Obrigado, Trump

Ao contrário dos teus pares, não vacilaste quando chegou a hora de cumprir tudo o que prometeste durante a campanha

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Kim Kyung-Hoon/Reuters

Primeiro que tudo, Donald, obrigado por provares que afinal nem todos os políticos nos enganam com promessas eleitorais que depois não cumprem. Ao contrário dos teus pares, não vacilaste quando chegou a hora de cumprir tudo o que prometeste durante a campanha. É certo que ainda não se percebeu se vais fazer da América grande ou da América uma grande e irreparável asneira, mas o muro que tanto gabaste vai efectivamente ser construído. E isso é óptimo porque finalmente alguém vai proteger os mexicanos das cóboiadas dementes de quem partilha com eles a fronteira. Por isso, não admira que queiram realmente pagar a construção dessa Grande Muralha do México. A propósito, achas que podes construir uma na Costa Leste?

Obrigado também por alguém finalmente nos deixar descansados quanto a esta chatice do aquecimento global, porque sinceramente estava a ser um esforço demasiado inglório limitar as viagens de carro, o consumo em geral ou mesmo ter de procurar um caixote do lixo. Sobretudo quando existem por aí tantos emigrantes sem nada para fazer que podem tratar disso por nós.

E falando em emigrantes, obrigado por resolveres esse problema, porque não deve haver maior especialista no assunto do que alguém que provém de um país fundado exclusivamente por emigrantes que perpetuaram um dos maiores genocídios da história, especialmente alguém que descende deles. Tanta circulação de pessoas estava realmente a ser demais, chega um dia em que tem de se dizer “basta”. Basta de gajos com aspecto e nomes esquisitos que só querem aproveitar-se do que a América tem de melhor e que acabam por destruir a economia e o prestígio desse grande país. Por isso toca a andar, Mark Zuckerberg, Rupert Murdoch, Arnold Schwarzenegger e Pamela Anderson, voltem lá para os vossos países porque na América só há lugar para americanos verdadeiros, mesmo que seja em casinos e reservas.

Também queremos agradecer por nos deixares claro que qualquer árabe é um terrorista, porque na verdade já estávamos a desconfiar de tantos kebabs, restaurantes indianos e paquistaneses e lojas de esquina. Assim é melhor, porque cada país pode dedicar-se à sua gastronomia e na América só haverá verdadeira comida americana como hamburgers, cachorros-quentes, donuts, refrigerantes e marshmallows. Certamente que sem muçulmanos por aí, vão terminar todos esses massacres em igrejas, liceus e centros comerciais e vão poder andar na rua descansados com as suas armas nos coldres como nos filmes de John Wayne.

E obviamente, obrigado por nos relembrares o verdadeiro lugar das mulheres, claramente elas sentem-se bastante mais felizes como adornos domésticos e objectos sexuais, afinal basta olhar para a Melania para perceber isso.

E sinceramente, muito obrigado por nos fazeres perceber que às vezes, por muito maus que sejam os nossos políticos, pode haver sempre pior. Isso é certamente um aviso para repensar a democracia como a conhecemos, porque se qualquer criatura tem legitimidade para ser eleita, é porque o nosso sistema está fundamentalmente errado.

Finalmente, obrigado por voltares a tornar grande aquele "look" clássico do careca em negação que faz a ponte capilar entre uma orelha e a outra.

Obrigado por tudo Donald e Deus abençoe a América que ela certamente vai precisar.

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