China quer acelerar ritmo de vacinação mas enfrenta problemas de adesão ao processo

A nova ambição de Pequim é vacinar mais de 64% da população até ao final do ano, para o país não ficar vulnerável quando os restantes países, com mais imunidade, começarem a abrir as portas ao exterior.

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Profissionais de saúde vacinam alunos contra a covid-19, na província de Shangon, China CHINA DAILY/Reuters

A China tem conseguido conter os focos de infecção por covid-19, mas nem por isso os seus esforços se reflectem na campanha de vacinação: apenas 4% da população foi vacinada. No entanto, as autoridades ambicionam superar a meta dos EUA em mais do dobro. A nova estratégia passa, por um lado, por uma ampla campanha de incentivo à vacinação; por outro, por ofertas de bens alimentares e promoções.

A nova meta passa por vacinar 40% da população até ao final de Junho e 64% até ao final do ano, segundo o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC-China). Nas últimas semanas o ritmo de vacinação tem acelerado, a um ritmo cerca de 10 em cada 100 pessoas, ainda muito atrás das 56 pessoas vacinadas em 100 nos EUA e das 50 em 100 no Reino Unido, de acordo com o New York Times.

“A China encontra-se num momento muito crítico. Quando os outros países têm uma campanha de vacinação muito eficaz e a China continua sem imunidade, isso pode ser muito perigoso”, disse aos media chineses Zhong Nanshan, um especialista em doenças respiratórias. Isto, dias depois de o país ter registado o maior aumento diário de casos dos últimos dois meses.

Um atraso na vacinação pode ter implicações “se os países desenvolvidos reabrirem as portas ao exterior, enquanto a China ainda se esforça por impedir o vírus de entrar”, explicou à Bloomberg Yanzhong Huang, director do Centro de Estudos de Saúde Global, da Universidade de Seton Hall em Nova Jersey.

Para conseguirem atingir os objectivos, os responsáveis chineses estão a mobilizar distritos e bairros locais, bem como o comércio, universidades e escolas para persuadir a população a tomar uma das cinco vacinas chinesas disponíveis no país. Mais: a campanha relaciona a inoculação contra o coronavírus com a manutenção do orgulho nacional e do lugar da China no mundo.

Ao mesmo tempo, existem várias promoções e ofertas para os vacinados. O New York Times dá conta de uma carrinha de gelados do McDonalds’s, perto de um centro de vacinação, que oferece um gelado na compra de outro aos vacinados - e parece estar a resultar, reconheceu um dos funcionários. Outras localidades e comércios também adoptaram estratégias semelhantes.

No entanto, a campanha tem despertado alguma desconfiança e vários residentes afirmam estar a ser obrigados a aceitar uma das cinco vacinas, refere o Washington Post.

Fraca adesão

Se os incentivos têm sido vários, por que não tem a população aderido à campanha? Uma das razões que pode explicar a fraca adesão é a contenção quase total do vírus. Estando a situação sanitária controlada, os residentes sentem pouca urgência em ser vacinados.

Também os escândalos relacionados com vacinas e o receio da falta de transparência das autoridades em relação às vacinas chinesas parecem estar a impedir uma adesão em massa.

De acordo com um inquérito divulgado em Fevereiro, com a co-autoria do CDC-China, menos de metade dos profissionais de saúde na província de Zhejiang estava disposta a ser vacinada e muitos profissionais referiam estar preocupados com os efeitos secundários.

Para reforçar os incentivos, as autoridades chinesas convocaram os membros do Partido Comunista Chinês para darem o exemplo. Outras medidas mais coercivas têm sido pensadas e aplicadas, que não diferem muito de outras pensadas e aplicadas noutros países.

Na cidade de Ruili, no Sudoeste da China, a vacina tornou-se obrigatória após um pequeno surto. Já na província de Hainan, foram fixados cartazes alertando que, quem recusasse ser vacinado, seria colocado numa lista negra, arriscando ser banido dos transportes públicos, de receber subsídios e outros benefícios. O governo local retrocedeu depois nas medidas.

Mas vários especialistas acreditam que a China tem capacidade para uma vacinação em massa, porque já o fez no passado. “Desde que [as autoridades] tenham abastecimento de vacinas e a capacidade de as administrar amplamente, não será problema tornar a vacinação obrigatória”, disse Benjamin Cowling, director do departamento de Epidemiologia e Bioestatística da Universidade de Hong Kong, à Bloomberg.

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