Jesus fica. Para Luís Filipe Vieira, a culpa da crise do Benfica é da covid-19

O líder “encarnado” prestou-se a analisar a crise no clube, com eliminação de grande parte das competições de futebol, mas acabou por apontar baterias ao surto de covid-19 que assolou o plantel no início do ano – retórica, de resto, já avançada por Jorge Jesus.

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Jorge Jesus não vai ser despedido, a covid-19 é a grande culpada pela crise no Benfica, a contestação à equipa é injusta e o clube repetiria, em toda a linha, o mercado de transferências que fez no Verão.

Em traços gerais, foi esta a base argumentativa de Luís Filipe Vieira na entrevista deste domingo à BTV, naqueles que foram 90 minutos de longos monólogos do líder benfiquista, apontado algumas ideias-base que surgem, habitualmente, nas aparições televisivas que faz.

Sem grande contraditório na BTV, o presidente “encarnado” prestou-se a analisar a crise no clube, mas apesar de no início da entrevista ter assumido a responsabilidade pelo fracasso, acabou, essencialmente, por apontar baterias ao surto de covid-19 que assolou o plantel no início do ano – retórica, de resto, já avançada por Jorge Jesus nas últimas semanas.

Falando de Jesus, Vieira garantiu ainda que o técnico vai continuar a comandar a equipa de futebol, porque “é um treinador competente”, e “passou a bola” ao amadorense em matéria de contratações. Jesus teve, segundo o presidente, dedo em todas as contratações feitas no Verão – investimento que, segundo Vieira, seria repetido na mesma medida e nos mesmos nomes. 

A arbitragem, tal como a covid, prejudicou o Benfica, crê Vieira – visão contrariada pelo especialista do PÚBLICO, Pedro Henriques  e, não havendo erros claros a apontar à estrutura, o presidente “encarnado” optou, sim, por apontar aos sócios do Benfica a responsabilidade pela mudança de paradigma. 

Para Vieira, a aposta na formação só deixou de ser prioritária porque os sócios assim quiseram, quando forçaram os despedimentos de Rui Vitória e Bruno Lage, técnicos que mais apreço tinham por essa via.

Confira as principais frases da entrevista ao presidente do Benfica:

Jorge Jesus vai continuar. Tem de cumprir o contrato. Então não é um treinador competente? Até as outras listas candidatas às eleições apoiavam o Jorge Jesus. Ele tem 12 títulos no clube. 

- Ninguém baixou os braços. Enquanto for matematicamente possível, o Benfica vai lutar pelo campeonato. Peço aos benfiquistas que não baixem os braços, até porque o segundo lugar também é importante. Temos a Taça de Portugal para conquistar também.

- Só pode haver um responsável [pelos maus resultados], que sou eu. Na hora da derrota não vale a pena andar à procura de fantasmas. O responsável sou eu.

- Explicações? Que não sirva de desculpa a ninguém, mas o mês de Janeiro fustigou-nos. Foram 27 casos de covid. Não vamos negar que há culpas de todos, até minhas. Mas, em Janeiro, a covid fustigou-nos. Os benfiquistas não devem menorizar aquilo que se passou, que foi penoso. Isto não é uma desculpa, é a realidade. E falo pelo meu caso: ainda não sou capaz de subir umas escadas sem parar.

- A profissão do jogador de futebol é correr, correr, correr. Quando não pode, não pode. Mas hoje já temos jogadores que correm mais de dez quilómetros. A situação vai normalizar-se, mais percalço menos percalço.

- Arbitragem? Basta vermos com os nossos olhos. Mal acabe o campeonato temos de dar a volta a isto. Quando veio o VAR todos pensámos que já tinha acabado o problema da arbitragem, mas só complicou. Há lances em que é impossível não ver [penáltis frente ao Moreirense]. Árbitros estrangeiros? Tudo o que ajude à verdade desportiva é bem-vindo.

- Eu não entendo esta contestação. Houve eleições há quatro meses. Em cada três sócios, dois votaram em mim. Esta contestação não faz sentido nenhum. É revoltante a pressão que fazem. Têm de entender que há alturas em que não podemos ganhar. E temos de continuar unidos na vitória e na derrota.

- O Benfica há pouco tempo fez um bi, um tri e um tetra. E não fosse um golo aos 90’ [Herrera, num Benfica-FC Porto] teríamos feito um penta. O Herrera nunca mais volta a fazer um golo desses.

- Quando houve os casos de covid, liguei ao presidente do Nacional, para adiarmos o jogo. Ele disse que não podia fazer isso, mas que adiava se eu lhe emprestasse o Diogo Gonçalves. É esta solidariedade que há no futebol.

- Contratações? Hoje, faríamos tudo igual. Quando contratámos Jesus, falámos com ele e não houve um jogador contratado que o Jorge não dissesse que sim. Houve dois que não conseguimos, o Cabrera e o Koch. Ele queria esses dois jogadores. Vertonghen não era bem aquilo que ele queria, mas, como não podíamos contratar o Cabrera, ele aceitou. O Jorge também quis muito o Everton. Darwin foi pedido do Jorge também. Quis o Gilberto, contratámos o Gilberto. Sobre o Pedrinho, o Jorge até já tinha falado dele no Brasil, mas depois disse-me: “Luís, enganei-me sobre o Pedrinho. Ele é um craque. Tenho de o preparar bem, mas aquele pé esquerdo é diabólico”. Agora veio o Veríssimo, que o Jorge sempre quis. Tudo foi com consentimento do Jorge Jesus.

- Se calhar houve um factor que não ponderámos, que foi um erro: a adaptação dos jogadores, sobretudo os brasileiros. Temos experiência do que é um jogador adaptar-se ou não. Mas o certo é que não é pela falta de qualidade deles, são todos internacionais. É preciso tempo.

- Estávamos todos convencidos de que iríamos ultrapassar o Arsenal na Liga Europa. O Jorge Jesus nessa noite nem dormiu. Essa ficou-nos atravessada.

- Se há alguém que quer apostar na formação sou eu. Mas quando tivemos um treinador para consolidar essa política [Bruno Lage], os benfiquistas não o quiseram manter. Os sócios do Benfica têm de assumir que querem esse caminho. Não podemos é ter um treinador como Bruno Lage ou Rui Vitória e virmos dizer “isto só com miúdos não vai lá”. Se o Benfica fosse meu, seria esse o caminho [aposta na formação]. Mas o Benfica não é meu, tenho de ouvir os sócios. O caminho do Seixal é o caminho certo.

- ​A única antecipação de receitas foi a que prometi, que foi usar parte do dinheiro do contrato da NOS para liquidar a dívida do Benfica. Tenho cumprido escrupulosamente. Antes da pandemia, o Benfica tinha pago tudo ao sistema financeiro. Se houver mais um ano de pandemia, não sabemos. Mas, no dia em que isto normalizar, é o nosso clube que vai recuperar mais depressa.

- Há jogadores da formação que, quando chegam à equipa principal, já têm 15 anos de Benfica. E se calhar correm mais do que os outros. Há outra fornada que tem de vir cá para cima. O Florentino tem de regressar, o Gedson tem de regressar.

- O Governo tem de nos respeitar e apoiar a indústria do futebol. Se tivermos de nos juntar e decidirmos que não há futebol, assim será. Queremos uma compensação que seria mais do que justa para aquilo que nós, clubes, representamos para Portugal.

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