Covid-19: TVI retira reportagem em que dizia que Norte é mais afectado por ter população “menos educada”

A reportagem, que tentava encontrar uma explicação para a existência de mais casos diagnosticados de covid-19 na região norte, foi emitida nesta segunda-feira, dia 13 de Abril, no Jornal das 8, da TVI. A direcção do canal emitiu nesta terça-feira um comunicado em que pede desculpa pela “construção de uma frase infeliz no ecrã”.

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NELSON GARRIDO

A TVI retirou na manhã desta segunda-feira do seu site uma reportagem em que dizia que a população da região norte era mais afectada pela covid-19 por ser “menos educada”, “mais pobre e envelhecida” e por estar “muito concentrada em lares”.

A peça, que tentava encontrar uma explicação para o facto de a região norte estar a ser a mais afectada pela pandemia, foi emitida nesta segunda-feira, dia 13 de Abril, no Jornal das 8 da TVI. Na reportagem, foram ouvidos dois especialistas que avançaram com algumas explicações para a disparidade do número de casos detectados de covid-19 (e também de mortes relacionadas com a doença) entre o Norte e as restantes regiões do país. Algumas das pistas apontadas pelos especialistas passavam pelas ligações comerciais do Norte de Portugal a Espanha e a Itália, à elevada concentração populacional, a uma “estrutura social" diferente e a uma economia muito concentrada em indústrias que “não podem recorrer ao teletrabalho”.

No entanto, no decorrer da reportagem, a frase “população menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares” era exibida no oráculo da peça e apresentava, assim, outras razões para esta disparidade.

Numa longa publicação na sua conta do Facebook, Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, acusou o canal de televisão de “portofobia” ao “desinformar” os espectadores. “Assim se pede à TVI para que contribua nesta campanha de informação correcta, rigorosa e clara e que não leve à criação de estigmas e mitos que, no limite, prejudicam o combate à doença. E não foi isso que ontem fez a TVI, ao desinformar”, lê-se na publicação de Rui Moreira.

Na manhã desta terça-feira, através do Twitter, Sérgio Figueiredo, director de Informação do canal, veio já pedir desculpas pelo teor da reportagem e pela “construção de uma frase infeliz no ecrã”, assegurando que a frase em questão foi “por muitos interpretada como uma ofensa às gentes do Norte”, algo que não era o “propósito” da TVI. O canal divulgou já um comunicado em que pede desculpas pelo sucedido e que está disponível na sua página.

“A autora da reportagem recolheu a análise de especialistas, dois aceitaram ser entrevistados para a peça. Questionou algo relevante, falou com quem sabe e produziu uma reportagem com uma intenção genuinamente construtiva e socialmente relevante. Isto não justifica, porém, a construção de uma frase infeliz no ecrã, nem a parte do texto que a suportava. Nomeadamente aquela que, entre as razões demográficas e sociológicas indagadas, sugeria níveis de educação abaixo da média nacional”, escreveu Sérgio Figueiredo.

O director de Informação do canal generalista escreve ainda que a TVI mantém “uma relação de grande proximidade com as populações e de ligação à região”, algo a que pretende dar continuidade. “Com a mesma humildade que a todos pedimos desculpas por um erro que somos os primeiros a lamentar, temos a convicção de que a TVI não deve a ninguém, em esforço, em tempo de antena, em grandes eventos desportivos e culturais que promovemos ou patrocinamos, a relevância que o Norte merece e justifica na mancha de cobertura informativa que diariamente, semana após semana, anos a fio, aqui lhe temos dedicado e que continuaremos a fazê-lo”, lê-se no comunicado.

O PÚBLICO contactou a direcção da TVI, que remeteu esclarecimentos adicionais para o comunicado e assegurou que a reportagem foi retirada do site do canal.

Casos importados explicam números do Norte

A região norte do país ultrapassou nesta terça-feira os dez mil infectados, contabilizando 59% dos casos nacionais. Graça Freitas, directora-geral da Saúde, explicou em conferência de imprensa que esse maior foco epidémico, com a dinâmica das doenças infecciosas, tem muito que ver “com a quantidade de casos iniciais”.

“Soubemos desde o primeiro dia que foi na região norte que existiu uma grande concentração de casos importados”, lembrou a directora-geral da Saúde, concentração que pode ser explicada pela “coincidência” da deslocação de muitos empresários da região até à Lombardia, o epicentro do surto em Itália. A partir desses casos importados, “houve muitas cadeias de transmissão secundárias”. com José Volta e Pinto

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