França não quer dar mais dinheiro à NATO para reforço dos orçamentos comuns

O Governo de Emmanuel Macron teme que o plano do secretário-geral Jens Stoltenberg comprometa as prioridades francesas.

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Emmanuel Macron desconfia do plano de Jens Stoltenberg Christian Hartmann/Reuters

Um plano de 16 mil milhões de euros em fundos comuns para a NATO, destinado a enfrentar ameaças militares externas, a emergência climática e a ascensão da China, esbarrou na resistência da França. O secretário-geral, Jens Stoltenberg, propôs em Fevereiro que os membros da organização reforçassem directamente os orçamentos comuns existentes, em alternativa ao sistema actual, em que cada governo paga as suas próprias operações militares. Mas o Governo francês teme que a medida possa comprometer as suas próprias prioridades no que à Defesa diz respeito, segundo adiantou a Reuters, que cita quatro diplomatas e uma fonte do Ministério da Defesa.

A proposta de Stoltenberg, que passou esta semana por Portugal, participando como convidado na reunião Conselho de Estado, é apontada como uma resposta à tensão com os Estados Unidos, criada durante a Administração de Donald Trump, que acusou os aliados europeus de não contribuírem o suficiente para o orçamento da NATO e os 16 mil milhões de euros seriam acrescentados aos orçamentos comuns no espaço de dez anos. Ao mesmo tempo, o plano servia também para reconhecer o alerta dado por Emmanuel Macron em 2019 de que a organização formada em 1949 para responder à ameaça militar da União Soviética estava em “morte cerebral”, sem uma estratégia para o mundo multipolar do pós-Guerra Fria.

A França, no entanto, acredita que a ideia não beneficiará as prioridades militares francesas e carrega o risco de desviar a atenção e os recursos das capacidades de defesa dos estados-membros da União Europeia.

“Se a ideia é aumentar brutalmente a contribuição dos países para os orçamentos comuns e mudar a filosofia da NATO, passando da responsabilidade nacional para a diluição dessa mesma responsabilidade, a resposta da França será claramente não”, disse uma fonte do Ministério da Defesa francês à Reuters.

“Para nós, não é uma questão de NATO contra a Europa, mas sim da NATO contra a defesa nacional de cada estado membro”, adiantou a mesma fonte, acrescentando que Paris está, no entanto, receptiva para ouvir contra-argumentos e estudar os detalhes do plano. A França é um dos estados-membros da NATO que cumpre a meta de gastar 2% do PIB em defesa.

Um dos quatro diplomatas ouvidos pela Reuters revelou que a ministra da Defesa, Florence Parly, ficou descontente com a decisão de Stoltenberg de tornar público o esboço da proposta em Fevereiro. Jens Stoltenberg encontrou-se com Macron em Paris a 21 de Maio, quando elogiou o Presidente francês pelo “importante investimento da França em defesa”. Segundo um funcionário da NATO, as conversações foram construtivas e ficou a promessa de que os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa dos estados-membros irão discutir a proposta, parte do pacote de reformas da NATO preconizado por Stoltenberg para 2030, quando se reunirem a 1 de Junho próximo, em Bruxelas.

 
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