Avião ucraniano que se despenhou “tentava voltar ao aeroporto”, mas não pediu ajuda

O acidente terá sido causado por um problema técnico. A Ucrânia não põe de parte nenhuma hipótese, incluindo terrorismo ou um ataque com um míssil.

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Uma homenagem na sede da Ukraine International Airlines EPA/SERGEY DOLZHENKO
Eu corri
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Uma homenagem na embaixada iraniana na Ucrânia Reuters/Valentyn Ogirenko
,Linhas aéreas internacionais da Ucrânia
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No local do acidente, durante os trabalhos de investigação e limpeza Reuters/WANA NEWS AGENCY

O avião da Ukraine International Airlines que se despenhou na manhã de quarta-feira em Teerão, provocando a morte das 176 pessoas que seguiam a bordo, estava a voltar para o aeroporto quando o acidente aconteceu, diz o relatório preliminar da Organização de Aviação Civil iraniana, tornado público nesta quinta-feira. Apesar disso, o Governo ucraniano não descarta, por enquanto qualquer hipótese, e apresenta três alternativas à teoria do acidente.

O aparelho, que inicialmente de dirigia “para oeste, deixando a zona do aeroporto”, estava, no momento do acidente, “a virar à direita, na sequência de um problema e a voltar para o aeroporto”, disse o responsável da organização iraniana, Ali Abedzadeh, citado pela BBC.

O aparelho despenhou-se seis minutos depois de descolar, perto da cidade de Sabashahr. A causa do acidente terá sido um problema técnico, avança a organização iraniana sem dar mais informações. A aeronave foi inspeccionada pela última vez na segunda-feira. De acordo com uma fonte canadiana que trabalha na área da segurança aérea, ouvida pela Reuters, há provas de que os motores do aparelho sobreaqueceram.

O acidente aconteceu horas depois de o Irão ter lançado mísseis balísticos contra bases norte-americanas no Iraque, fazendo escalar a tensão entre Teerão e Washington. Ao longo de quarta-feira, especulou-se sobre a possibilidade de o avião ter sido atingido por esses mísseis. No entanto, à Reuters, pelo menos cinco fontes (três americanas, uma europeia e uma canadiana, todas ligadas à área da segurança aérea) afirmaram que o avião não foi abatido.

O piloto da aeronave, que seguia com destino a Kiev, não tentou comunicar com o aeroporto e não pediu ajuda, detalha o relatório preliminar das autoridades iranianas.

O avião, que desapareceu dos radares a 2440 metros de altitude, já estaria em chamas imediatamente antes de se despenhar, revela também o documento, citando várias testemunhas no local para reconstruir o que aconteceu.

As quatro teorias da Ucrânia

Na Ucrânia consideram-se ainda todas as causas possíveis para o acidente, mas o Presidente, Volodimir Zelensky, pede que não se dê gás às teorias da conspiração.

No entanto, Oleksii Danilov, dirigente do conselho de segurança nacional ucraniano, não afasta quatro cenários possíveis. Para além da tese de avaria, o avião pode ter colidido com um drone, ter sido alvo de uma acção terrorista ou abatido por um míssil.

Esta última teoria foi traçada com base em imagens que circulam na internet e cuja veracidade não foi ainda confirmada, citadas por Danilov numa publicação no Facebook. Nessas imagens, encontraram-se supostos destroços de um míssil russo no local onde o avião se despenhou.

“A nossa comissão de investigação está em conversas com as autoridades iranianas para agendar uma visita ao local da queda e está determinada na procura por fragmentos de um míssil Tor russo, sobre o qual circula informação na internet”, afirmou o dirigente ao site Censor.net, que a Reuters cita.

Oleksii Danilov afirmou também que a Ucrânia vai usar o que aprendeu com a investigação ao abate do avião da Malaysia Airlines por forças russas, em 2014 — um acidente que causou 298 mortos.

Perdeu-se parte da memória das caixas negras 

Ambas as caixas negras do avião que se despenhou em Teerão foram recuperadas, mas, como estão muito danificadas, uma parte da memória perdeu-se. Na quarta-feira, o responsável pela organização de aviação civil iraniana, Ali Abedzadeh, sublinhou que o conteúdo das caixas negras não seria partilhado com “a construtora e os americanos”.

“Este acidente vai ser investigado pela organização iraniana de aviação, mas os ucranianos também poderão estar presentes”, afirmou.

De acordo com a lei internacional, a responsabilidade sobre a investigação recai sobre as autoridades iranianas. Apesar disso, referiu Abedzadeh citado pela BBC, as informações preliminares foram partilhadas com a Ucrânia e serão enviadas para os EUA, onde se situa a sede da Boeing. A Suécia e o Canadá também as receberam.

O primeiro-ministro canadiano já ofereceu ajuda técnica e veio afirmar que o país quer ter um papel na investigação. Pelo menos 138 passageiros que seguiam a bordo daquele voo estavam a dirigir-se para o Canadá, informou Justin Trudeau. “Pessoas que não irão regressar a casa para os seus pais, os seus amigos, os seus colegas, a sua família”, disse, numa declaração solene em Otava. “Todos eles com imenso potencial, tanta vida pela frente.”

Quem seguia a bordo?

De acordo com o relatório iraniano, seguiam a bordo 146 iranianos, dez afegãos, 11 ucranianos (incluindo a tripulação), cinco canadianos e quatro suecos – ressalvando, no entanto, que várias pessoas podiam ter nacionalidades de outros países. Os números apresentados pela companhia aérea são um pouco diferentes: 82 iranianos, 63 canadianos, dez suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos, o que indica que muitas das vítimas poderiam ter dupla nacionalidade. Segundo fonte citada pelo Guardian, 24 tinham dupla nacionalidade (iraniana e canadiana). 

Entre os 63 canadianos que morreram estava uma família de quatro pessoas (com duas crianças) e um casal (Arash Pourzarabi, de 26 anos, e Pouneh Gourji, de 25 anos) que tinha viajado para o Irão para celebrar o seu casamento. Mais de um terço das vítimas mortais era canadiana, muitas das quais estavam de regresso a casa após terem ido passar férias ao Irão. A vítima mais nova tinha um ano e a mais velha 70.

O avião fazia a rota Teerão – Kiev – Toronto, popular entre os canadianos de ascendência iraniana que visitavam o Irão, uma vez que não existem voos directos entre Canadá e Irão.

Os cidadãos canadianos foram aconselhados pelo Governo a evitar “todas as viagens não-essenciais” ao Irão devido à “situação de segurança volátil”, terrorismo e “risco de detenções arbitrárias”. Este aviso aplica-se sobretudo aos cidadãos com dupla nacionalidade iraniana e canadiana, uma vez que “o Irão não reconhece a dupla nacionalidade e o Canadá não terá acesso consular aos cidadãos canadianos e iranianos”, lê-se na nota publicada no site do Governo canadiano. Não há embaixadas canadianas no Irão.

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