Os cães não merecem viver na rua

O Papa sublinhou a indiferença geral das pessoas “para com o vizinho em dificuldades“ em detrimento dos “cachorrinhos lindos“. Perante argumentos tão alarves dos defensores dos direitos dos animais, nada mais posso fazer para além de dar razão ao Papa

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Irasiadd/Pixabay

O grupo brasileiro “Porta dos Fundos“ tem um “sketch“ onde uma senhora “bem posta“ admoesta um mendigo cujo “cachorrinho lindo“ pouco mais tem por cama para além de um “papelão nojento“, acabando a senhora “bem posta“ por dar todo o seu dinheiro ao mendigo para que o mesmo compre uma “caminha linda“ e comida "gourmet" para o “cachorrinho“. “Pet cuisine“, diz ela, “e agora repita, para eu ver se você entendeu“ e, ele, boquiaberto, “pet cuisine“. O “sketch“ termina com a senhora a perguntar “Como é que você está?“, sendo o mendigo imediatamente repreendido por abrir a boca uma vez que a dita senhora não está a falar com ele, mas com o “cachorrinho lindo“.

E porque o Papa também anda pelo “Face“ (sim, não são só vocês, o Papa é alguém realmente importante, “selfies“ não lhe faltam e viaja como poucos), no passado sábado o Papa limitou-se a sublinhar, num tom mais sério, a crítica supracitada mais a indiferença geral das pessoas “para com o vizinho em dificuldades“ em detrimento dos “cachorrinhos lindos“, os quais em conjunto com gatinhos lindos, periquitos lindos e demais bichinhos lindos, diariamente fazem furor nas redes sociais para estupidificação geral.

Imediatamente choveram as críticas um pouco por todo o Portugal: porque quem maltrata os animais não merece compaixão, porque os animais têm tantos direitos como as pessoas, porque os animais não têm como se defender, porque se um vizinho em dificuldade fizer mal aos animais não merece ajuda, porque “o meu vizinho é um animal“ e quem critica quem ajuda os animais “é incapaz de estender a mão seja a quem for“, porque os animais “não são traidores nem são invejosos, gananciosos como as pessoas“, porque “eu prefiro ajudar os animais e só levo coices dos vizinhos“, porque alguns vizinhos “merecem ser abatidos“ e “eu prefiro ajudar animais porque eles são puros de coração“, porque o “vizinho só passa fome se quiser“, “eu quero é que o vizinho se f***“ e "eu já tive vizinhos que roubam e os animais não“.

Infelizmente, e perante argumentos tão alarves, com direitos dos animais ou sem eles, nada mais posso fazer para além de dar razão ao Papa e desejar-lhe toda a sorte do mundo. Vai precisar.

No fim acrescento a seguinte citação, também, e felizmente, presente na imensidade de comentários que conspurcam este nosso Portugal, e porque a excepção confirma a regra:

"Esta vida está perdida

Este mundo é o que se vê

Tratam-se os velhos por tu

E os cãezinhos por você"

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