Militares portugueses em confrontos durante três dias na República Centro-Africana

As forças armadas estiveram novamente na frente de combate em Bambari depois de combatentes rebeldes se terem reagrupado para conquistar as posições que tinham perdido nos últimos dias.

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Militares portugueses na República Centro-Africana Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA)

Os militares portugueses na República Centro-Africana estiveram, entre quinta-feira e sábado, envolvidos em confrontos em Bambari, cidade a 400 quilómetros da capital, Bangui, anunciou neste domingo o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA).

De acordo com o EMGFA, num comunicado divulgado neste domingo, os militares portugueses "viram-se novamente envolvidos em confrontos em Bambari por forma a repelir bolsas de resistência de combatentes que se reagruparam na cidade a fim de reconquistar as posições perdidas nas últimas semanas".

"Estas acções ocorrem após os violentos combates que se iniciaram no passado dia 10 e depois se estenderam a Bokolobo, principal bastião e posto de comando do grupo rebelde ex-Seleka UPC (União para a paz na República Centro-Africana), 60 quilómetros a sudeste de Bambari", lê-se na nota.

Nesses dias, "em resultado das operações da Força de Reacção Rápida portuguesa, foram destruídas oito viaturas pick up armadas com duas metralhadoras pesadas, capturadas 11 granadas anti-tanque de lança granadas foguete, espingardas automáticas, armas artesanais, uniformes e documentação". Além disso, os militares portugueses "capturaram também cinco elementos da UPC, sendo um deles presumivelmente pertencente à estrutura de liderança do grupo armado".

"A actuação dos capacetes azuis portugueses, que têm apoiado as Forças Armadas Centro-Africanas e as autoridades locais, cumpriu os objectivos da missão militar da ONU na República Centro-Africana, para repelir os rebeldes afectos à UPC, não estando, no entanto, postos de parte novos confrontos caso surja nova tentativa de retornarem à cidade de Bambari", refere o EMGFA.

De acordo com o EMGFA, "a operação em curso 'Bambari sem grupos armados e armas', manter-se-á nos próximos dias por forma a assegurar em simultâneo a segurança da população civil, o reforço da autoridade do Estado em Bambari, e impedir que os rebeldes se misturem com a população e ocupem de forma ilegal as suas habitações". Actualmente, estão destacados na República Centro-Africana (RCA) 180 militares portugueses.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do antigo Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka. O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária

O Governo do Presidente, Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por 18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Portugal participa na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), desde o início de 2017, com uma companhia de tropas especiais, a operar como Força de Reacção Rápida. A MINUSCA é comandada pelo tenente-general senegalês Balla Keita, que já classificou as forças portuguesas como os seus "Ronaldos".

Portugal tem 230 militares empenhados em missões na RCA, dos quais 180 na MINUSCA — uma companhia de pára-quedistas e elementos de ligação — e 50 na Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA). O 2.º comandante da MINUSCA é o general português Marco Serronha, enquanto o comandante da EUMT-RCA é o brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

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