Mercados mais serenos com expectativa de acordo na UE

Taxas de juro da dívida não subiram apesar de ainda não haver acordo em relação a um fundo de recuperação europeu. Expectativa de possível entendimento ainda esta segunda-feira está a acalmar os investidores

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LUSA/FRANCISCO SECO / POOL

Os sinais de que, ao fim de três dias de intensas negociações, os líderes europeus estão esta segunda-feira um pouco mais próximos de chegar a um entendimento em relação a um fundo de recuperação estão a ser suficientes para manter os mercados calmos, com as taxas de juro da dívida pública dos países periféricos a registarem, para já, ligeiras descidas.

É verdade que o entendimento entre as diversas capitais europeias está a ser muito difícil e que o fundo de recuperação que está actualmente a ser discutido já é, nesta altura das negociações, bem menos ambicioso do que a proposta inicial da Comissão Europeia. Mas ainda assim a perspectiva de que um entendimento será possível quando esta segunda-feira às 15h (hora de Lisboa, 16h em Bruxelas) os líderes se voltarem a reunir parece estar a ser bem recebida pelos mercados.

Nos primeiros minutos da sessão, as taxas de juro da dívida dos países chamados periféricos da zona euro, que incluem Itália, Espanha e Portugal, registaram ligeiras descidas. E o euro conseguiu uma moderada apreciação face ao dólar.

De acordo com a agência Reuters, a taxa de juro da dívida pública portuguesa a 10 anos estava, às 9h desta segunda-feira 0,427%, um valor que fica ligeiramente abaixo do fecho da passada sexta-feira.

No caso da dívida pública italiana – aquela em que se concentram as maiores atenções quando se analisa a reacção dos mercados aos desenvolvimentos políticos da negociação de um de um fundo de recuperação europeu –, a taxa de juro da dívida a 10 anos estava a diminuir para valores muito próximos de 1,2%, registando o valor mais baixo desde o início do passado mês de Março.

Um desentendimento completo entre os líderes europeus que conduzisse ao adiamento do lançamento do pacote de ajuda proposto pela Comissão Europeia (que inclui um orçamento da UE para os próximos sete anos com um valor ligeiramente acima de um bilião de euros e um fundo de recuperação extraordinário de 750 mil milhões de euros) seria, de acordo com a generalidade dos analistas, motivo para nova instabilidade dos mercados, com as taxas de juro da dívida dos países periféricos provavelmente a disparar.

Durante as tensas negociações deste fim-de-semana em Bruxelas, este cenário nunca esteve afastado, e, mesmo agora, embora haja sinais de aproximação entre os países, não pode ainda ser inteiramente excluído.

“Ainda não estamos lá, as coisas ainda podem ir abaixo. Mas parece um pouco mais esperançoso do que nos momentos ontem à noite em que eu pensei que estava tudo acabado”, afirmou esta madrugada o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, que tem tido um papel central nas negociações.

Enquanto a apoiar a proposta da Comissão Europeia de um plano de recuperação de 750 mil milhões de euros (com 500 milhões de euros em subvenções a fundo perdido) estiveram a maioria dos países, incluindo Portugal e os outros países do sul, mais a Alemanha e a França, do outro lado, a fechar a porta a um acordo estiveram, quase irredutíveis, os chamados países “frugais”, que incluem os Países Baixos, a Áustria, a Suécia, a Dinamarca e, este fim-de-semana, também a Finlândia.

A principal preocupação destes Estados-membros é baixar o montante das subvenções previstas no programa e esse objectivo parece estar a ser atingido.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou esta madrugada a suspensão das negociações até às 16h desta segunda-feira, em Bruxelas, (quando forem 15h em Lisboa), para preparar uma proposta que possa ser consensual entre todos os países.

Aparentemente, Alemanha, França e países periféricos estão agora próximos de aceitar um fundo de recuperação em que as subvenções são de 390 mil milhões de euros, um valor 110 mil milhões abaixo do proposto pela Comissão e menos 10 mil milhões do que os 400 mil milhões que, durante o fim-de-semana tinham sido apresentados como a linha vermelha que estes países não estavam dispostos a ultrapassar.

Entre esta versão menos ambiciosa do fundo de recuperação e um desentendimento completo (que adiaria uma solução pelo menos durante mais algumas semanas) a opção dos líderes europeus neste momento parece ser aceitar a realização de cedências. O medo em relação a uma reacção negativa dos mercados pode ser um dos motivos para essa eventual decisão.

Curiosamente, no domingo, o dia em que a perspectiva de um desentendimento era mais forte, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) – a instituição que tem vindo ao longo dos últimos meses a controlar as ansiedades dos mercados com as suas compras de dívida – tentou retirar algum dramatismo em relação a um fracasso nesta cimeira, pedindo acima de tudo um fundo de recuperação ambicioso. “Idealmente, o acordo dos líderes deve ser ambicioso em termos de dimensão e composição do pacote, mesmo que isso possa levar um pouco mais de tempo”, afirmou Christine Lagarde.

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