Os slogans de 68: “Um homem não é estúpido ou inteligente. É livre ou não é”

A liberdade era palavra constante numa época em que se escrevia nas paredes a definição de humanidade, aos olhos dos seus autores, a maioria deles anónimos.

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Ser livre, em Maio de 1968, era participar. Havia um entusiasmo constante movido pela ambição de mudar o mundo velho. A poesia estava na rua, apregoavam as paredes: “É proibido proibir”, “Sejamos realistas: peçamos o impossível”, “Sob as pedras da calçada, a praia” – esta última frase era uma referência ao “despir” da Quartier Latin, onde foram colocadas as barricadas e se arrancaram as pedras da rua para servir de arremesso à polícia. 

A revolta estudantil que se entendeu aos trabalhadores – que ocuparam centenas de fábricas em toda a França e partiram para greves sucessivas a que terão aderido dois terços dos trabalhadores franceses – começou nas universidades. Exigia-se uma reforma do sistema académico, a sua modernização e liberalização, a abertura do ensino superior aos filhos dos trabalhadores, o fim do pudor das relações entre sexos que já não fazia sentido para os jovens, filhos do baby-boom do pós-guerra.

A liberdade era palavra constante numa época em que se escrevia nas paredes a definição de humanidade, aos olhos dos seus autores, a maioria deles anónimos: “Um homem não é estúpido ou inteligente. É livre ou não é." E a definição da sua felicidade: “A Humanidade só será feliz no dia em que o último capitalista for pendurado com as tripas do último burocrata."

Essas frases reproduziam o questionar do Estado, da sociedade, da ordem instituída: “É preciso matar o polícia que existe dentro de cada um de nós”; “Todo o poder abusa. O poder absoluto abusa absolutamente”. E da ordem da democracia: “Se as eleições pudessem mudar o que quer que fosse, há muito que teriam sido proibidas." E das instituições: “Professores, vocês fazem-nos envelhecer”; “A vontade geral contra a vontade do General”; “O movimento popular não tem templo”. Queria-se a “imaginação ao poder”.

E muitas dessas frases escritas, em paredes e cartazes, ditas ou cantadas, faziam a apologia do momento e do sonho: “O sonho é realidade”; “Vive o efémero”; “Decreto o estado de felicidade permanente”. Um instar constante à emergência do sentido crítico de uma sociedade que os “escritores” viam amórfica: "Antes de escrever, aprenda a pensar”, “Abram o vosso cérebro tantas vezes como a braguilha”. Contra o aborrecimento, pela insolência: “Não queremos um mundo onde a certeza de não se morrer de fome se troca contra o risco de morrer de aborrecimento”.

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