Chegar às aldeias históricas ainda não é para todos, mas quer-se caminhar para lá

Serão investidos um milhão de euros para que a Rede de Aldeias Históricas de Portugal torne os seus territórios mais acessíveis, quer em termos físicos, quer ao nível da comunicação. Para que Portugal se torne um destino cada vez mais inclusivo e acessível.

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Sortelha é uma das doze aldeias históricas que se querem tornar mais inclusivas Nelson Garrido

Chegar e passear por Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha ou Trancoso pode revelar-se um desafio para quem, por qualquer razão, tem dificuldades em movimentar-se ou não consegue ver ou ouvir. 

Nestas 12 aldeias históricas do interior querem-se mais turistas e, por isso, não se quer deixar ninguém de fora. É por isso que serão investidos nestes territórios cerca de um milhão de euros para tornar estes destinos mais acessíveis e inclusivos.

Na tarde desta quinta-feira, foi assinado um contrato entre a Associação Aldeias Históricas de Portugal e o Turismo de Portugal, dando o primeiro passo para a concretização do projecto “Aldeias Históricas de Portugal All For All”.

A assinatura decorreu em Idanha-a-Velha, uma das 12 aldeias históricas, que recebe por estes dias a cimeira internacional Cultural Sustainable Destinations without Borders (Destinos Culturais Sustentáveis sem Fronteiras, em tradução livre).

Para tornar estas aldeias do interior mais acessíveis serão investidos 1,06 milhões de euros, sendo que 957 mil euros provêm da Linha de Apoio ao Turismo Acessível (que faz parte do Programa Valorizar), lançada em 2016, para fazer de Portugal um destino para todos. 

O programa, construído em conjunto pelas secretarias de Estado do Turismo e da Inclusão, pretende promover Portugal como destino turístico inclusivo. A par da aposta na comunicação e da divulgação de 20 roteiros acessíveis espalhados pelo país, foi lançada esta linha de especial de financiamento de apoio a projectos, públicos ou privados, para que se adaptem às necessidades específicas de quem visita o país.

Nestas 12 aldeias dos distritos da Guarda, Castelo Branco e Coimbra serão criados percursos de visitação acessíveis e será elaborado um "Plano de Promoção do Turismo Acessível". O que na prática significa que será feito um diagnóstico das necessidades de acessibilidade em 45 edifícios/monumentos (os mais relevantes em cada aldeia) para que depois possam ser corrigidas as “debilidades” detectadas, explicou ao PÚBLICO a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho.

Também a informação sobre as aldeias ficará mais acessível: os vídeos no site das Aldeias Históricas serão legendados em Língua Gestual Portuguesa, com sinais internacionais, no caso dos vídeos em inglês. Será também criada uma aplicação móvel com sugestões de restaurantes, alojamentos, locais de visita, que será acessível offline e será também traduzida em língua gestual e sinais internacionais. 

A sinalética nas aldeias passará a ser inscrita em braille ou QR code, remetendo para conteúdos na aplicação com audiodescrição ou língua gestual. 

Será feito também um trabalho junto de técnicos dos postos de turismo e de empresários de restauração, alojamento e comércio e empresas de animação turística, com acções de sensibilização que “pretendem transmitir as melhores práticas no atendimento a pessoas com necessidades específicas”. Estas acções de formação estendem-se ainda a técnicos de autarquias, de gabinetes locais de engenharia e arquitectura e empreiteiros, para que “exista uma correcta aplicação da legislação em vigor e das boas práticas em acessibilidade”.

De acordo com informação enviada pelo gabinete da Secretaria de Estado do Turismo, no âmbito da Linha de Apoio ao Turismo Acessível, estão aprovados 86 projectos, envolvendo um investimento de total 15,2 milhões de euros. Desta linha de financiamento saem 11,1 milhões de euros, sendo que 4,2 milhões se destinam aos 28 projectos que estão aprovados para o interior.

Além destes projectos já aprovados — que estão em fases diferentes de desenvolvimento — ainda há “bastantes candidaturas em avaliação”, disse Ana Mendes Godinho. “Isto mostra que quando há instrumentos adaptados e adequados a oferta reage. E aparecem estes projectos que mostram que a oferta está desperta para a necessidade de se adaptar mais rapidamente”, notou.

O Turismo Acessível como uma oportunidade

Sem ter números sobre quanto representa este segmento — o de pessoas com necessidades específicas — nos fluxos turísticos nacionais, Ana Mendes Godinho reconhece que este é “um mercado com um crescimento muito grande a nível europeu e mundial".

Em Março, por ocasião da assinatura de outros 11 contratos para tornar a oferta turística nacional mais acessível, a secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, lembrava que, só na Europa, “existem cerca de 90 milhões de turistas” com necessidades específicas de mobilidade. E que poderia estar aqui uma oportunidade: "Isto é mercado. Quem não fizer esta aposta, vai perder este sector, um sector que gasta mais, que fica mais e que volta mais", notou.

À margem da cimeira que ali está a decorrer, e em declarações à agência Lusa, o presidente da câmara de Idanha-a-Nova — que é um dos concelhos mais dinâmicos do interior — lamentou que os grandes investimentos estatais para a promoção do turismo continuem a ter como destino as regiões turísticas já consolidadas.

"O que é verdade é que as nossas agendas governamentais, fruto dos lobbies normais dos destinos turísticos maduros, no caso de Portugal — Algarve, Madeira e Lisboa —, esgotam todo o orçamento de promoção", disse Armindo Jacinto, criticando ainda a falta de apoio em dar a conhecer as regiões do interior.

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