Semana de ataques a ONG na Bielorrússia é “purga na sociedade civil”

Raides e prisões atingiram grupos muito diferentes, incluindo plataformas de crowdfunding para crianças com doenças terminais ou de apoio a profissionais de saúde na luta contra a pandemia

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Protestos de opositores bielorrussos na Ucrânia: com cada vez mais detenções no país, organizações têm mais presença no estrangeiro SERGEY DOLZHENKO/EPA

O Governo da Bielorrússia levou a cabo uma série de acções contra organizações da sociedade civil, que se seguiu a prisões de políticos de oposição e também o encerramento e perseguição de muitos dos media independentes no país, diz o diário britânico The Guardian.

Os raides começaram a semana passada no que foi descrito como “uma semana negra” para as organizações não governamentais do país sob o regime de Alexander Lukashenko, que tenta agora impedir até esforços não políticos de organização da sociedade: as acções incluíram, por exemplo, grupos que fazem recolhas de fundos para cuidados de saúde em comunidades vulneráveis, ou que ajudaram na luta contra a pandemia da covid-19.

Na quarta-feira passada, a polícia esteve em casas ou escritórios de pelo menos 14 organizações de direitos humanos, de media, organizações não-governamentais e organizações que dão apoio a comunidades desfavorecidas. Nos últimos dez dias, houve mais de 60 acções de buscas e detenções da polícia.

Uma das organizações foi a Imena, que faz crowdfunding para projectos que ajudam a conseguir casas para crianças com cancro ou doenças terminais, vítimas de violência doméstica, pessoas que estejam sem abrigo, ou apoio para o pessoal médico que responde à pandemia da covid-19.

“É uma purga total da sociedade civil”, disse Marina Vorobei, fundadora da plataforma Freeunion.online, que ajuda na auto-organização de sindicatos ou iniciativas de cidadãos. “As ONG estiveram sempre sob pressão na Bielorrússia mas estas acções, esta onda de prisões e apreensões de bens são inéditas no sector”, declarou.

Mas não foi totalmente inesperado, pelo menos para Valentin Stefanovich, da organização Viasna, de ajuda a presos políticos, que já vinha a ser atingida com buscas, acusações criminais e esperava já há um mês mais pressão do governo, contou então Stefanovich ao Guardian: “Qualquer pessoa pode ser presa no nosso país”, disse mesmo, explicando que por isso parte da sua organização trabalha a partir do estrangeiro.

Stefanovich foi preso esta semana, junto com outros dirigentes da organização.

“As buscas e as prisões arbitrárias são só mais uma acção no âmbito da perseguição a defensores de direitos humanos, organizações da sociedade civil, e media independentes que têm decorrido desde a eleição presidencial muito contestada de Agosto de 2020, quando milhares de bielorrussos foram para a rua em protestos maioritariamente pacíficos”, reagiu a Viasna numa declaração citada pelo Guardian.

Na semana anterior, os visados tinham sido organizações de media e jornalistas, com buscas e detenções em 19 locais. A Associação Bielorrussa de jornalistas denunciou então “um enorme ataque das forças de segurança a jornalistas por todo o país”, cita a Reuters.

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