Bora lá ver um jogo de futebol em Inglaterra?

Gosto da Premier League. Porque há bons jogos de futebol, competitivos e quase sempre bem jogados do primeiro ao último minuto. Porque os jogadores são honestos, não se atiram para o chão sempre que há vento e os árbitros são respeitados

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Paul Childs/Reuters

Gosto da Premier League. Gosto da Premier League porque os jogadores são honestos, não se atiram para o chão sempre que há vento (e quando o fazem, são mesmo castigados, com aqueles castigos a sério), os árbitros são respeitados, os árbitros cometem erros, os jogadores são respeitados, os jogadores cometem erros, os estádios estão mais vezes cheios do que menos cheios, as famílias vão mesmo ver os jogos, todos puxam para o mesmo lado, todos acham que o futebol é uma indústria. Todos acham que dar tiros no pé da indústria é, no mínimo, parvo, porque é aquilo que lhes dá o salário no final do mês. Porque há muitos milhões de adeptos (em Portugal, há menos, mas também há adeptos) que querem só que as equipas joguem à bola e ganhem. E se não ganharem, pelo menos, que tenha valido a pena desembolsar não sei quantas libras para terem saído de casa.

Chegado a este ponto, seria muito fácil fazer comparações com o campeonato português. Seria fácil e é. A começar pelos personagens que nós por cá tanto gostamos de valorizar: os dirigentes. Além de, normalmente, só serem tidos e achados para as coisas que de facto lhes dizem respeito (a gestão da empresa que é o clube), não utilizam metade da verborreia que por cá se gasta até à exaustão. Depois, há os tais de árbitros, que são diariamente diabolizados por cá, mas que na Premier League merecem o respeito que lhes é devido. E acerca de escandaleiras acerca de arbitragens existe uma vaga memória sobre o que são…

Ah! E os dirigentes perceberam uma coisa muito depressa: como querem que aquele seja um negócio internacional, porque só assim tem futuro, trataram de meter os pés ao caminho e são em barda as reportagens do canal de televisão da Premier League com fãs nos mais variados pontos do mundo.

Talvez um dos pontos em que valha a pena reflectir mais um pouco tem que ver com isto: a Premier League é uma entidade privada, detida na totalidade por 20 clubes. São eles quem manda, são eles quem decide (claro que há colaboração estreita com a Football Association, a UEFA e a FIFA).

A melhor parte de todas é mesmo a dos jogadores. Se tirarmos uma mão cheia de jogadores de topo mundial que jogam em Espanha, Itália, Alemanha e França, é em Inglaterra que estão, de facto, as grandes estrelas. Basta olhar para os plantéis. Do Manchester City ao Crystal Palace. E para as regras (apertadas) para a contratação de jogadores de fora da União Europeia — só pode ter visto de trabalho, caso, por exemplo, tenha jogado em pelo menos 75 por cento dos jogos da selecção do seu país nos dois anos até à contratação. Mas há mais regras e excepções, basta consultar os regulamentos.

Houve um pequeno episódio no jogo entre o Manchester United e o Brighton & Hove Albion que me fez ter vontade de partilhar o porquê de eu gostar tanto da Premier League. No final do jogo, perguntaram a um jogador do Brighton se tinha visto o lance (duvidoso) que acabou por resultar no 1-0 com que o ManUnited ganhou. E a resposta foi desarmante: “Eu não vi, mas se o árbitro assistente viu, é bem visto.” Pronto. Assunto arrumado. Se fosse cá, havia gente a rasgar as vestes.

É por todas estas coisas que gosto da Premier League. E porque há bons jogos de futebol, competitivos e quase sempre bem jogados do primeiro ao último minuto. E porque os jogadores são honestos, não se atiram para o chão sempre que há vento (e quando o fazem, são mesmo castigados, com aqueles castigos a sério), os árbitros são respeitados, os árbitros cometem erros, os jogadores são respeitados, os jogadores cometem erros, os estádios estão mais vezes cheios do que menos cheios…

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