Serviços de reabilitação nos centros de saúde devem arrancar em 2019

Vamos muito às urgências por causa do "deslumbramento com a tecnologia", diz o coordenador para a reforma dos cuidados de saúde primários. Depois da saúde oral, serviços de reabilitação poderão arrancar no próximo ano nos centros de saúde.

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Paulo Pimenta

Há utentes que não vão aos centros de saúde anos a fio. Ainda assim têm direito a ter médico de família, defende o coordenador nacional para a reforma dos cuidados de saúde primários, Henrique Botelho. "Quantas vezes foi ao médico aos 20 anos? Muito poucas ou nenhuma. Mas, de repente, ou passados dez, 20 anos, vai. E tem esse direito. Tem hipertensão, diabetes. De repente, tem 40, 50, 60 anos e tem um AVC e não sai de lá."

Nos centros de saúde já há outros profissionais de saúde, para além dos médicos e dos enfermeiros. Como é que isto está a evoluir?

Há nutricionistas e psicólogos, há saúde oral nalguns. A saúde oral ainda falta em muitos centros de saúde, o que está acontecer agora é que se está a envolver as câmaras municipais na compra de equipamentos, nomeadamente das cadeiras, e o SNS, na disponibilização de locais. Mas a saúde oral não são só médicos dentistas, temos os higienistas orais. Além disso, os serviços de reabilitação poderão arrancar em 2019, apesar de já existirem fisioterapeutas e enfermeiros de reabilitação em alguns locais, mas poucos.

Por que continuamos com o problema dos serviços de urgência sobrelotados, ou melhor, por que continuamos a ter pessoas com pulseiras verdes e azuis (pouco urgentes ou não urgentes) a ir para os hospitais?

Há vários factores. Um deles passa pelo deslumbramento com a tecnologia. Nos cuidados de saúde de proximidade temos uma balança, temos aparelho para medir a tensão, na minha unidade temos um aparelho para fazer espirometrias. Não é preciso mais. No hospital, fazem logo um raio X, se calhar até fazem uma TAC. E, se for no privado, até fazem tudo...

Apesar de toda a evolução nos últimos anos, há um problema que persiste: muitas vezes ninguém atende o telefone nos centros de saúde. Faz sentido?

Não faz sentido. Muitas centrais telefónicas estão obsoletas, outras não são adequadas ao sistema montado. Há outro problema: as Unidades de Saúde Familiar (USF) não têm telefonistas. São os secretários clínicos que atendem o telefone. E estamos a ter um problema muito grave: há anos que têm vindo a sair e não há concursos para secretários clínicos. O atendimento ao balcão e ao telefone é cada vez mais difícil.

Os problemas com os sistemas informáticos também são uma constante.

O sistema de informação tem tido problemas. Há muitos bugs, avarias. Temos vindo a trabalhar junto dos técnicos dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde para ultrapassar os constrangimentos.

Há muitas pessoas que optam por não ter médico de família?

Não, são poucas.

Mas há utentes que não vão aos centros de saúde anos a fio. Não poderiam sair das listas para entrarem os que precisam?

Não pode ser assim. Quantas vezes foi ao médico aos 20 anos? Muito poucas ou nenhuma. Mas, de repente, ou passados dez, 20 anos, vai. E tem esse direito. Tem hipertensão, diabetes. De repente, tem 40, 50, 60 anos e tem um AVC e não sai de lá.

Esta forma de trabalhar [USF], dentro do funcionalismo público, é uma pedrada no charco?

É. Acha que o funcionalismo público não precisa de uma pedrada no charco? Dissemos muitas vezes no princípio da reforma: pode ser que isto seja um exemplo para outros sectores. Em muitas áreas a administração pública precisa de se reconfigurar. Mas já foi pior. Veja a minha unidade [trabalha numa USF no centro de Braga). Isto está bonito, está funcional. No dia da inauguração, veio cá a ministra Ana Jorge e uma utente, ao atender o telefone, disse: espere que eu estou aqui na ‘clínica’. Passados dez anos apenas algumas paredes tiveram de ser pintadas. Profissionais e utentes sentem que isto lhes pertence.

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