André Ventura ameaça demitir-se da presidência do Chega e convoca eleições para Setembro

Deputado foi alvo de críticas internas por se ter abstido na votação da renovação do estado de emergência quando tinha sido sempre um acérrimo defensor dessa solução. Ventura argumentou não poder admitir a medida prevista de libertação de presos.

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André Ventura votou contra o estado de emergência LUSA/ANDRÉ KOSTERS

André Ventura estará prestes a apresentar a demissão de presidente do partido Chega depois das críticas internas por se ter abstido na votação da renovação do estado de emergência, na passada quinta-feira, adiantou o jornal online Observador.

Questionada pelo PÚBLICO, a assessoria de comunicação do Chega confirmou entretanto que o presidente “vai convocar uma convenção nacional para o próximo mês de Setembro”, mas sem especificar se André Ventura se demite da presidência do partido entretanto. O líder do partido e deputado prometeu uma comunicação aos militantes e dirigentes do Chega ainda durante este sábado.

O silêncio do partido, sempre lesto a reagir a notícias sobre si, deixa antever que a situação interna poderá estar, de facto, complicada. Sobretudo numa altura em que André Ventura foi o primeiro a avançar oficialmente para a corrida presidencial de Janeiro do próximo ano. Mas ir a eleições para presidente do partido novamente e apenas quatro meses antes das presidenciais tornaria Ventura um líder ainda mais reforçado.

Há duas semanas, André Ventura tinha votado a favor da primeira autorização do Parlamento ao Presidente da República para a declaração do estado de emergência e o líder do Chega fora até o primeiro a defender essa declaração há várias semanas, argumentando com a necessidade de fechar fronteiras terrestres e marítimas e cancelar todos os voos. Porém, esta semana decidiu pela abstenção por não concordar com a medida prevista para a libertação de alguns presos – uma forma de procurar diminuir a lotação dos estabelecimentos prisionais e prevenir o contágio por coronavírus. Também se abstiveram, mas por motivos diferentes, o PCP, o PEV e Joacine Katar Moreira, enquanto a Iniciativa Liberal votou contra e PS, PSD, CDS, BE e PAN votaram a favor.

“O Chega não poderá aceitar a libertação de presos na cadeia, por muito de nos digam que é uma orientação da OMS”, declarou no Parlamento. “Não aceitamos que uma crise de saúde se torne uma crise de impunidade. Pedimos um estado de emergência, mas não o que permita pôr bandidos nas ruas. Esta é a verdade.” O estado de emergência “é para controlar uma pandemia e não para gerar o pandemónio”, alertou.

Na sua página oficial da rede Facebook, André Ventura tinha já avisado na véspera da discussão e votação no Parlamento que “talvez” até poderia votar contra. E avisava: “Tenho consciência de que ao votar amanhã vincularei todo o partido a uma posição. Faço-o, como sempre, em total lealdade para com os militantes do partido e com a minha consciência. Assumirei total responsabilidade pelas consequências políticas dos meus actos!”

Numa publicação na noite de quarta-feira, o líder do partido assumia que devia uma explicação aos militantes e aos portugueses. Afirmava que o dia seguinte seria “histórico” por se ir votar a renovação do estado de emergência, recordava que o partido defendera desde o início a “tomada de medidas fortes e assertivas que impedissem que Portugal fosse assolado por uma enorme crise de saúde pública”, e que isso devia ser feito através da declaração do estado de emergência.

“Mas nunca defendi – nem posso defender que o estado de emergência seja pretexto para libertar presos das cadeias, e o decreto hoje conhecido do Presidente da República abre caminho para isso mesmo. Não o posso aceitar em consciência! Viola aquilo em que acredito mais profundamente!”, escrevia André Ventura. Foi isso que disse também no dia seguinte a António Costa quando subiu à tribuna para discursar no plenário.

No Facebook, Ventura argumentava: “Daqui a uns meses vamos estar a lutar contra uma terrível crise económica e a última coisa que precisamos é de mais bandidos à solta. De novas vagas de criminalidade!” E recusava “este estado de emergência de feições socialistas”.

Ainda na quinta-feira, André Ventura fez três publicações na mesma página oficial sobre o seu sentido de voto, insistindo na ideia de que “não ficaria bem” com a sua consciência se tivesse votado a favor o decreto nos moldes em que é proposto. “Queremos o estado de emergência, mas não um Estado que coloque ainda mais bandidos cá fora. Queremos combater a pandemia e não criar um pandemónio”, escrevia noutro. E num terceiro, em que partilhava a notícia da TVI sobre o pedido da defesa de Armando Vara para a sua libertação por razões humanitárias, o deputado dizia: “A prova de que hoje tinha razão em tudo o que disse no Parlamento. Fico muito feliz em não ter associado o Chega à crise de impunidade que aí vem.”

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