“Quer na palavra quer na música pode existir o dom poético”, diz Aldina Duarte

Fado e Poesia mostram-se no Grande Auditório da Gulbenkian pela mão e pela voz de Aldina Duarte. Esta sexta-feira, às 21h, com dois convidados especiais: Carlão e Filipe Raposo.

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Aldina Duarte VITORINO CORAGEM

Integrada no ciclo Música no Feminino, a fadista Aldina Duarte apresenta esta sexta-feira no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian (às 21h) o espectáculo O Fado e a Poesia. Com Paulo Parreira na guitarra portuguesa e Rogério Ferreira na viola, este espectáculo de Aldina conta ainda com dois convidados especiais: Carlão (voz) e Filipe Raposo (piano).

Quando recebeu o convite para o que pode considerar-se uma raridade, fado na Gulbenkian, Aldina lembrou-se da experiência que tivera no Festival Literário Internacional de Óbidos, com o ex-Da Weasel Carlão a dizer os seus fados e ela a cantá-los. Foi na noite de 21 de Outubro de 2017 e há registo de alguns desses momentos no YouTube. “Achei que era uma ideia que devia ser desenvolvida”, diz agora Aldina ao PÚBLICO. “E como o tema que achei mais interessante para este caso era o Fado e a Poesia resolvi levar o Carlão e o Filipe [Raposo, pianista e compositor] para se perceber que quer na palavra quer na música pode existir o dom poético.”

Quanto ao piano, ela adianta uma outra explicação, que também tem raízes históricas: “O piano, apesar de não ter a sonoridade do fado como ele foi evoluindo, através da guitarra e da viola, também está na história desta arte, e há vários registos, no século XIX, em que o fado era cantado na corte com piano. Melodicamente, ele é um dos instrumentos mais ricos. Há ali uma transcendência qualquer a que eu também chamo poesia.”

Fado Menor ao piano

Com um total de 24 fados no programa, o espectáculo divide-se em cinco partes. E começa com Conto de fadas, cantado a capella, precisamente o tema que abre o mais recente disco de Aldina, Quando Se Ama Loucamente, porque é esse o mote poético de O Fado e a Poesia. “Resolvi arriscar cantar o Fado Menor, o fado dos fados, com o Filipe Raposo ao piano. Porque quando assisti ao concerto do Camané com orquestra (e arranjos dele) achei que ele tinha uma sensibilidade adequada à maneira como eu oiço o fado e o entendo. Vou cantar um fado que tem um poema maravilhoso da Maria do Rosário Pedreira, o Sem chão, que gravei no Romance(s).”

Já com Carlão, diz Aldina, será “uma continuação mais aprofundada” do que fizeram no FOLIO. “Vamos fazer um bloco onde ele diz os meus fados antes de eu os cantar e vamos ligá-los sem palmas pelo meio. E as pessoas vão ter a oportunidade de ouvir a mesma história e as mesmas palavras ditas e cantadas. Para se sentir como é que a poesia anda por aqui, dita ou cantada, o que é que muda. Acho que é bonito dar ao público essa oportunidade.”

Uma surpresa, para o final

O clima do espectáculo, nos seus vários andamentos, foi pensado em sequência. “Quero criar um momento intenso antes do Carlos entrar (eu chamo-lhe Carlos, não lhe chamo Carlão) para ver se as pessoas estão naquele ponto em que, de repente, vão andar por uns caminhos diferentes do meu fado, que é ouvi-lo dito. E não é um actor, fica entre o actor e o fadista, e isso agrada-me. E é lindo, o timbre dele, a forma como ele interpreta aquelas letras.” Que mais pode ser dito? Isto: “O primeiro convidado é o Carlão, a seguir vou preparar a casa de novo para receber o Filipe e a seguir acaba. O final será mais ou menos uma surpresa.”

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