Wout van Aert brilha no Ventoux e Pogacar mostra as primeiras fraquezas

O belga esteve na fuga do dia e, mesmo sem ser um trepador, foi mais forte na montanha do que nomes como Kenny Elissonde, Julian Alaphilippe ou Bauke Mollema. Já o camisola amarela, Tadej Pogacar, não perdeu tempo, mas mostrou fraquezas em terreno montanhoso.

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Reuters/BENOIT TESSIER

Wout van Aert (Jumbo) venceu nesta quarta-feira a etapa 11 da Volta a França, erguendo os braços pela quarta vez na corrida gaulesa. Num terreno que está longe de ser o seu – é um corredor talhado para sprints e corridas clássicas –, o ciclista belga venceu no dia da imponente escalada ao Mont Ventoux. E hoje fez-se história na Volta a França.

A subida ao “ventoso” é um clássico no Tour, mas é suposto fazê-la uma vez. Hoje, os ciclistas subiram-no… duas vezes. Nunca se tinha pedido isto ao pelotão da Volta a França. Wout van Aert esteve na fuga do dia e, mesmo sem ser um trepador, foi mais forte do que nomes como Kenny Elissonde, Julian Alaphilippe ou Bauke Mollema. Foram cerca de 30 quilómetros solitários para van Aert, que não deu hipótese aos demais, eliminando um de cada vez.

Wout van Aert é o homem que já venceu a Milão-São Remo, a Strade Bianche ou a Amstel Gold Race, mas disse, após a etapa, que esta foi a vitória mais importante da carreira. Por aqui se percebe a relevância deste dia.

Entre os favoritos ao triunfo no Tour o 11.º dia de Volta a França trouxe, pela primeira vez, fraquezas de Tadej Pogacar (Emirates). O ciclista esloveno, campeão do Tour 2020, não teve pernas para Jonas Vingegaard (Jumbo) na segunda subida ao Ventoux e só não acaba o dia rodeado de “pontos de interrogação” porque a vantagem na classificação é ainda muito confortável e, sobretudo, porque na última descida do dia conseguiu “caçar” Vingegaard. Há, porém, alarmes a soar: foi um mau dia? Foi gestão física de um esloveno tranquilo? Foi o sinal de que haverá quebra total nas próximas montanhas?

Certo é que Vingegaard proporcionou à Jumbo um dia de sonho, conseguindo subir ao terceiro lugar da classificação, a 5m32s de Pogacar. Em queda esteve Ben O’Connor, que foi o primeiro dos favoritos a perder o contacto com os rivais na segunda subida ao Ventoux e chegou a cerca de cinco minutos de Pogacar. Caiu do segundo para o quinto lugar da tabela. Tal equivale a dizer que, mesmo com estas incidências, Pogacar ainda termina o dia a alargar a vantagem na classificação.

Cavendish continua

Nesta quarta-feira, duas subidas ao Ventoux, nos Alpes, eram, logo à partida, um alarme para Marc Cavendish. Tal como aconteceu com outros sprinters, o britânico corria o risco de chegar à meta fora do tempo de controlo e, com a consequente desqualificação, perder a possibilidade de alcançar o recorde de Eddy Merckx. O receio foi, porém, apenas isso. “Cav” chegou a horas e continua no Tour.

O filme da etapa é relativamente fácil de contar. Como se esperava, formou-se uma fuga numerosa, que chegou a ser de 17 ciclistas, com o pelotão a rolar a cerca de cinco minutos durante grande parte do dia.

Entre os aventureiros estavam Alaphilippe, van Aert, Elissonde ou Mollema, principais nomes de um lote de fugitivos que na segunda subida ao Ventoux já tinha apenas sete corredores.

Aí, imperou a força de Wout van Aert na subida. Apesar de ter duas escaladas ao Ventoux, a meta não era em alto, mas sim no final da segunda escalada, já em terreno plano, algo que permitiu ao belga gerir a vantagem pela capacidade de descer a preceito – o que é que van Aert não faz bem?

O ciclista da Jumbo parece estar cada vez mais próximo de se tornar um “voltista”, tal é a forma como já consegue ultrapassar montanhas exigentes. Assim queira, parece ter condições para vencer em terrenos que, em tese, não seriam os seus.

Mais atrás houve luta entre os trepadores. A cerca de 20 quilómetros do final - e nos últimos da segunda subida ao Ventoux – houve ataque de Vingegaard, que só foi acompanhado, claro está, por Tadej Pogacar.

Quando tudo parecia feito para um caminho feito a dois até ao final, o esloveno “ficou a pé”. Seguiu Vingegaard e Pogacar acabou por ser “caçado” por Urán e Carapaz. Só a descida permitiu que Vingegaard fosse alcançado, mas as sensações ficaram claras: a subir, Pogacar não teve pernas para o rival.

Para esta quinta-feira está marcada uma etapa teoricamente tranquila, com terrenos maioritariamente planos, mas as estradas poderão estar expostas ao vento lateral.

Quer isto dizer que será, em tese, um dia para a luta dos sprintse Marc Cavendish pode igualar o recorde de Eddy Merckx –, mas os favoritos ao triunfo final, em caso de vento lateral, poderão ser apanhados em “cortes” no pelotão e ter um dia de maior ansiedade do que seria suposto. Tadej Pogacar, nem sempre bem acompanhado pela Emirates, pode vir a estar vulnerável.

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