Quando é impossível aguentar a intensa carga que a universidade nos impõe

Janeiro é o pior mês, é um mês inteiro de exames. Pensei que conseguia manter a mesma postura durante estas semanas, mas nas últimas duas não consegui mais.

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São 7h15 e o alarme toca. Mais um dia em que duas forças me puxam, uma de volta para a cama porque as horas de sono não foram suficientes, e outra que me atira para fora da cama para retornar à Library of Science porque, caso contrário, não arranjo lugar para me sentar. Fantástico como a mente nos engana e nos coloca neste constante desejo de evasão das nossas responsabilidades. Sim, ser estudante é uma grande responsabilidade, ou pelo menos é assim que eu vejo estes anos de infinito trabalho.

O ar gélido da manhã ajuda a refrescar a cara na viagem de bicicleta de casa à universidade. Por volta das 8h40 arranjo o meu lugar preferido, junto ao pilar do lado esquerdo e do lado direito uma imensidão de espaço onde posso colocar os meus papéis. Tiro o computador, os auscultadores, lápis na mão e olhos no ecrã do computador. Continuar com os exercícios de ontem, rever a matéria que vou trabalhar neste dia, fazer os exercícios de hoje.

Pela primeira vez fiz um plano em que cada dia faço duas aulas de uma cadeira e isto continua até à data do exame. E depois vem outro. Este período tenho cinco. Uma espécie de “gira o disco e toca o mesmo” porque é sempre assim. Já perdi a conta dos recursos que tive de pôr porque estou no limiar de passar a cadeira ou porque não consegui mesmo ir. Não se enquadrava no meu plano, porque ou vou a cinco exames e passo-os ou vou a seis e não passo metade. Mas não sou o único, a maioria dos meus amigos também não aguenta com esta intensa carga que nos é posta.

Taking The Long Way acabou, por isso mudo de música. Tenho de ouvir algo porque há sempre alguém que está doente e tosse, alguém que abre a garrafa e faz barulho, que murmura uma questão ao amigo do lado e ele responde, por isso preciso de algo que me mantenha focado. Esta música country já ouvi… que tal uma banda sonora? Ajuda ainda mais à concentração porque não falam. É normal estar a ouvir a banda sonora de filmes como The Hours ou American Beauty? Bem, bons filmes e é engraçado como ambos giram à volta de depressão. Pensei nisto e, realmente, este ritmo que tenho todos os dias é como o de um robô, levantar, arranjar, comer, estudar, casa de banho, estudar, comer, falar com amigos sobre exames, estudar, dormir.

Por vezes questiono-me porque é que alguém ousaria estudar Chemistry, especialmente numa universidade assim [Radboud University Nijmegen, Países Baixos]. Sim, é boa e está bem posicionada nos rankings internacionais, algo que me há-de assombrar para sempre é a diferença na área da educação entre Portugal e, honestamente, qualquer outro país. Em poucas palavras, é como que os meus outros colegas já tivessem ido e voltado cinco vezes e eu ainda não cheguei ao ponto de partida.

Janeiro é o pior mês, é um mês inteiro de exames. Pensei que conseguia manter a mesma postura durante estas semanas, mas nas últimas duas não consegui mais. Tive dois dias em que simplesmente não pude fazer nada, a motivação estava lá algures perdida, não tinha forças para me levantar, sentar, abrir o computador e ler os meus resumos. Ainda bem que só tinha dois exames nessas semanas.

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