Peregrinação a Fátima é virtual e sem sair de casa: recinto do santuário encerrado a peregrinos a 12 e 13 de Maio

Este ano a peregrinação não será feito com os pés, mas “com o coração”, explica o reitor do Santuário, convidando os peregrinos a realizarem uma oração diária que será disponibilizada na internet e a colocarem, todas as noites, uma vela à janela, até à noite de 12 de Maio

Foto
Este ano, pela primeira vez, não haverá peregrinos no 13 de Maio em Fátima Daniel Rocha

É “doloroso”, mas este ano não haverá qualquer peregrino no Santuário de Fátima, a 12 e 13 de Maio. A expressão é do reitor do santuário, o padre Carlos Cabecinhas, que esta segunda-feira confirmou a decisão tomada há cerca de um mês, numa comunicação em que explica como, este ano, a peregrinação terá de ser virtual, e na casa de cada um. Para que não haja qualquer tentação, o recinto estará encerrado na tarde de 12 de Maio e até ao final da manhã do dia 13. No seu interior, decorrerão as celebrações habituais, nos locais de sempre, mas sem qualquer peregrino e com “o número de pessoas estritamente necessário”.

É a primeira vez, desde 1917, que não estarão peregrinos em Fátima a 13 de Maio, e esse será “um momento doloroso” para todos os que pretendiam ali estar, mas também para o próprio santuário, que “existe para acolher peregrinos”, referiu o reitor do local, num vídeo disponibilizado na página da agência Ecclesia. “Por causa da pandemia que nos atinge não é possível termos as multidões a encher o santuário”, justificou o padre Carlos Cabecinhas, acrescentando: “Esta decisão difícil é também um acto de responsabilidade para com os peregrinos, defendendo a sua saúde e o seu bem-estar. Tomar agora esta decisão, significa procurar criar condições para podermos retomar o mais rapidamente as peregrinações a este lugar.” 

Fonte do Santuário de Fátima confirmou ao PÚBLICO que foram canceladas peregrinações de 358 grupos “dos cinco continentes”, previstas para todo o mês de Maio, a maior parte das quais de pessoas que deveriam estar no local nos dias 12 e 13. E a todos os que têm telefonado para o local em busca de informações, a resposta é sempre a mesma: que não vão, porque não lhes será permitido o acesso. 

Isto não significa que não existirá peregrinação de todo, ela só teve de se adaptar à actual situação de pandemia. “Não se peregrina só com os pés, mas também com o coração e o que propomos é que façais connosco uma peregrinação com o coração”, esclarece o reitor de Fátima no vídeo divulgado esta segunda-feira.

E, tal como nos outros anos, em que os peregrinos se aproximam de Fátima por etapas, também esta peregrinação virtual e sem sair de casa seguirá o mesmo processo, estendendo-se desde esta segunda-feira até ao dia 12, num caminho “que não é físico, mas interior”, disse o padre Carlos Cabecinhas.

Assim, os fiéis são convidados a visitar as páginas da internet do Santuário (o site e as redes sociais), que a partir desta tarde disponibiliza uma oração diária, em português, inglês e espanhol, a que os interessados deverão dedicar algum tempo do seu dia. E em cada noite, pede-se a todos que coloquem uma vela à janela, ininterruptamente, até ao momento da procissão das velas que tradicionalmente percorre o recinto do santuário na noite de 12 de Maio. “Teremos uma bela procissão das velas difundida pelos lugares onde viveis e vos encontrais. Neste Maio, pedimos que não venhais a Fátima nos dias 12 e 13, mas que façais esta peregrinação pelo coração e acompanhais as celebrações através dos meios de comunicação social, da internet e das redes sociais”, sintetizou o padre Cabecinhas.

E se isto é o que tem sido pedido, insistentemente, aos peregrinos de Fátima, tal não significa que as habituais cerimónias no recinto do santuário não vão acontecer. Está previsto que todas as celebrações habituais do 12 e 13 de Maio decorram à hora habitual e nos locais do costume, mas sem a presença de qualquer peregrino. “Fátima vai celebrar o 12 e 13 de Maio na Capelinha das Aparições e no recinto de oração, sem a presença de qualquer peregrino”, explica fonte do santuário.

Vai, por isso, haver a reza do terço, a procissão das velas e uma pequena celebração da palavra no dia 12 e também a missa do dia 13 em frente à basílica, como é costume. Só que todos os acessos ao recinto vão estar encerrados e as cerimónias contarão “com o menor número de pessoas estritamente necessário”, refere a mesma fonte. “A peregrinação vai ser presidida pelo senhor bispo de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, e concelebrada por sacerdotes, capelães do santuário. A celebração contará também com ministros, leitores que são acólitos, tudo numa perspectiva minimalista e com funcionários de Fátima”, esclarece.

Os pormenores que permitam cumprir as regras inerentes à emergência sanitária causada pela pandemia ainda estão a ser trabalhados.

Numa entrevista à SIC no sábado à noite, a ministra da Saúde, Marta Temido, abrira a possibilidade de as celebrações do 13 de Maio, em Fátima, se realizarem com várias pessoas, desde que fossem “respeitadas as regras sanitárias”. No dia seguinte, o bispo de Leiria-Fátima esclarecia em comunicado que se mantinha a intenção já anunciada em Abril de que, este ano, não seria permitida a participação física de peregrinos nas celebrações.

Posição elogiada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que em declarações à Rádio Montanha, da ilha açoriana do Pico, admitiu também sentir falta das celebrações religiosas. “Sou o primeiro a sentir a falta de eucaristias, procissões, festas tradicionais. Mas isso por um valor maior: o direito à vida e à saúde. Isso aplica-se exactamente a 13 de Maio.” 

Lembrando a dimensão que a peregrinação de Maio costuma atingir, com muitos milhares de pessoas concentradas no recinto do Santuário, o Presidente da República considerou: “Todos nós temos a noção de que em meados de Maio ter este número de pessoas em peregrinação era de facto o contrário do que a Igreja tem defendido e bem, a salvaguarda do direito à vida e à saúde.”​

Esta segunda-feira, o PÚBLICO noticiou que o Governo irá accionar, para as celebrações de Fátima, uma autorização que permite a realização de eventos com mais de dez pessoas, algo que não está permitido no actual estado de calamidade em vigor.​

Notícia actualizada com as declarações do Presidente da República

Sugerir correcção