Despidos num jogo de ping-pong

Andamos feitos bolas de ping-pong: de entidade em entidade, papel em papel, a gastar o único dinheiro que temos (os afortunados) disponível: o dos nossos pais, para, no final ganhar, uma experiência de nove meses e voltar à estaca zero

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Não há nada mais eficaz do que deixar de ter as costas quentes para nos apercebermos do quão facilmente somos enganados e iludidos por uma ideia que nos fez tantas vezes acordar de manhã e pensar: é desta!

Falo de mim e da experiência que tenho vivido nos útimos meses. Desde que me conheço como gente que anseio a liberdade e autonomia, fazer uma coisa num dia e outra completamente oposta no dia seguinte, sem ter que dar satisfações a ninguém. Por alguma razão fui apelidada de Catarina Variações durante tanto tempo.

Com o passar dos anos, a vida foi-me ensinando a manter os pés mais assentes na terra. Apercebi-me da força daquilo que nos é imposto pela sociedade e do que é passível de ser contornado e do que não é. O caminho a percorrer foi e ainda é longo. Mas agora, agora sou constantemente invadida por uma enorme revolta face às ditas oportunidades (é assim que lhes chamam) que nos são dadas, a nós jovens que queremos trabalhar e ser reconhecidos por isso.

Apareceram os estágios profissionais que, a meu ver, nada mais são do que poeira que é atirada para os olhos de quem vive na expectativa de arranjar o primeiro emprego, de receber o primeiro salário e de uma hipótese de vingar no mundo do trabalho.

Procuramos uma liberdade que nos é esfregada na cara, liberdade essa que não passa de uma utopia carente da autonomia necessária para que dela possamos usufruir. Andamos feitos bolas de ping-pong: de entidade em entidade, papel em papel, a gastar o único dinheiro que temos (os afortunados) disponível: o dos nossos pais, para, no final ganhar, uma experiência de nove meses e voltar à estaca zero.

Estamos despidos de dignidade e, não tarda muito, do resto também. E não podemos continuar a permitir que isto aconteça. Aquilo a que cada um se dedica tem valor e é isso que temos que fazer ver a quem nos continua a atirar areia para os olhos.

Eu pergunto-me: até quando é que isto vai durar? Quantos mais vão ter que se pôr a andar daqui para fora para que possa construir um caminho sustentável para eles e para os seus? Já vi muitos partir em busca de algo melhor, algo que lhes permita pôr comida na mesa e pagar contas. Se isto continuar assim, a próxima serei eu.

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