Vamos ao ginásio (intelectual)?

Poderemos padecer de doenças mentais sem saber, simplesmente por não valorizarmos tanto a mente como o corpo? Precisará a mente tanto de um acompanhamento e de exercícios de manutenção como o corpo?

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David Werbrouck/Unsplash

Não percebendo eu nada de saúde mental, ando preocupado com o estado mental em que vivemos. Ultimamente têm sido divulgadas várias notícias que dão conta de maus indicadores para a saúde mental em Portugal. Basta fazer uma pequena pesquisa para que o panorama não pareça lá muito animador.

Já diziam os antigos gregos que era importante cuidar tanto do corpo como da mente. Hoje em dia, com a crescente valorização da boa forma física, por razões de saúde e estéticas, será que cuidamos na mesma proporção da mente? Será que cuidar do corpo chega para ter a mente sã ou será preciso algo mais?

Volto a referir que não percebo nada de saúde, e menos ainda de saúde mental. Talvez por isso carrego tantas dúvidas no pensamento sobre este tema. Ainda assim não consigo evitar fazer um raciocínio muito simples. No nosso dia-a-dia é comum sofrermos de pequenas lesões e estarmos sujeitos, na melhor das hipóteses, a pequenas doenças. Grande parte delas manifestam-se fisicamente de forma tão evidente e desconfortável que intervimos rapidamente de modo a solucionar o problema. Se pensarmos a nossa existência como uma dualidade física e mental, sabendo que ambas as dimensões não são dissociáveis, teremos o mesmo nível de preocupação com as maleitas físicas como com as mentais? Poderemos padecer de doenças mentais sem saber, simplesmente por não valorizarmos tanto a mente como o corpo? Precisará a mente tanto de um acompanhamento e de exercícios de manutenção como o corpo?

A conotação social da doença mental é outro fenómeno que talvez se relacione com a visibilidade que lhe é dada. Um indivíduo doente recebe dos membros da comunidade em que vive um certo manto que o cobre de inferioridade. Quem tem uma doença mental, crónica ou esporádica, parece ser submetido a um peso ainda maior por parte dos demais membros da sua comunidade. É um facto que nos custa muito menos admitir que fomos consultar um ortopedista do que um psiquiatra. Essa até eu, que nada percebo de saúde, sei.

São do conhecimento comum os benefícios do exercício físico. Sabemos que contribuem para termos uma vida mais saudável, com benefícios múltiplos no corpo e na mente. Isto é mais ou menos indiscutível. Sabemos também que é crescente a preocupação comum em garantir uma actividade física regular. Mas será que fazer exercício mental estruturado não deveria ser também incentivado? Se o exercício físico traz saúde, de uma forma global, o exercício mental não terá também um efeito semelhante? Tal como um exercício físico regular dá resiliência física para superar esforços físicos e outras adversidades, também o treino mental pode ajudar a superar a complexidade das vidas contemporâneas? Mesmo quem tem trabalhos físicos pode frequentar um ginásio para equilibrar a boa forma física. Será que deveriam existir ginásios intelectuais para a boa forma mental, apesar dos esforços que podemos fazer nas nossas profissões nos deixarem mentalmente cansados?

Talvez tudo isto seja apenas uma questão de valores sociais. A valorização dada ao corpo, as conotações sociais da doença e ainda não ter sido considerado cool fazer fitness mental ou ir ao ginásio intelectual, seja lá o que isso for.

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