A luta pela classe média

Se a classe média é a nova classe dominante na nossa sociedade, e se todo o debate político parece estar focado na sua protecção e recuperação, é necessário questionar porque é que existe uma tendência tão popular para acreditar que a política em Portugal favorece os mais ricos

Foto
Unsplash/ Pixabay

Quem quiser perceber qual é a percepção da população sobre o panorama político actual deve apenas passar algumas horas nos transportes públicos. O afastamento dos cidadãos da política é uma evidência nesses momentos, devido à crescente tendência para acreditarem que todos os partidos são iguais, e de que não importa qual deles governa o país, pois vão sempre defender os mais ricos. Será esta percepção real? Parece-me existir aqui um paradoxo, dado que todo o discurso político actual parece estar focado em proteger e ajudar o desenvolvimento da classe média.

Apesar das suas raízes no pós-segunda Guerra Mundial, o termo de "classe média" é hoje em dia extremamente difícil de se definir, pelo que não o tentarei fazer. Vou, no entanto, explorar duas afirmações que me parecem ser verdadeiras. A primeira é a de que a "classe média" é a classe social que mais pessoas abrange em muitas sociedades democráticas. Se aceitarmos esta afirmação, chegamos a outra conclusão: a classe média é a classe com maior representação política na maioria das sociedades democráticas.

A lógica desta afirmação prende-se com um argumento que se baseia no poder de influência das classes. A população das classes mais ricas tem uma elevada capacidade de influência, mas, sendo uma minoria, não consegue eleger os seus representantes com facilidade. Do lado oposto, a classe mais pobre da sociedade não só não tem qualquer capital político para conseguir exercer a sua influência, como também é uma minoria, pelo que dificilmente conseguirá eleger os seus representantes. A classe média tem o capital político para conseguir uma elevada capacidade de influência e representa uma grande parte da população, estando assim em grande vantagem para eleger os seus representantes.

Em 1970, George Stigler fez uma observação num ensaio que escreveu, dizendo que toda a despesa pública é feita para o benefício da classe média. Esta observação ficou conhecida como "director's law", nome dado em homenagem a Aaron Director. A observação de Stigler surge do pensamento de que a classe média é a classe com maior poder político nas sociedades democráticas e, como tal, esse poder político acaba, normalmente, por se traduzir a seu favor.

Se, de facto, a classe média é a nova classe dominante na nossa sociedade e se, de facto, todo o debate político parece estar focado na sua protecção e recuperação, independentemente do sucesso ou não deste esforço, é necessário questionar porque é que existe uma tendência tão popular para acreditar que a política em Portugal favorece os mais ricos. Está, a meu ver, na altura de se lutar para que a classe média de Portugal acredite novamente na política. 

Sugerir correcção
Comentar