Vasco Lourenço: “Tancos foi uma encenação”

“Quando é que prendem os ladrões?”, pergunta um oficial, dando conta do mal-estar gerado pela situação.

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Enric Vives-Rubio

O coronel Vasco Lourenço reafirmou nesta terça-feira ao PÚBLICO que o roubo de material de guerra dos paióis de Tancos revelado em finais de Junho do ano passado não passa de uma encenação. “A minha teoria é que não houve assalto, mas uma encenação de assalto”, diz o presidente da Associação 25 de Abril.

“O material que desapareceu [granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições] provavelmente foi consumido e não justificado”, admite. “Quando é feito o planeamento de um exercício é realizada uma estimativa do material a ser utilizado mas, na prática, pode-se consumir mais, o que implica a redacção de um relatório justificativo, o que nem sempre acontece”, explica. Deste modo, haveria uma diferença entre o material utilizado e o que consta dos inventários. A não elaboração do relatório constituiria, assim, uma prática dolosa.

“Outra possibilidade é a de o material ter sido roubado aos poucos”, prossegue Vasco Lourenço, recordando que as munições furtadas de Tancos podiam ter sido utilizadas para as 57 pistolas Glock roubadas em Janeiro de 2017 da sede da PSP, em Lisboa. “Os explosivos também podem ser passados com relativa facilidade”, precisa quanto à sua colocação no mercado das cargas explosivas.

Nesta versão, o presidente da Associação 25 de Abril considera que o roubo do restante material das instalações de Tancos, de onde foram subtraídas também granadas antitanque, teria um propósito claro: “Para simular um assalto pelo facto de não ter sido feito um acerto de cargas.”

Vasco Lourenço esgrima um outro argumento, ao considerar possíveis fins políticos. “Para pôr em causa a chamada 'geringonça' e a acção do Governo, então a braços com a frente dos incêndios”, afirma. “Descubram quem montou esta farsa e descobrem tudo o resto”, garante.

O não acerto de cargas de material bélico parece usual nas Forças Armadas, mesmo quando operavam em cenários de conflito. “Um caso, no início da guerra de Angola [1961], ficou célebre”, lembra o presidente da Associação 25 de Abril. “Quando um camião carregado de material caiu a um rio perdendo a carga, embora no relatório constasse material que nem cabia em dois ou três camiões”, recorda.

Um oficial ouvido pelo PÚBLICO sob anonimato admite também um deficiente acerto de cargas, mas não exclui a possibilidade de um roubo efectivo suscitado por uma situação de oportunidade, a reconhecida degradação das condições de segurança dos paióis de Tancos. Assim, seria a má condição da segurança a “fazer o ladrão”, pondo de lado a hipótese de um grande planeamento do furto.

“Quando é que prendem os ladrões?”, interroga este militar. “Prenderam os polícias e não os ladrões”, destaca. O que só pode ser interpretado como mal-estar suscitado pelas detenções. “É péssimo para as instituições”, lamenta, referindo-se ao choque de competências que, a seu ver, existe entre a Polícia Judiciária e a Polícia Judiciária? Militar.

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