População contra exploração de lítio em Montalegre

Cidadãos levantaram dúvidas sobre impacto da mina em particular na agricultura, principal forma de subsistência. Querem continuar a “respirar Montalegre”.

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Adriano Miranda

Muitos cidadãos mostraram-se no sábado à noite contra a mina a céu aberto prevista para Morgade, durante uma sessão de esclarecimento, em Montalegre, distrito de Vila Real.

O auditório municipal encheu-se com cerca de 400 pessoas para uma sessão de esclarecimentos sobre o lítio, promovida pela Câmara de Montalegre, onde oradores convidados falaram sobre a importância do lítio como energia de futuro.

Na plateia, foram muitos os que vestiram uma camisola branca onde se podia ver um círculo vermelho com uma mão desenhada a branco e ler a mensagem “não à mina”.

Esta iniciativa realizou-se numa altura em que já foi assinado o contrato de exploração entre o Estado português e a empresa Lusorecursos. Na freguesia de Morgade, está em fase de legalização a Associação “Montalegre com Vida” que tem como objectivo lutar contra a mina a céu aberto prevista para aquela localidade.

Exploração “vai trazer impactos”

Convidado para falar sobre o lítio, Fernando Noronha, investigador da Faculdade de Ciências do Porto, assumiu ser o “pai da criança” por ter descoberto os filões no Barroso em 1987/88.

O investigador fez questão de desmistificar e esclarecer que o lítio “não é radiactivo”, que ajuda na descarbonização e elencou as muitas utilizações que tem desde as baterias, dos carros eléctricos ou telemóveis, à medicina.

Fernando Noronha defendeu a exploração de recursos em Portugal e salientou que o país tem que decidir se quer ou não essa exploração.

O vice-presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e engenheiro de minas, Machado Leite, lembrou a importância do lítio na causa das alterações climáticas e referiu que a exploração “vai trazer impactos”.

Este responsável frisou que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que é legalmente obrigatório, terá que apresentar soluções e lembrou que, actualmente, “há tecnologias novas” que ajudam a minimizar os impactos decorrentes da exploração.

Continuar a “respirar Montalegre”

Durante a longa sessão, os cidadãos levantaram muitas dúvidas precisamente sobre os impactos da mina na “forma de vida” que actualmente conhecem, no ambiente, saúde, água e agricultura, que é a sua principal forma de subsistência.

Questionaram ainda sobre a “toxicidade do lítio”, os “problemas respiratórios consequentes” e garantiram que querem continuar a “respirar Montalegre”.

O porta-voz da Associação “Montalegre com Vida”, Armando Pinto, afirmou que a população é contra a “mina a céu aberto, seja ela de lítio, ouro ou diamante”, destacou as “preocupações com as nascentes de água” e salientou que, esta noite, “ninguém conseguiu explicar o que vai acontecer depois”.

Manuela Cunha, do Partido Ecologista “Os Verdes”, defendeu que as populações “têm o direito de serem ouvidas previamente” e sublinhou que, no caso de Morgade, “primeiro assinou-se o contrato e só depois se vai fazer o EIA”, colocando-se a “carroça à frente dos bois”.

Também Pedro Santos, representante da Quercus, acusou o Governo de “querer furar o país de Norte a Sul”, refutou o argumento da “sustentabilidade e descarbonização” e frisou que se “trata de um problema de mineração e dos impactos que a exploração tem na natureza e nas populações”.

No final, o presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, esclareceu que o objectivo da sessão era “trazer a ciência, a universidade para explicar à população o que é o lítio, para que serve e porquê a necessidade de se atacar o desígnio do lítio”.

O autarca disse que se trata de um “problema complicado que mexe com o quotidiano das pessoas”, mas refutou “extremismos” de pessoas que não “dispensam o telemóvel, o automóvel ou a energia eléctrica”.

“O município obviamente está com as suas populações”, frisou.

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