Há 23 novos medicamentos para o cancro em avaliação

Medicamentos para o cancro custaram aos hospitais nos primeiros sete meses do ano 200 milhões de euros. A oncologia representa 27,6% do total da despesa dos hospitais com medicamentos.

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FERNANDO VELUDO/ NFACTOS

A Autoridade Nacional do Medicamento — Infarmed tem em avaliação 23 novos medicamentos inovadores para o tratamento do cancro. Este ano já foram aprovados cinco novos tratamentos para esta área.

Os medicamentos oncológicos custaram aos hospitais nos primeiros sete meses do ano 200 milhões de euros, um acréscimo em relação ao mesmo período de 2017. Os dados foram apresentados nesta terça-feira, no simpósio Oncologia em Portugal, Realidades e Desafios, que se realizou no Parlamento, e onde vários especialistas referiram também que a oncologia é a área na qual mais decorrem ensaios clínicos. Ainda assim, ficou o alerta de que Portugal está muito atrasado em relação a outros países.

Neste momento, o Infarmed tem 65 processos de avaliação de novos tratamentos para o cancro. De acordo com Rui Ivo, vogal do conselho directivo, “destes, 23 são inovações, dois são genéricos e outros 35 são pedidos de novas indicações” (medicamentos que já estão disponíveis mas que agora estão a ser avaliados para outras indicações terapêuticas). Segundo o responsável, são processos que estão em  fases distintas de avaliação.

Durante a sua apresentação, Rui Ivo adiantou que no ano passado foram aprovados 18 medicamentos indicados para o tratamento do cancro, dos quais sete para o tratamento de melanoma (cancro da pele), cinco para o cancro do pulmão, dois para o mieloma múltiplo e o mesmo número para o cancro colo-rectal. Para os cancros do ovário e linfoma não-Hodgkin foram aprovados, respectivamente, um medicamento para cada.

O responsável do Infarmed acredita que este ano será possível chegar, pelo menos, ao mesmo número de novos tratamentos aprovados em 2017. Para já, cinco receberam luz verde (dois para a leucemia linfoblástica aguda, um para o cancro do pulmão, outro para o melanoma e um para o cancro gástrico).

Rui Ivo salientou os custos crescentes nesta área. “Os custos que temos não são só pela inovação introduzida, mas há também algum efeito da duração dos tratamentos. Temos muitas vezes terapias combinadas entre novos fármacos e outros que já estavam disponíveis."

Entre Janeiro e Julho deste ano, os medicamentos com indicações oncológicas tiveram um custo de 200 milhões de euros para os hospitais, o que representa um acréscimo de 21,7% em comparação com o período homólogo do ano passado (mais 35 milhões de euros). A oncologia representa 27,6% do total da despesa dos hospitais com medicamentos.

“Idade da pedra”

Nos últimos anos Portugal tem registado uma média de 130 ensaios clínicos por ano. Fátima Vaz, representante da Comissão de Ética para a Investigação Clínica, explicou que “nos últimos anos, 40% dos ensaios submetidos são de oncologia”. De acordo com os dados apresentados, dos 58 ensaios que contabilizou em 2011, 2012 e 2013, “apenas sete foram da iniciativa do investigador ou de grupos corporativos”. “O resto foi iniciativa da indústria farmacêutica”, adiantou.

O cancro do pulmão é aquele para o qual há mais ensaios. “É uma doença importante, muito mortal e tem havido vários fármacos e inovação nos últimos anos.” Já na oncologia pediátrica fazem-se poucos. “Desde 2011 até 2018 apenas quatro ensaios foram submetidos para oncologia pediátrica, todos eles com terapias alvo.”

Para José Dinis, responsável pelo gabinete de ensaios clínicos do IPO do Porto, Portugal está “na idade da pedra” no que diz respeito à falta de estrutura capaz de captar ensaios clínicos. “Estamos 15 anos atrasados, estamos na idade da pedra. É preciso dar uma volta muito grande. Falar de oncologia é falar de investigação clínica”, disse, lamentando a falta de um plano em Portugal e de uma estrutura organizada capaz de atrair investigação.

E são vários os desafios que apontou: “Cumprir recrutamentos, estar presente nos ensaios clínicos de elevada relevância, ter um maior número de centros e participar em ensaios de nova geração (medicina de precisão)."

O também membro da Sociedade Portuguesa de Oncologia defendeu que Portugal precisa de ter ensaios clínicos próprios e que é fundamental ter o Ministério da Economia envolvido neste processo, tendo em conta o volume de dinheiro que a área envolve. “Isto é sustentar o Serviço Nacional de Saúde.”

Tratamento e prevenção

O presidente da sociedade Portuguesa de Oncologia, Paulo Cortes, disse, por seu lado, que “é expectável que o cancro passe de segunda para primeira causa de morte”, apontando a cada dez anos um aumento da prevalência de 30% das doenças oncológicas.

“Enquanto sociedade temos de nos envolver cada vez na prevenção do cancro. O envelhecimento da população é um facto e com isso há aumento do cancro. Mas quando se olha para dados de 2018, 57% da população sofre de obesidade", fuma, faz pouco exercício físico. O que "mostra que há muito a fazer”, defendeu, adiantando que a sociedade está a desenvolver um grupo de trabalho para a prevenção do cancro.

O responsável disse ainda que é preciso organização dos cuidados de saúde em oncologia e que para isso é necessário “avaliar de forma credível e auditar se queremos evoluir” na capacidade de prestação de cuidados.

“Se nada for feito, a partir de 2035 em cada ano 14,5 milhões de pessoas podem morrer de cancro. Com a radioterapia podemos prevenir morte de um milhão de pessoas por ano”, disse Maria de Lurdes Trigo, presidente da Sociedade Portuguesa de Radioterapia Oncológica.

A responsável citou dados da rede de referenciação de radioterapia para dizer que se estima que Portugal precise de 60 aceleradores lineares (equipamento de alta tecnologia que emite radiação direccionada para tratar vários tipos de cancro). O mesmo documento estimava que em 2018 os hospitais tivessem 39 destes aparelhos. “Em 2016 a maioria dos aparelhos tinha uma idade de vida inferior a dez anos."

Lurdes Trigo referiu ainda as necessidades ao nível de recursos humanos, dado que a exigência e a quantidade de doenças com indicação para fazer este tipo de tratamentos é cada vez maior. “A sociedade europeia diz que se espera aumento de 16% de 2012 para 2025 de necessidades de radioterapia. É necessário que haja uma política de saúde que leve a um maior investimento porque é uma necessidade imperiosa."

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