INE: Pressão dos prazos e sobrecarga afectam trabalhadores no segundo trimestre

Últimos dados do inquérito do emprego sobre segurança do trabalho apontam para substituição da construção pela agricultura e indústria como sectores com registo de mais incidentes no segundo trimestre, o mais penalizado pelo confinamento e com um milhão de pessoas a trabalhar a partir de casa

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Paulo Pimenta

“A forte pressão de prazos ou sobrecarga de trabalhos (43,1%) e o contacto com pessoas problemáticas mas não violentas (clientes, pacientes, alunos, cidadão”, com 37,1%, foram as justificações individualizadas com maior frequência no último inquérito de emprego do INE, referente ao segundo trimestre de 2020, como “factores no trabalho que podem afectar o bem-estar mental e a saúde física”.

Os dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) são referentes ao módulo sobre “acidentes de trabalho e problemas de saúde relacionados com trabalho”, recolhido na mesma altura em que foi feito o inquérito do emprego referente ao segundo trimestre de 2020.

Compara com 2013, porque foi a última vez que esta parte do inquérito foi feita, contextualiza o INE, relembrando que naquela data “se assistia ao terceiro ano consecutivo de contracção da actividade económica”, com uma redução de 2,6% do emprego. O que acontece de novo, explica. “No contexto da pandemia, a informação disponível para os três primeiros trimestre do ano aponta para uma redução da actividade económica” também.

Um milhão em casa

Há, contudo, diferenças, sublinha o INE, relembrando “o elevado volume de pessoas empregadas a trabalhar a partir de casa ou em regime de layoff simplificado no segundo trimestre de 2020”.

Com a pandemia declarada no início de Março, o primeiro estado de emergência a iniciar-se a 19 de Março e a prolongar-se em Abril e o confinamento a ocorrer lentamente a partir de Maio, “a população  empregada dos 15 aos 74 anos a trabalhar a partir de casa ascendeu a mais de 1 milhão de pessoas, quase um quarto da população empregada daquele grupo etário, o que poderá ter constituído um dos factores para a redução da incidência dos acidentes de trabalho em 2020”.

No segundo trimestre deste ano, 165,1 milhares de pessoas dos 15 aos 74 anos empregadas nesse período ou nos doze meses anteriores, “referiram ter tido pelo menos um acidente de trabalho”, o que representa 3,2% da população empregada. Em 2013, esta percentagem foi 4%.

De distinta forma, 482,5 milhares de pessoas dos 15 aos 74 anos referiram ter tido “algum problema de saúde causado ou agravado pelo trabalho” durante o mesmo período de análise, o que representa menos 56,7 milhares de pessoas do que em 2013.

Com a quase um quarto da população empregada em teletrabalho e redução substancial da actividade económica, com paragem parcial de indústrias e serviços não essenciais (em estado de emergência) e limitadas (em estado de calamidade), os sectores normalmente mais afectados alteraram-se.

Em 2020, os trabalhadores da construção “já não são os mais afecetados pela ocorrência de acidentes de trabalho nos doze meses anteriores à entrevista”, com o registo de uma diminuição do risco de acidentes nesta actividade, “de 5,8% em 2013 para 4%” este ano, com base nos dados recolhidos referentes até ao segundo trimestre do ano.

Os “trabalhadores da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca”, essenciais ao abastecimento alimentar e os “das indústrias extractivas, transformadoras e produção e distribuição de electricidade, gás e água”, essenciais ao consumo doméstico e industrial, foram os sectores mais afectados pelo “risco de acidente”, de forma equitativa, com “4,3% em ambos os casos”.

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