Esgotos de dois milhões de portugueses estão a ser monitorizados para detectar coronavírus

Estações de Tratamento de Águas Residuais de Alcântara, Beirolas, Guia, Gaia Litoral e Serzedelo II e efluentes do Hospital Curry Cabral (Lisboa), do Hospital Santos Silva (Vila Nova de Gaia) e do Hospital Senhora da Oliveira (Guimarães) estão a ser monitorizadas para detectar presença do novo coronavírus.

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ETAR de Alcântara, Lisboa Enric vives-rubio

As águas residuais de cinco Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) nos grandes centros urbanos e efluentes de três grandes hospitais já estão a ser analisadas, no âmbito do projecto de investigação COVIDETECT, coordenado pela Águas de Portugal e que foi lançado em Abril, avança o Jornal de Notícias (JN) na edição deste sábado. Neste sentido, estão a ser monitorizados os esgotos de cerca de dois milhões de portugueses com o objectivo de detectar rapidamente a presença do novo coronavírus e antecipar uma nova vaga da covid-19 em Portugal, sendo que, no futuro, as autoridades de saúde poderão receber informações, em tempo real, através de uma ferramenta digital.

Segundo o JN, estão a ser vigiadas actualmente as ETAR de Alcântara, Beirolas, Guia, Gaia Litoral e Serzedelo II, estações estas que se localizam “nos grandes centros urbanos de Lisboa, Cascais, Gaia e Guimarães, abrangendo as regiões com maior número de casos de covid-19” e que servem cerca de 20% da população portuguesa, disse ao mesmo jornal Nuno Brôco, engenheiro do Grupo Águas de Portugal. Estão também a ser monitorizadas as redes de drenagem dos efluentes do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, do Hospital Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, e do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, havendo possibilidade de esta rede ser alargada.

Os especialistas estão a recolher amostras das águas residuais à entrada e saída das estações de tratamento para analisar a circulação do novo coronavírus. “Já era sabido que o vírus era excretado pelas fezes, não era novidade a sua presença nas águas residuais”, afirma Nuno Brôco, salientando que a investigação não pretende “simplesmente quantificar a presença de material genético do vírus nos esgotos”, mas também “obter informação sobre a circulação do vírus na comunidade”, uma vez que “os indivíduos infectados excretam o vírus vários dias antes do aparecimento de sintomas”. A ferramenta poderá, assim, “contribuir de forma determinante para a implementação atempada de medidas de saúde pública preventivas nas áreas geográficas em estudo”, diz, acrescentando que os resultados deverão estar disponíveis no final do ano.

Segundo o JN, foram encontrados vestígios do novo coronavírus numa amostra de águas residuais de Barcelona nove meses antes de o SARS-CoV-2 aparecer na China. Porém, embora tenha também já sido detectado em esgotos na Holanda, Estados Unidos e Suécia, os estudos sugerem que o vírus não se encontra activo nas águas residuais, pelo que não será infeccioso.

O projecto conta ainda com a colaboração da Faculdade de Ciências e do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, das empresas Águas do Tejo Atlântico, Águas do Norte e SIMDOURO, da Direcção-Geral da Saúde, da EPAL, Águas do Douro e Paiva, da APA e da ERSAR. Além disso, o COVIDETECT faz parte de um estudo da Comissão Europeia que envolve 17 países.

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