84% da população responderia à pergunta: é branco, negro, cigano, asiático?

Elaborada pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica, a sondagem à qual o PÚBLICO teve acesso baseou-se num inquérito por questionário aplicado a uma amostra de 1906 inquiridos residentes em Portugal. 90% têm a percepção de que há discriminação em Portugal.

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Nuno Ferreira Monteiro

Uma sondagem inédita em Portugal mostrou que há uma esmagadora maioria de inquiridos – 80% – a favor da introdução no Censos 2021 de uma pergunta sobre a origem étnico-racial e 84% com predisposição para a responder.

E outra grande maioria – 90% – tem a percepção de que há discriminação em Portugal. Quase 30% dizem que a discriminação acontece muito frequentemente e 40% frequentemente. Esta foi, aliás, a pergunta em que as diferenças entre respondentes se mostraram mais acentuadas: para 84% dos ciganos a discriminação acontece muito frequentemente. O mesmo afirmam 39% dos negros e 29% dos brancos. 

Elaborada pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica, a pedido do Grupo de Trabalho criado pelo Governo para estudar a hipótese de a introduzir no Censos 2021, a sondagem à qual o PÚBLICO teve acesso baseou-se num inquérito por questionário aplicado a uma amostra de 1906 inquiridos residentes em Portugal: 1118 inquiridos de uma amostra representativa do país, e 788 inquiridos de subamostras complementares aplicadas na Área Metropolitana de Lisboa a pessoas que foram identificadas pelos entrevistadores como negras (414), ciganas (162), asiáticas (152) e brancas (60).

Em relação à questão sobre se acham relevante o Censos ter este tipo de pergunta, a maioria concorda, independentemente da idade ou grupo. Mas há diferenças entre os respondentes, de acordo com a sua origem: subscrevem-no 86% dos negros, 82% dos ciganos, 78% dos brancos e 67% dos asiáticos.

A adesão é maior entre os mais jovens (90% do grupo entre 18 e 24 anos) e vai diminuindo consoante a idade avança até chegar aos 66% entre quem tem 65 anos ou mais. É também maior em quem tem mais escolaridade – a maioria, 55%, dos que têm o 1.º ciclo concordam, enquanto essa percentagem é bem maior para os que têm o 3.º ciclo (85%), secundário e pós-secundário (83%) e o ensino superior (82%).

No que diz respeito à predisposição para responder à questão — 84% da amostra nacional — os valores de respostas afirmativas são mais elevados, em relação à pergunta anterior, em todas as idades — nos mais novos chega aos 91% aqueles que dizem que sim, responderiam à pergunta, e nos mais velhos aos 71%. Ocorre o mesmo tipo de tendência quando se faz o recorte de escolaridade: 56% dos que têm o 1.º ciclo dizem que responderiam e 92% dos que têm o ensino superior também.

No relatório sobre a sondagem, pedida pelo Grupo de Trabalho criado no ano passado pelo Governo, para avaliar a introdução de um pergunta sobre a origem étnico-racial dos cidadãos no Censos, lê-se que, apesar de alguns inquiridos terem dúvidas sobre o que significa o conceito étnico-racial, o que justifica “o esforço de encontrar uma forma simplificada de o transmitir”, não tiveram dificuldade em identificar-se em categorias propostas pré-definidas: 97,3% posicionaram-se numa das categorias apresentadas e apenas 2,7% declararam não se rever nas categorias.

Depois do resultado da sondagem o GT sugeriu fazer uma pergunta com um enunciado onde se afirma que a resposta é facultativa: “Portugal é hoje uma sociedade com pessoas de diversas origens. Queremos melhorar a informação sobre essa diversidade para melhor conhecer a discriminação e desigualdades na sociedade portuguesa.” Depois inquire: “Qual ou quais das seguintes opções considera que melhor descreve(m) a sua pertença e/ou origem?”

Seguem-se os quatro grandes grupos: “Branco/Português branco /De origem europeia”, “Negro/Português Negro/Afrodescendente/De origem africana”, “Asiático/Português de origem asiática/de origem asiática”, “Cigano/ Português cigano/Roma/ De origem cigana”. E, dentro destes, uma diversidade de hipóteses: origem portuguesa, outra europeia ocidental, Europa de Leste, brasileira. Na categoria de negro, pergunta se é de origem de algum dos países africanos de língua oficial portuguesa, timorense ou brasileira. Na asiática se é de origem chinesa, indiana, timorense, goesa, paquistanesa, macaense, bangladesh. Na de cigano se é português cigano ou de origem romena.

Todas as opções — que são praticamente as mesmas previstas no inquérito — permitem a inscrição de uma outra origem não elencada, em resposta aberta, e no final há ainda a hipótese de escolher outro grande grupo não especificado ou se é de origem mista. Esta definição de “categorias compósitas” pretende que o máximo número de pessoas se possa identificar e apresenta várias alternativas quanto à forma como os membros de determinada comunidade se autodenominam, justificam os membros do GT. 

A formulação da pergunta não refere explicitamente termos como “raça”, “cor”, “etnicidade”, “ancestralidade”, ou “línguas faladas em casa” para evitar conotações negativas e problemas de rigor científico, justifica o GT. Isto porque as categorias em causa são entendidas como categorias sociais, e não biológicas ou genéticas — algo que deve ser explicado no enunciado, recomenda o GT.

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