“Pediam a Diogo Gaspar para fazer tudo e mais alguma coisa”

Advogado do arguido vai pedir ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e aos seus antecessores para deporem em tribunal.

Diogo Gaspar esteve 12 anos no Museu
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Diogo Gaspar esteve 12 anos no Museu ANTÓNIO JOSÉ
Gaspar era director do Museu da Presidência
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Gaspar era director do Museu da Presidência RG RUI GAUDENCIO

O advogado do ex-director do museu, Raul Soares da Veiga, diz que a Presidência da República devia estar agradecida a Diogo Gaspar por tudo aquilo que ele fez pela instituição ao longo dos 12 anos que lá trabalhou. “Ele tinha imensas coisas suas e da sua família emprestadas ao longo do tempo à Presidência – serviços de jantar, peças de prata, candelabros”, exemplifica o causídico. Peças que seriam necessárias para cerimónias mas que não existiriam no Palácio de Belém.

Recordando que o historiador foi condecorado por dois presidentes, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, o advogado explica que muitos dos procedimentos que o Ministério Público afiança constituírem crime foram, afinal, levados a cabo desta ou daquela forma na sequência de orientações superiores recebidas por Diogo Gaspar: “Pediam-lhe para fazer tudo e mais alguma coisa – e em pouco tempo – porque sabiam que ele era expedito e conseguia fazer bem tudo o que era preciso. Tinha uma dedicação extraordinária, aos presidentes e às primeiras-damas.

"Louvaram-no precisamente por essa razão. Agora se isso custou mais 7000 euros em 12 anos...”, ressalva, numa referência ao montante que o Ministério Público quer ver decretado perdido a favor do Estado. De resto, adianta Soares da Veiga, “ele não estava em estrita exclusividade no museu, podia desempenhar outras tarefas de onde lhe viessem rendimentos de direitos de autor”.

O seu empenho nos presépios de Maria Cavaco Silva era conhecido: “A colecção foi feita em grande medida com a sua ajuda. Além de a ter ajudado a crescer, deu-lhe visibilidade”. O mesmo empenho terá tido em relação ao Palácio da Cidadela, em Cascais, local também a cargo da Presidência. Segundo o Ministério Público, era nesse local que estava sediada uma das firmas através das quais, segundo o Ministério Público, o arguido faria os seus negócios privados com Belém. Para o advogado, o Ministério Público misturou inexactidões com “bocadinhos de verdade” e apresentou o que considera ser uma visão pervertida do que realmente se passou.

“Jorge Sampaio permitiu aos funcionários que levassem para casa desenhos e gravuras sem interesse”, assinala. “E foram várias as pessoas que o fizeram”. Já os móveis que Diogo Gaspar comprou e que antes eram da Presidência da República, foram adquiridos primeiro a Belém por um comerciante, quando “estavam velhos e carcomidos”, e foram-lhe depois revendidos já depois de restaurados. “Não falta um parafuso ao Museu da Presidência. Nada. Zero”, assegura o defensor do arguido. “O Ministério Público esforçou-se por assacar uma grande quantidade de crimes ao meu cliente, mas naquilo que é decisivo para serem realmente crimes a acusação não fala verdade”.

No caso dos presépios, como em vários outros, se o director do museu exorbitou as suas funções foi porque “toda a gente o incentivou a exorbitá-las”.

Diogo Gaspar deverá agora pedir a abertura de instrução do processo, uma espécie de pré-julgamento facultativo no final do qual o juiz que dirige os trabalhos decide se obriga os arguidos a sentarem-se no banco dos réus ou se arquiva o caso. Seja nesta fase ou na seguinte, é certo que a defesa vai pedir tanto ao actual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, como aos seus antecessores, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, que deponham na qualidade de testemunhas. Poderão fazê-lo por escrito, prerrogativa aplicável a presidentes e outros titulares de cargos públicos, como deputados. 

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