ganhar uma nova dimensão, com Lucas Veríssimo a receber ordem de expulsão com mais de uma hora para jogar. O defesa brasileiro recebeu a segunda admoestação, depois de um primeiro amarelo aos 8 minutos, e deixou a equipa reduzida a dez unidades. As ideias de Jorge Jesus viajavam à velocidade da luz, com o técnico benfiquista a não promover nenhuma substituição, nem mesmo no regresso dos balneários, quando optou por adaptar Gilberto a central, baixando Rafa para fechar o corredor.

Até ao intervalo, o PSV Eindhoven ainda ameaçou marcar por Madueke, que esteve muito perto de assinar um “golo de placa”, mas o resultado não sofreria qualquer alteração. 

O Benfica era forçado a activar o plano B, priorizando a defesa da vantagem conseguida na Luz e relativizando a ideia de ataque e de um golo tranquilizador para evitar sustos como os vividos na segunda parte da partida em Lisboa. Desta feita, a segunda metade de Eindhoven e a passagem à fase de grupos da Liga dos Campeões dependia agora muito mais da capacidade de sacrifício, numa luta contra o tempo e contra um adversário em superioridade numérica, a precisar de um ou dois golos para justificar a presença na grande montra do futebol europeu.

Unido num bloco aparentemente impassível e até impenetrável, o Benfica passava a uma fase de maior controlo, já com Vertonghen, Gonçalo Ramos e André Almeida em campo, esperando que o PSV desesperasse com o esgotar dos minutos. Estratégia que esteve perto de ruir numa precipitação de Morato, de que resultou o lance mais perigoso do PSV em todo o encontro — um remate de Zahavi esfumado na trave da baliza de Vlachodimos.

Com a partida a caminhar para o fim e com os treinadores a usarem os trunfos que restavam, o Benfica não cedia, coordenando sem grandes sobressaltos as duas linhas que resistiam estoicamente ao cerco montado pelo PSV, e espreitando de longe a longe uma oportunidade para selar o play-off. Mas, apesar das movimentações de Everton, a insinuar-se na frente, na tentativa de ganhar algum oxigénio para os companheiros, era Vlachodimos quem ditava leis.

Foi assim no remate de meia-distância de Sangaré, já nos 20 minutos finais, um dos raros ensaiados pelos neerlandeses, que depois de mais dois disparos à queima-roupa que o alemão resolveu, acabaram por não revelar argumentos para bater a formação portuguesa.

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