Os números do principesco contrato de Messi: 386 mil euros por dia

Jornal El Mundo revelou detalhes do vínculo assinado entre o argentino e o Barcelona, que totaliza mais de 555 milhões de euros em quatro épocas.

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Reuters/SERGIO PEREZ

É um valor absurdo, verdadeiramente impressionante mesmo para os padrões do futebol milionário dos grandes colossos europeus. O contrato actualmente em vigor entre Lionel Messi e o FC Barcelona atinge, pasme-se, os 555.237.619 euros brutos por quatro temporadas. Os detalhes do vínculo, absolutamente principesco, são avançados neste domingo pelo jornal espanhol El Mundo.

Vamos a contas, a aritmética simples: estamos a falar de quase 139 milhões de euros por temporada, de 11,6 milhões de euros por mês, de aproximadamente 386 mil euros por dia, de 16 mil euros por hora. Neste bolo astronómico incluem-se salários, direitos de imagem, prémios por objectivos e uma série de outras variáveis. Se aplicarmos a estes rendimentos os respectivos impostos e deduções, obtemos um montante final, líquido, de perto de 297 milhões de euros.

O contrato foi assinado em Novembro de 2017 e abrange quatro temporadas, precisamente de 2017-18 até 30 de Junho de 2021. Foi o desfecho de um longo processo negocial, de um braço-de-ferro em que o argentino tentou adiar ao máximo a decisão, porque ponderava a saída do clube num momento de indefinição interna e de convulsões na Catalunha, por força do referendo.

O ónus que recai sobre as finanças do Barcelona tornou-se ainda mais pesado em função da redução drástica de receitas provocada pela pandemia de covid-19. O clube já tem vindo a fazer um esforço para reduzir despesas, apelando aos jogadores mais bem pagos para reduzirem temporariamente os salários, mas a verdade é que o mais recente relatório e contas é dramático – a dívida de curto prazo, por exemplo, subiu 225 milhões de euros numa só época.

Decompondo a “lotaria”

Num contrato desta dimensão, todos os valores impressionam. E se há algo que estes números atestam é também a força negocial de um jogador de classe ímpar que, ao longo dos anos, foi ganhando um peso descomunal dentro do balneário e que, de certa forma, foi deixando o Barcelona dependente da sua arte. Ou, pelo menos, disso foi capaz de convencer os dirigentes blaugrana.

Só o prémio de assinatura do actual vínculo é elucidativo: 97,9 milhões de euros, a receber em três parcelas. Um valor que, por si mesmo, rivaliza com algumas das maiores transferências de sempre do futebol mundial. Mas há mais: por disputar apenas 60% dos jogos (e dizemos apenas porque Lionel Messi é um titular incondicional, que só uma lesão afastará das escolhas), o avançado argentino recebe um extra de 1,65 milhões de euros, repetindo a dose com a mera qualificação do clube para a Liga dos Campeões. 

Estamos a falar, portanto, de acréscimos de retribuição quase automaticamente garantidos. Outro exemplo? O apuramento do Barcelona para os oitavos-de-final da Champions, algo que obviamente tem sido uma regra, traduz-se em mais 946 mil euros nos bolsos de Lionel Messi, e a passagem aos quartos-de-final representa um extra de 1,4 milhões. No caso (aí, sim, mais improvável) de conquistar a prova, estão previstos 3,5 milhões de euros. E esta é uma novidade absoluta nos vínculos que tem firmado ao longo dos anos com os catalães.

Esta “lotaria” permanente prossegue com um manancial de outros objectivos colectivos e individuais, desde a conquista do campeonato (2,4 milhões de euros) à vitória da Taça do Rei (591 mil euros), passando pelas distinções da FIFA e da UEFA. Tudo isto concorre para o conceito bastante mais abrangente de “retribuição” que consta do contrato, já que o vencimento propriamente dito, os prémios de jogo, as compensações por viagens privadas e os bónus de antiguidade totalizam 61,3 milhões fixos por temporada. O resto decorre dos exemplos acima citados e dos contratos paralelos de direitos de imagem.

O preço a pagar pela fidelidade

A forma como o desencanto na relação se foi instalando ao longo dos anos ganhou particular notoriedade no arranque da presente época desportiva, quando Messi assumiu a vontade de deixar a Catalunha e começou a especulação sobre uma possível transferência para o Paris Saint-Germain. Uma posição de força que surgiu meses depois de ter expirado uma cláusula totalmente invulgar no contrato, a de fidelidade ao Barcelona.

No momento da assinatura, a direcção do clube, então liderada por Josep Maria Bartomeu, quis certificar-se de que conseguia manter o jogador nos quadros durante o maior período possível de tempo e o acordo a que chegaram para o fim da vigência desse pressuposto foi 1 de Fevereiro de 2020. Essa “lealdade” foi paga a peso de ouro: 66,2 milhões de euros.

Este é também um sinal evidente da cedência da direcção do Barcelona no quadro das negociações, já que o jogador poderia desvincular-se do clube, sem qualquer penalização, mais de um ano antes do fim do contrato. No limite, revela o El Mundo, Lionel Messi poderia continuar a receber mesmo sem representar o Barça. Um raciocínio que, de resto, se aplica também no caso de uma suspensão aplicada pela FIFA que o impedisse de competir – mesmo assim, nesse cenário, mantinha na íntegra o vencimento.

O tratamento de excepção estende-se também aos contratos com patrocinadores, já que o Barcelona se compromete a respeitar todos os vínculos do argentino, mesmo com sponsors que sejam concorrentes no mercado dos patrocinadores oficiais do clube. E, no cenário de uma Catalunha independente, o jogador tem direito a sair sem que haja direito ao pagamento de qualquer compensação aos “blaugrana”.

A reacção do FC Barcelona

O FC Barcelona já reagiu, entretanto, à publicação do diário espanhol e promete tomar medidas. “No que respeita à informação publicada no jornal El Mundo, relativa ao contrato profissional assinado entre o FC Barcelona e o jogador Lionel Messi, o clube lamenta a sua publicação, dado que se trata de um documento privado e abrangido pelo princípio de confidencialidade entre as partes”, pode ler-se num comunicado emitido nesta manhã.

Rejeitando liminarmente qualquer responsabilidade pela publicação do documento, a direcção do clube promete “tomar as medidas legais apropriadas contra o El Mundo pelos eventuais danos causados” e manifesta total apoio a Lionel Messi, face a qualquer tentativa de desacreditar o jogador e prejudicar a relação com o clube.

O jornal Marca também dá conta da insatisfação de Lionel Messi face ao conteúdo da notícia e adianta que a equipa de advogados do argentino pondera avançar com um processo judicial e processar também as cinco pessoas que estiveram envolvidas na assinatura e que tinham conhecimento deste contrato.

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