Georg Trakl: visionário do som e da cor

Tradução integral do primeiro livro de um dos maiores poetas em língua alemã e uma das vozes mais peculiares do expressionismo.

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A poesia de Georg Trakl é das que mais brilhantemente iniciaram o processo de emancipação que culminaria nos modernismos Imagno/Getty Images

Inicialmente, Georg Trakl não projectou para o seu livro de estreia o “título neutro” Poemas, mas um mais descritivo e revelador Crepúsculo e Decadência (lembra Paulo Quintela em Poemas, O Oiro do Dia, 1981) — fórmula que dificilmente poderia ser mais exacta a descrever esta poesia. A lira de Trakl insiste hipnoticamente num elenco diminuto de estímulos, materiais e tonalidades — recorrências repassadas até ao burilado que a posteridade consagraria, mas que uma vida suspensa aos 27 anos interrompeu. João Barrento, tradutor e estudioso da obra do poeta austríaco, falou de uma “poeticidade minimalista” (Outono Transfigurado, Assírio & Alvim, 1992); na expressão de Michael Hamburger, esta poesia é uma “série de variações dentro de um microcosmos” (Reason & Energy, Weidenfeld and Nicolson, 1970). Este livro inaugural de Trakl contém já a força encantatória, a melodia malsã e inebriante, a imagética poderosa que marcam a sua produção. O reconstruir de um tumulto pessoal converte-se em sublevação do verbo. Essa inquietude, apenas deixada entrever pelos poemas, transmite-se através de elaborações de rigor extremo. Uma precisão expressiva em rigoroso contraste com os estados de devastação individual e colectiva, as paisagens lúgubres, os seres em transe destes versos. Estas figuras são passageiros, espectros aprisionados entre um vestígio de vitalidade e a morbidez tendente à anulação. Trakl viveu tempos de convulsão, fim de uma era que antecipa a Primeira Guerra Mundial — e nela culmina, plasmando na destruição um mal que esta poesia vinha antecipando.

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