Quadro de Josefa de Óbidos comprado por privado, mas vai ficar em Portugal

O Ministério da Cultura não comprou o quadro porque teria que pedir autorização a Centeno, diz a autarquia.

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Câmara de Óbidos

Um quadro de Josefa de Óbidos que a Câmara de Óbidos queria comprar foi adquirido este sábado por um licitador anónimo, por 110 mil euros, num leilão em Barcelona, Espanha, e vai ficar em Portugal, segundo fontes ligadas ao leilão ouvidas pela Lusa.

O quadro poderá mesmo ficar exposto em Óbidos, divulgou a câmara, já após conversações com o coleccionador português. “Há a possibilidade de se avançar com um depósito, em conversação com o coleccionador, e de o quadro figurar numa exposição permanente ou temporária no Museu Municipal de Óbidos”, disse à Lusa o presidente da câmara de Óbidos, Humberto Marques.

Apesar de a Câmara de Óbidos não ter conseguido comprar a obra, como era a sua intenção, o quadro, um óleo sobre tela, assinado e da autoria da conhecida pintora Josefa de Óbidos (1630-1684), vai ficar assim em Portugal.

O presidente da autarquia, Humberto Marques, disse na sexta-feira à Lusa que iria fazer tudo o que estivesse ao alcance do município para o quadro Menino Jesus Peregrino ficar no país.

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O quadro nunca esteve nem nunca foi exposto em Portugal e, numa resposta dada à câmara de Óbidos, o Ministério da Cultura disse que não poderia avançar com a aquisição, por questões jurídicas.

Reportagem sobre um dos Menino Jesus Peregrino de Josefa de Óbidos

Depois de, nos últimos dias, ter tentado, "junto do Ministério da Cultura, sensibilizar para a importância desta obra ficar em Portugal", Humberto Marques falou na sexta-feira ao telefone com a secretária de Estado da Cultura, Ângela Ferreira, a qual "informou que, por questões jurídicas, não pode comprar esta obra".

Em causa está, segundo as explicações transmitidas ao autarca, "o facto de o Estado não poder licitar" e de a obra "ter como licitação base 15 mil euros, e acima desse valor o ministério precisar de autorização do Ministério das Finanças", explicou Humberto Marques à Lusa.

Fonte do gabinete da secretária de Estado da Estado da Cultura, Ângela Ferreira, adiantou à Lusa que "não era possível ao ministério dar, em tempo útil, os passos para a licitação do quadro".

O pedido para a compra do quadro "só chegou no dia 12 [quarta-feira] e há procedimentos legais com vista à aquisição de obras de arte que não podiam ser cumpridos num prazo tão apertado", sublinhou.

Apelo aos mecenas 

Sem o apoio do Ministério para a aquisição do quadro, a autarquia, que se escusou precisar até que valor poderia licitar decidiu avançar, tendo Humberto Marques encetado contactos "com vários mecenas, no sentido de poderem comparticipar a compra e garantir que a pintura ficará em Portugal".

A câmara chegou a lançar "um apelo a todos os mecenas interessados em ajudar na aquisição da obra Menino Jesus Peregrino".

Ainda de acordo com a câmara, Philippe Mendes, galerista que, recentemente, ofereceu ao Museu do Louvre um quadro de Josefa de Óbidos transmitiu também, por correio electrónico, a opinião de que "seria realmente uma pena" que "este magnífico Menino Jesus Salvador do Mundo, de Josefa de Óbidos não voltasse a Portugal, de onde saiu das mãos" de uma das grandes artistas portuguesas.

A obra, que foi avaliada e autenticada por Joaquim Oliveira Caetano, conservador de pintura do Museu Nacional de Arte Antiga, era, segundo a câmara, "absolutamente desconhecida" e reveste-se "de muito interesse para o património museológico nacional, na estratégia de salvaguarda do património português".

Do tema "O Menino Jesus Romeiro" (ou Peregrino) existem sete versões, como se vê no catálogo das exposições "Josefa de Óbidos e o tempo barroco" (IPPC, 1991) e "Josefa de Óbidos e a invenção do Barroco" (MNAA, 2015), que teve em Joaquim Oliveira Caetano, antigo director do Museu de Évora, um dos comissários.

A pintora Josefa de Ayala Figueira - mais conhecida por Josefa de Óbidos, onde viveu - nasceu em 1630, em Sevilha, Espanha, e faleceu em 1684, em Óbidos, Portugal, com 54 anos.

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